Carros de som, programas exuberantes na
rádio e na televisão, santinhos, santinhos e mais santinhos (na verdade, pelo
trabalho, competência e resultados políticos apresentados nos últimos tempos
deveriam se chamar diabinhos, seria mais honesto), mensagens SMS, e-mails,
aperto de mãos, beijos em crianças, lágrimas, abraços suados e “sinceros” no
povão, muita gente boa e cheia de ideias por um mundo melhor... Oba! É tempo de
escolher e votar! Seja bem-vindo há mais um democrático, belíssimo e charmoso
processo eleitoral brasileiro.
É uma verdadeira festa, o que é uma
pena, pois o assunto é sério, determina o desenvolvimento do país, a qualidade
de vida dos cidadãos e deveria ser encarado com mais responsabilidade e atenção
por todos. Ao invés de aplaudirmos, gritarmos e darmos vitrines para nossos
políticos, deveríamos direcionar-lhes olhares sérios, desconfiança, plena
vigilância e muita cobrança por bons exemplos e resultados. Afinal de contas, vossos
salários são pagos com nossos impostos.
O Brasil é um belo país, frase piegas,
mas verdadeira. De natureza exuberante, cultura efervescente, vastas riquezas e
um potencial enorme para tornar-se uma nação de verdade. Mas possui o dom
trágico de insistir em não se consertar, em ser uma piada, e das mal contadas
por sinal. Quando aparece bem na foto, geralmente é maquiagem para inglês ver e,
até tem conseguido algum progresso, apesar dos políticos que possui (não
generalizando, mas a maioria é inapropriada para a grandeza da pátria sim) e
dos sistemas de gestão pública estabelecidos.
O que vou falar abaixo pode ser
considerado uma grande besteira, é uma utopia das bravas e nem em 1.000 anos haverá
a menor possibilidade de concretizar-se. Precisaria de muita vontade, diálogo,
averiguação e bom senso político. São questões radicais, polêmicas, seriam
necessárias novas leis, até de uma nova constituição, o que é extremamente
complexo e praticamente impossível... Portanto, não é uma proposta, são apenas
devaneios. Ainda é permitido usufruir da imaginação e é justamente isso que
estamos fazendo... Estamos sonhando, e é bom sonhar, principalmente em tempos
áridos. Digamos que os sonhos tornam a vida real suportável.
Então vamos lá, no melhor estilo
ufanista Policarpo Quaresma, esperando não alcançar um “triste fim” como no
clássico livro, vamos criar novas e inventivas regras para o processo eleitoral
brasileiro para, na medida do possível, tentar coroar regentes mais apropriados:
Acabar
com o voto obrigatório – Todos tem o direito ao voto, mas
que não sejam obrigados, nem mesmo a justificar. Que saia de casa para votar
somente quem estiver determinado, informado e conscientizado. Que vá votar
apenas quem, depois das eleições, se dê ao trabalho de fiscalizar seus
candidatos. Que a massa de manobra desinformada, e que muitas vezes acaba
decidindo as eleições, fique em casa e não interfira das decisões sérias do
país por uma obrigação legal ou direcionada por campanhas sedutoras.
Acabar
com a produção publicitária – Infelizmente, a classe de
colegas publicitários deve estar me odiando nesse momento, mas é apenas uma
opinião ilusória, um ensaio ficcional. Lembram? É necessário subtrair o clima de
entretenimento das campanhas políticas. Os candidatos terão espaço nas rádios e
na televisão mas, sem interlocutores, sem músicas ou recursos de edições de
imagem, apenas eles, para falarem sobre suas propostas e debaterem entre si.
Outra grande vantagem dessa medida é o
sepultamento dos gingles (músicas) engraçadinhos, onde pegam as piores músicas
da sociedade, colocam umas letras com promessas falsas em cima e passam
poluindo as ruas e os ouvidos da sofrida população. Sem contar a gigantesca
economia de recursos sem produção de campanhas.
Promessas
registradas em cartório - Sob pena de punição para o não
cumprimento. Tem candidato que “viaja” mais em suas propostas do que eu
escrevendo este texto. Como nossos avós diziam: tá na hora de honrar a palavra,
nem que seja pela força. Propaganda enganosa é crime.
Titulação
mínima para candidatos – Vereadores precisariam pelo
menos possuir curso de nível superior presencial e uma pós-graduação para
obterem o direito de candidatar-se para uma vaga na Câmara. Vai resolver o baixo
nível dos vereadores no país: não, mas vai melhorar e muito, vai valorizar a
educação e vai limitar os aproveitadores, os palhaços, as dançarinas e as “pseudo-celebridades”
de se candidatarem. Para os demais cargos a exigência deve ser ainda maior.
Política não se mistura com religião – São duas poderosas forças, cada uma com o seu papel na sociedade. O estado é laico e deve tratar a todos os cidadãos igualmente e a história da humanidade comprova, grandes barbáries foram cometidas quando política e religião foram atreladas de maneira radical. Políticos não deveriam citar suas predileções religiosas e os grupos religiosos não deveriam jamais organizar reuniões ou demonstrarem apoio a qualquer candidato.
Prova
de qualificação para a gestão pública – Quem se forma em
Direito não tem que fazer a Prova da OAB? Então, quem almeja um cargo político
também deveria passar por uma rígida avaliação, comprovando que entende de
legislação, de gestão pública, de captação de verba, de projetos e que possuiu
informação e visão científica sobre os problemas que assolam a nação.
Equiparar
desvio de verbas públicas a crime de assassinato – Regra
simples, radical e direta.
Salários
justos – Um vereador jamais poderá possuir um salário maior
do que os professores municipais. Acabar com as mordomias afastaria os
aproveitadores.
Estes são alguns “insanos” pensamentos
por um Brasil melhor. São utopias, mas podem ser uma boa reflexão.
Aos Prefeitos e Vereadores recém eleitos
desejamos saúde, inteligência e paz de espírito para que consigam dar ao povo o
respeito e o trabalho merecido. Esperamos, sinceramente, poder escrever textos
mais engrandecedores sobre o legado da nova geração política daqui há quatro
anos. Para nós, simples cidadãos mortais que aqui estamos, sobrevivendo em meio
ao caos, desejamos sorte para os dias que vem.