Pois então meus caros, não foi desta
vez!
Comemorávamos, achávamos que finalmente
nosso país sairia do buraco e se tornaria uma nação de verdade. Digna e
imponente. Visualizávamos a economia crescendo, políticas sociais melhorando a
vida das pessoas, números positivos nos telejornais... Existiam problemas sim,
graves problemas, mas havia esperança e coisas boas estavam acontecendo,
gerando oportunidades para todos e, aparentemente, quebrando velhos paradigmas.
Brotava uma ponta de orgulho no
machucado coração verde-amarelo. Sentíamos que iríamos mudar e construir uma
nação melhor. Mas a vida é dura e pune os mais fracos.
Tudo não passava de uma ilusão e a
realidade atual é um pesadelo. É como se
acordássemos sozinhos e desamparados num lugar estranho e muito perigoso. A
impressão é de que "somente quem se corrompe se dá bem". É preciso
apodrecer a alma, laquear o amor e esmagar pessoas sem piedade, desenvolver
indiferença ao sofrimento alheio e explorar o semelhante e o meio ambiente para
alcançar sucesso e riquezas. Aqui os coiotes tem vez. Escutei por aí: “Não
estamos conseguindo encontrar uma luz no fim do túnel e nem sabemos mais onde
está o túnel”.
A cada dia somos surpreendidos por
notícias e constatações devastadoras: reduzem a verba da educação, aumento de
salários de parlamentares, de juízes, aumento da verba dos partidos, surrupiam
direitos dos aposentados, lei da terceirização, complicam regras para adquirir
imóveis, benefícios para mega empresários, salários achatados, inflação voltou,
juros altos, população perdendo capacidade de consumo, religiões fajutas e seus
representantes medievais, endividamento, meio ambiente avassalado, falta de
água, professores massacrados pela polícia, policiais que não agridem pelo
sistema sendo presos, um monte de gente despreparada coordenando setores
importantes e ocupando cargos públicos só porque ajudou nas eleições, ajustes
fiscais que só cortam na carne do povo, enquanto a classe dominante e os
políticos continuam com exagerados privilégios. Uma pesquisa recente, que
avaliou questões como sustentabilidade, educação e tecnologia colocou o país na
84ª posição (weforum-2015), atestando que o futuro também não será fácil. E
ainda acham que debater maioridade penal e beijo gay em novelas é a solução dos
problemas.
É importante ressaltar também que nossa
imprensa não é nenhum anjinho. O jornalismo convencional ou através das mídias
sociais é tendencioso e hipócrita. Muitas notícias são ampliadas, minimizadas
ou ocultadas para gerar paz para alguns setores e prejuízos para outros. A
imprensa não cumpre um papel social e sim representa ou uma ideologia ou seus
patrocinadores. Não se pode generalizar, mas grande parte dos conteúdos que
chegam até nós estão contaminados por interesses dominantes de tal maneira que
já nem mais sabemos o que é coerente ou invenção.
Uma das palavras da moda é o tal do
Impeachment. Mas, sinceramente, não culpo a atual Presidenta, ela faz parte do
problema, mas não consolidou a situação sozinha. Nós é que temos esta mania de
malhar um Judas, de querer achar um culpado que sirva de vaso sanitário das
nossas raivas e frustrações. Acreditamos tolamente que linchar alguém resolve o
problema. A oposição de hoje, que está toda valente defendendo a ética e os
bons costumes, até ontem estava junto neste “projeto de poder”, desfrutando de
suas vantagens e contribuindo com a situação atual. Está batendo agora porque
não porque quer mudanças e o melhor para o povo, mas porque deseja ditar as
regras do jogo.
Não temos homens e mulheres em nossa
política, temos uma matilha. Salvo raríssimas exceções, são monstros que
mereciam ser cuspidos pelas ruas. Observamos apáticos nomes intragáveis nos
cargos mais importantes do Senado, STF, Câmara de Deputados, Governos,
Prefeituras e Vereadores. Escolha a escala, de municipal a federal, e comece a
chorar.
O pior de tudo é que os políticos, com
sua luta pelo poder, conseguiram influenciar, dividir o país e desviar o foco
de atenção da população dos verdadeiros problemas (reforma política,
distribuição de renda, impunidade, educação...). Nos reduziram a discursadores
coxinhas ou bolivarianos que ficam por aí brigando de forma ridícula, no melhor
estilo torcida de futebol.
O sociólogo espanhol Manuel Castells, em
entrevista recente, sugeriu dissolver todo o Congresso Nacional e dar lugar a
uma Assembléia Constituinte. “O grande problema do Brasil não é econômico, mas
político. Se não for mudado o sistema político, a esperança de mudança se
converterá em raiva coletiva e cinismo”.
Políticos assumiram um aspecto
repugnante e nos tornamos um país excelente para os sujeitos de má índole.
Exalamos falsidades de homens e mulheres "de bem" que fazem promessas
na televisão e ganham prêmios de reconhecimento. Somos uma nação de mentiras.
Mas é imperativo que assumamos nossa parcela de culpa: somos ignorantes
sociais, muitas vezes mesquinhos, cegos pelos próprios interesses, não nos
posicionamos de forma coletiva e humanizada, não fomentamos uma sociedade
justa, sustentável, humanizada e somos
nós que colocamos essas pessoas no poder.
Você também não está achando o momento
muito confuso? Assustadoramente confuso. Dizem que antes da tempestade vem a
bonança. Assim espero. Pois deste cenário nefasto ou emana uma sociedade melhor
ou caíremos em total desgraça.
Sabemos que tem gente torcendo para dar
errado, que o caos gera dinheiro e oportunidades para malandros e
aproveitadores. Essa gente ruim está adorando o momento que atravessamos. Vão
se esbaldar como urubus.
Temos um país que é uma vergonha
internacional em muitos sentidos. Não pela simplicidade ou culturas peculiares,
pois este é um fator relativo e pessoas podem viver muito bem de formas
diferentes, mas pela corrupção, pela falta de ética e pela incompetência em
organizar-se.
Temos dinheiro, somos gigantes, mas
somos fracos e apavorados. Não conseguimos correr na direção correta do
desenvolvimento. Nos sentimos perdidos, falamos e fazemos besteiras porque
estamos acuados e com medo do futuro.
Queremos um Brasil melhor e vamos continuar trabalhando, fazendo a
nossa parte. Eu, pelo menos, apesar das adversidades, vou tentar. Mas enquanto
não mudarmos a essência de nossos pensamentos, vamos continuar neste cabo de
guerra em que todos perdem.
Nem todos. Eles, lá em cima, continuarão
ganhando.