domingo, 27 de novembro de 2011

Em 2012 o mundo vai acabar?



Em 2012 o mundo vai acabar?
Talvez ele devesse mesmo.

Autor: Marcelo Trilha



As palavras são radicais, mas esta é apenas uma crônica reflexiva.

Não recordo se foi através de um blog, piada de um amigo ou TV, mas escutei estes dias que o fim do mundo estava próximo, e não estavam se referindo a previsões de Nostradamus ou dos povos maias, bastava prestar atenção nos sinais do cotidiano: Faustão magro, Silvio Santos com dificuldades financeiras, Sandy garota propaganda da cerveja (e dando tórridas declarações sobre práticas sexuais ousadas), Rock in Rio quase sem rock... E até aqui é só humor ou futilidades, mas a coisa vai ficando pior: Ronaldo Gaúcho recebendo medalha da Acadêmica Brasileira de Letras (lembrando que o Sarney já faz parte desse seleto grupo e que o poeta Mário Quintana jamais foi convidado para a Acadêmia), Tiririca no Conselho de Educação, Restart como banda do ano, Mulher Maçã se comparando a Apple e homenageando Steve Jobs, Tonho Croco, artista gaúcho, processado por ter composto um rap que denuncia o aumento de salário de 73% dos Deputados do RS, Collor na Comissão de reforma política, o lambadão cuiabano, Neymar e Luan Santana como os jovens modelos a serem seguidos pelas novas gerações e, ainda, tem a Copa Futebol Palhaçada do Mundo, em que irão nos fazer de idiotas de todas as formas possíveis e nunca seremos tão nacionalistas e felizes.

Seria cômico, se não fosse trágico.

Está tudo invertido, só falta começarmos a fazer necessidades fisiológicas plantando bananeira, declararmos guerra contra o sol, pingarmos limão nos olhos e nos alimentarmos de tijolos. E não estou falando nada absurdo, se alguém influente disser que isso é a “nova onda”, é o “hype do momento”, “que está na moda”... As pessoas vão fazer.

Hoje você não tem que ser bom, você tem que ser pior.

Marqueteiros de plantão aprendam a lição: quanto mais esdrúxulo, quanto mais bizarro, melhor. Sigam o conselho e fiquem ricos. Somos peritos em eleger malandros, incompetentes, em rir de imbecis ou da desgraça alheia e aplaudirmos artistas e celebridades fugazes. Esse é o nosso jeitinho brasileiro e não desistimos nunca.

Não leia bons livros, não escreva poesia, fuja dos papos cabeça, veja muita TV aberta, aceite as injustiças, a corrupção e seja feliz em meio ao caos. Lutar contra a anormal condição da sociedade só servirá para você ficar doente e com fama de louco.

Um amigo me disse esses dias: “Nunca se esqueça: a burrice sempre vence a inteligência. A inteligência tem limite e a burrice não”. É uma frase dessas que a gente lê por aí, na Internet, mas cabe perfeitamente no momento.

No que nos tornamos? Subprodutos acéfalos, manipuláveis, analfabetos funcionais, superficiais, acomodados, ignorantes, maliciosos, individualistas, promíscuos, religiosamente e moralmente hipócritas, alcoólatras, dotados de um humor chulo e perverso e de um gosto cultural duvidoso e baixo. Mas, em contrapartida, possuímos corpos sarados, belos carros e roupas da moda. Isso é ser humano? Esse será o legado de nossa civilização para o futuro?

Sim.

Talvez.

Por nossa sorte, sempre há uma esperança.

Existiram e ainda existem pessoas humanizadas e conscientes. Pessoas extraordinárias, ativistas, artistas, professores e intelectuais que podem fazer a diferença e inspirar homens e mulheres a cultivarem o bem coletivo, a questionarem as injustiças e as incoerências da sociedade. Existem bibliotecas, sebos de livros, de discos, locadoras com filmes clássicos, cult, e tem a Internet, que possibilita acesso ao conhecimento e interliga mentes pensantes, quando não utilizada apenas como elemento de alienação.

Em meus mais utópicos sonhos até vejo um esboço de reação. As pessoas estão cansadas de ficarem apenas assistindo a tudo dos seus sofás. É apatia demais perante os descasos e barbáries da sociedade. Quem sabe, a qualquer momento, a indignação da nação gere movimentações organizadas e intensas por um país melhor. Mas são apenas sonhos.

Alberto Dines, Jorge Amado, Beto Brant, Márcia Tiburi, Fernando Meireles, Marilena Chauí, José Padilha, Hilda Hilst, Augusto dos Anjos, Zeca Baleiro, Almir Sater, Gabriel O Pensador, Criolo, Cássia Eller, Clarice Lispector, Martha Medeiros, Vik Muniz, Felipe Pondé, Céu, Chico Buarque, Caetano Veloso, Mutantes, Luis Fernando Veríssimo, Arnaldo Antunes, Paulo Freire, Carlos Drummond de Andrade, Vitor Ramil, Lobão, Renato Janine Ribeiro, Geraldo Azevedo, Chico Science e todo o pessoal do manguebeat, Milton Nascimento, Machado de Assis, Raul Seixas, Renato Russo, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Mário Quintana e tantos outros brasileiros que lutaram e lutam tão bem.

Somente essa sinergia de artes, pensamentos e educação ainda é capaz de nutrir alguma esperança.

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