sexta-feira, 28 de junho de 2013

Hora da justiça



Você pode até se julgar melhor
Ou ser apenas mais um cego
Meu nome é humano, sou teu irmão 
E não tenho nada a perder

Sou o subproduto da tua incompetência
Da tua ignorância
Sou o canibal pós-moderno
A experiência que deu errado
A sua maior criação
Eu sou o pesadelo
Eu sou o nada
Eu sou o fim... 
Reze para que meu nome nunca seja Revolução

Deitado na pedra fria
Roupas velhas, corpo sujo... Você já estaria chorando
Mas a vida é menos dura para quem está acostumado
Ainda mais quando o pensamento voa longe
Meu delirante e fugaz mundo imaginário
Que sua alienação não pode tocar
Agora preciso voltar
Porque preciso de mais um gole

Hey você que nunca me vê
Talvez um dia a gente possa se encontrar
Então a verdadeira revolução vai acontecer
A hora da justiça vai chegar

Um instante do teu pavor
Por minha vida de desgraça... Isso sim é justiça
Pulso como um câncer na tua fábula encantada
Sou o mofo do pão da tua família mentira de margarina
Alimente seus peixes e seja devorado pelo teu irmão
Já revirei lixos
Já revirei mundos 
E já revirei tuas entranhas
Agora preciso voltar
Porque preciso de mais um gole

Hey você que nunca me vê
Talvez um dia a gente possa se encontrar
Então a verdadeira revolução vai acontecer
A hora da justiça vai chegar

Todo mundo sangra... Todo mundo sente dor... Todo mundo fede... E todos vão morrer no fim. 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Matreiro



É cada um por si, escolha suas armas
Aprenda rápido e não confie em ninguém
O senhor do tempo forja almas em aço
Não tema a morte e comece de uma vez

Vague pela penumbra com cores opacas
E dispare a vontade para sobreviver
Não esqueça que todo o blefe é furado
Se você entrar no jogo terá que ir até o fim

Cães vagueiam farejando sangue morno
Quando o sol cai é preciso ficar mais esperto
A meia-noite acorda o açougueiro
Que recolhe os restos daqueles que ousam sonhar

Finja ser uma engrenagem do sistema
Porque a velha matilha continua no poder
Acalme seus nervos
Amarre os impulsos
Seja matreiro
Sobreviva
Vague como um fantasma e dê o bote certeiro

Seja bem-vindo a uma terra sem lei
O terreno é hostil
E eles não gostam de você

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Então você é rebelde?





Ahhh... Então você vai no protesto amanhã?

Mas diga aí:

Você adora música de péssima qualidade com letras de consumismo, sexo e depreciação da mulher?

Você assiste novela, futebol, BBB e programas de domingo na TV?

Você gosta de conversar sobre fofocas de famosos e da vida dos outros?

Para você ídolos nacionais são Neymar, Mr. Catra, Anitta, Gustavo Lima e Ivete Sangalo?

Você não gosta de ler?

Você vive fazendo piadinha de tudo, mas não tem responsabilidade com nada?

Você aplaude e puxa o saco de políticos, ao invés de cobrá-los, quando está na presença deles?

Sinto muito, mas antes de querer mudar o Brasil, quem tem que mudar é você.


Não viva só mais uma modinha. Invista na sua intelectualidade, na sua autonomia, molde sua personalidade... Informe-se, leia mais, invista no seu desenvolvimento cultural, pratique o bem, respeite as normas do convívio em grupo e posicione-se contra o que é errado.

Consumo




Para escutar:

Consumo - Centavos (New Album: Terapia Frege 2011)


sexta-feira, 14 de junho de 2013

Gratificante


Uma palavra
Um aperto de mão
Gentilezas
Formalidades em vão

Já te enganaram
Você já enganou
E agora finge tão bem
Humanamente bem

É muito mais gratificante falar mal das pessoas
Eu se pudesse só falaria mal

Você já comprou
Ilusões
Criou utopias
E quis um mundo melhor

Então você cresce
Vai trabalhar
E vende o melhor amigo
Para poder almoçar

É muito mais gratificante falar mal das pessoas
Eu se pudesse só falaria mal

Novela e moda
Fiel torcedor
Balada e sucesso
Te fazem tão bem

E segue sozinho
Alimenta os cães
Queima charutos, bebe champagne
E se sente tão bem

É muito mais gratificante falar mal das pessoas
Eu se pudesse só falaria mal


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Sem poesia a vida não vale a pena



     Será que pegamos o caminho errado em algum trecho da história?
Ironicamente poderíamos afirmar que a série The Walking Dead é um sucesso porque o apocalipse zumbi já começou e as pessoas ainda não perceberam. Vivemos acordados na ilusão, narcotizados pelo entretenimento, pelo humor, pelo sexo e pelo consumo absurdo. Idolatramos o pior de nossa cultura, os conteúdos mais rasteiros e ignoramos nossa potencialidade intelectual.
     Que morra na míngua, sem visibilidade e sem dinheiro, todo aquele que ousar pensar e criar arte, beleza e formas de desenvolvimento coletivo e igualitário. Vamos exaltar os corruptos, os bonitos e os idiotas. Estamos sob o efeito da anestesiante pílula azul da “Matrix capital”¹. No filme a pílula vermelha permitiria acordar da alienação, da escravidão, e saber “até onde vai à toca do coelho”², mas não queremos provar da dolorosa realidade. A verdade machuca, preocupa, nos obrigaria a lutar por mudanças e não queremos levantar da poltrona. Não entendemos a realidade e nos condicionamos a viver o melhor de uma falsa paz, ou o pior, dos Simulacros e Simulações³ de Jean Baudrillard.
     Quando somos tocados por um sopro de sensibilidade e decidimos abrir os olhos e espiar por uma fresta da cortina do destino, visualizamos que são tempos duros, de inversão de valores e dormimos assustados. Sabemos que a situação atual é cruel e sabemos que ainda pode piorar. Creio que a maioria só perceberá o caos que estamos criando quando a eletricidade cair e a luz da tela do computador e dos televisores parar de bater em seus rostos.
     Trabalhamos tanto que não temos mais tempo para viver. E se não trabalharmos seremos arrasados pelas contas que temos de pagar. Boa parte do pouco tempo que sobra gastamos assistindo televisão, consumindo álcool ou perseguindo a balada perfeita. Consumimos roupas, comida, políticos, cantores, religiões, futebol... Geramos riquezas e poder para mídia e seus financiadores e em troca nos tornamos ocos e viramos massa de manobra.
     Celular, skype, redes sociais... Nos comunicamos tanto que não nos comunicamos mais. Desperdiçamos tempo, desperdiçamos vida. Não agimos coletivamente, não amamos o próximo, preferimos mais conforto e poder de compra do que um mundo equilibrado entre homens e natureza. Somos nocivos ao planeta e nocivos a nós mesmos. Caminhamos juntos com os mesmos passos incertos.
     É a era do “tudo junto e misturado” e ao mesmo tempo a era do nada. Hoje é possível agir com vulgaridade numa festa e publicar fotos sensuais no Facebook com frases como “O Senhor é minha fortaleza” ou “Muita fé e Deus no coração”, bem como assistimos cantores sertanejos/funkeiros que depreciam a mulher, estimulam o alcoolismo, a promiscuidade e agradecem a Deus no intervalo das músicas. “Pode isso Arnaldo?” Particularmente, considero um tremendo desrespeito, um sacrilégio com a essência da fé. Nada precisa fazer sentido. Hoje em dia você só precisa parecer ser do bem.
     A educação nacional é um fiasco, as livrarias fecham ou passam a vender apenas futilidades, os cinemas não passam mais filmes de arte, as rádios, por audiência, só tocam o que há de pior e a televisão é grande máquina destruidora de mentes e sonhos. Algumas religiões radicais e absurdas se cercam de ignorantes e ganham poder, as pessoas estão cada vez mais frias, consumistas, a natureza clama por socorro e a política nacional é uma piada. O cerco está se fechando, o cenário apocalíptico está desenhado e não invente de questionar o sistema ou correrá um sério risco de ser queimado na fogueira.
     Morremos de rir com o gordo rico que emagrece, com o silicone bizarro na bunda da passista, com os barracos dos famosos, com a queda do cantor pseudoartista, com a pegadinha na TV que humilha o excluído senhor da periferia, com a letra esdrúxula do novo funk... Morremos de rir. Desmanchamos culturas, não criamos valores positivos, não investimos no desenvolvimento de nossa civilização, perdemos a capacidade de nos emocionarmos com a arte e de valorizar pessoas que são grandes por suas atitudes.
     Sejamos técnicos: nossa prioridade precisa ser a educação e o senso de coletividade ou nada vai mudar.
     Sejamos humanos: sem amor, sem sonho e sem poesia a vida não vale a pena.

*¹ Matrix – Filme dirigido pelos irmãos Wachowski. Aborda um futuro fictício onde as pessoas são escravizadas sem perceberem, pois suas consciências são mantidas numa realidade artificial.
*² Frase citada no filme Matrix, inspirada no livro Alice no País das Maravilhas. Remete a mergulhar no desconhecido.
*³ Simulacros e Simulações – teoria do filósofo Jean Baudrillard que afirma que não vivemos a realidade e sim uma simulação dela sem percebermos, pois estamos alienados pelo sistema que nos cerca.