quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A bagaceira tomou o poder e transformou mulheres em coisas







A bagaceira tomou o poder e transformou mulheres em coisas

No Rio Grande do Sul, um vídeo vazou na internet contendo relações sexuais envolvendo uma menina de apenas 11 anos de idade. Em São Paulo surgiu outro vídeo de uma orgia com cinco rapazes e uma menina de 15 anos. Em Santa Catarina, três jovens estupram uma menor de idade em meio a uma festa, filmaram o ato violento e divulgaram na internet. Jovens começam a paquerar enviando vídeos pelo celular em que aparecem mantendo relações sexuais. Isso, apenas citando alguns acontecimentos recentes, que vêm se tornando rotina, demonstrando a banalização do sexo, da afetividade e a vulgarização da imagem da mulher. Em nossa região o número de adolescentes grávidas e também o número de casos de AIDS já é bastante preocupante. Tudo está relacionado e fica a pergunta: O que está acontecendo?
Muitas campanhas são realizadas sobre prevenção sexual, mas não se fala em nenhum momento de prevenção cultural, a verdadeira raiz de todo o problema.
Para vender produtos, garantir altos índices de audiência e fazer a máquina do consumo girar utilizam mulheres que devem ser apenas “gostosas para sempre”, “a boa”. É o culto ao sexo e ao corpo, onde a personalidade feminina não é mais relevante, desde que esteticamente essa mulher seja atraente e provocante. Aliás, com o perdão da palavra, a “bunda” hoje foi promovida a instrumento de ascensão social.  Funkeiras e atrizes pornôs tornam-se ícones da sociedade, objetos máximos do desejo masculino e modelos da “mulher ideal”. Cria-se um fetishe de puro prazer e submissão. Permitiram que uma cultura machista de botequim começasse a imperar na sociedade e o pior, inspirar nas crianças o desejo de ser apenas um “siliconada” do futuro.
“Popozuda”, “potranca”, “cachorra” ou “piriguete.”
Alguns pseudo-artistas depreciam com suas rimas pobres a imagem da mulher e tem seu sucesso impulsionado por essas mesma mulheres que simplesmente não valorizam sua condição de mulher. Elas dançam e compram essa idéia proclamada em sua música. Aceitar ser rebaixada a tanto, com um sorriso no rosto, só para seguir o embalo do sucesso do momento, é não possuir amor próprio, pois fomenta uma cultura que transforma a mulher numa coisa que não merece ser respeitada.
O homem, da mesma forma, é estimulado a ser o esperto, o macho alfa, com mais dinheiro e poder possível para liderar o bando e seu território. Perde o interesse por maiores envolvimentos emocionais, pois é estimulado a supervalorizar o corpo e a buscar momentos esporádicos de prazer com o maior número de parceiras possível. Por que respeitar uma “piriguete”? Ele deve mesmo é mentir pra ela que vai pescar, quando realmente vai para a farra, porque lá “vai ter sete pra cada homem”, como proclama orgulhosa a letra de um sucesso recente.
Danças que simulam o ato sexual, novelas e programas humorísticos que usam o sexo e o preconceito como o elemento forte de suas narrativas... Tudo isso ao alcance de uma população com pouco acesso à educação decente. Perde-se o respeito e o cuidado pela alma feminina. E se a mulher virou simplesmente uma coisa, um objeto, então o sujeito pode usar, brincar e jogar fora, inclusive, praticando violência física, psicológica ou simbólica.
Formou-se uma grande sociedade cabaré, num gigantesco retrocesso que ecoa de um Brasil carente de investimentos culturais e de valores que sejam positivos para a formação de uma cidadania mais justa e consistente. Essa miséria moral e intelectual está deixando marcas profundas e irremediáveis na geração jovem de hoje e torna-se angustiante pensar no que o futuro ainda pode reservar.
Use camisinha, mas fique a mercê de conteúdos alienantes e sexistas da mídia. Essa é a grande armadilha. Estes conteúdos estão impregnados em todos os espaços sociais, portanto a proibição torna-se inútil, resta apenas desenvolver a seletividade dos conteúdos culturais que chegam até você, desenvolver o pensamento crítico-reflexivo, a inteligência emocional e torcer por um futuro melhor... Hoje eu vou fazer a minha parte, é o que posso fazer por hora, vou ler um bom livro, pensar na vida e continuar defendendo o meu posicionamento sobre essa questão.

"Não dá para prever em que adulto a criança vai se transformar quando recebe informação antes do tempo, quando é erotizada precocemente. Ela pode se assustar e ter relacionamentos fracassados. Pode ainda fingir que entende tudo e levar isso para a vida adulta, transformando-se numa pessoa desorientada.
                                                              Rosane Signes - Psicanalista


"A criança fica com uma visão pobre da sexualidade. O que me assusta não é o erotismo barato da televisão, mas a exclusividade que se dá a esse tema na programação. E essa erotização não é passada de uma maneira afetiva. Pelo contrário, é agressiva. O sexo na tevê parece essencial e inadiável. Se os pais não contrabalançarem com críticas, podem atrofiar na criança valores ligados à sua afetividade. A tevê faz parte da cultura. O que é preciso é mostrar que o valor daquilo que se vê é ruim."
                                                                     Yves de la Taille - Psicólogo


Fonte dos comentários: Revista época http://www.terra.com.br/istoe/comport/143409.htm

Publicado em 2009 no Jornal Gerador do ITPAC.

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