quinta-feira, 30 de abril de 2015

O mal venceu o Brasil que sonhávamos



 

Pois então meus caros, não foi desta vez!
Comemorávamos, achávamos que finalmente nosso país sairia do buraco e se tornaria uma nação de verdade. Digna e imponente. Visualizávamos a economia crescendo, políticas sociais melhorando a vida das pessoas, números positivos nos telejornais... Existiam problemas sim, graves problemas, mas havia esperança e coisas boas estavam acontecendo, gerando oportunidades para todos e, aparentemente, quebrando velhos paradigmas.
Brotava uma ponta de orgulho no machucado coração verde-amarelo. Sentíamos que iríamos mudar e construir uma nação melhor. Mas a vida é dura e pune os mais fracos.
Tudo não passava de uma ilusão e a realidade atual é um pesadelo.  É como se acordássemos sozinhos e desamparados num lugar estranho e muito perigoso. A impressão é de que "somente quem se corrompe se dá bem". É preciso apodrecer a alma, laquear o amor e esmagar pessoas sem piedade, desenvolver indiferença ao sofrimento alheio e explorar o semelhante e o meio ambiente para alcançar sucesso e riquezas. Aqui os coiotes tem vez. Escutei por aí: “Não estamos conseguindo encontrar uma luz no fim do túnel e nem sabemos mais onde está o túnel”.
A cada dia somos surpreendidos por notícias e constatações devastadoras: reduzem a verba da educação, aumento de salários de parlamentares, de juízes, aumento da verba dos partidos, surrupiam direitos dos aposentados, lei da terceirização, complicam regras para adquirir imóveis, benefícios para mega empresários, salários achatados, inflação voltou, juros altos, população perdendo capacidade de consumo, religiões fajutas e seus representantes medievais, endividamento, meio ambiente avassalado, falta de água, professores massacrados pela polícia, policiais que não agridem pelo sistema sendo presos, um monte de gente despreparada coordenando setores importantes e ocupando cargos públicos só porque ajudou nas eleições, ajustes fiscais que só cortam na carne do povo, enquanto a classe dominante e os políticos continuam com exagerados privilégios. Uma pesquisa recente, que avaliou questões como sustentabilidade, educação e tecnologia colocou o país na 84ª posição (weforum-2015), atestando que o futuro também não será fácil. E ainda acham que debater maioridade penal e beijo gay em novelas é a solução dos problemas.
É importante ressaltar também que nossa imprensa não é nenhum anjinho. O jornalismo convencional ou através das mídias sociais é tendencioso e hipócrita. Muitas notícias são ampliadas, minimizadas ou ocultadas para gerar paz para alguns setores e prejuízos para outros. A imprensa não cumpre um papel social e sim representa ou uma ideologia ou seus patrocinadores. Não se pode generalizar, mas grande parte dos conteúdos que chegam até nós estão contaminados por interesses dominantes de tal maneira que já nem mais sabemos o que é coerente ou invenção.
Uma das palavras da moda é o tal do Impeachment. Mas, sinceramente, não culpo a atual Presidenta, ela faz parte do problema, mas não consolidou a situação sozinha. Nós é que temos esta mania de malhar um Judas, de querer achar um culpado que sirva de vaso sanitário das nossas raivas e frustrações. Acreditamos tolamente que linchar alguém resolve o problema. A oposição de hoje, que está toda valente defendendo a ética e os bons costumes, até ontem estava junto neste “projeto de poder”, desfrutando de suas vantagens e contribuindo com a situação atual. Está batendo agora porque não porque quer mudanças e o melhor para o povo, mas porque deseja ditar as regras do jogo.
Não temos homens e mulheres em nossa política, temos uma matilha. Salvo raríssimas exceções, são monstros que mereciam ser cuspidos pelas ruas. Observamos apáticos nomes intragáveis nos cargos mais importantes do Senado, STF, Câmara de Deputados, Governos, Prefeituras e Vereadores. Escolha a escala, de municipal a federal, e comece a chorar.
O pior de tudo é que os políticos, com sua luta pelo poder, conseguiram influenciar, dividir o país e desviar o foco de atenção da população dos verdadeiros problemas (reforma política, distribuição de renda, impunidade, educação...). Nos reduziram a discursadores coxinhas ou bolivarianos que ficam por aí brigando de forma ridícula, no melhor estilo torcida de futebol.
O sociólogo espanhol Manuel Castells, em entrevista recente, sugeriu dissolver todo o Congresso Nacional e dar lugar a uma Assembléia Constituinte. “O grande problema do Brasil não é econômico, mas político. Se não for mudado o sistema político, a esperança de mudança se converterá em raiva coletiva e cinismo”.
Políticos assumiram um aspecto repugnante e nos tornamos um país excelente para os sujeitos de má índole. Exalamos falsidades de homens e mulheres "de bem" que fazem promessas na televisão e ganham prêmios de reconhecimento. Somos uma nação de mentiras. Mas é imperativo que assumamos nossa parcela de culpa: somos ignorantes sociais, muitas vezes mesquinhos, cegos pelos próprios interesses, não nos posicionamos de forma coletiva e humanizada, não fomentamos uma sociedade justa, sustentável, humanizada  e somos nós que colocamos essas pessoas no poder.
Você também não está achando o momento muito confuso? Assustadoramente confuso. Dizem que antes da tempestade vem a bonança. Assim espero. Pois deste cenário nefasto ou emana uma sociedade melhor ou caíremos em total desgraça.
Sabemos que tem gente torcendo para dar errado, que o caos gera dinheiro e oportunidades para malandros e aproveitadores. Essa gente ruim está adorando o momento que atravessamos. Vão se esbaldar como urubus.
Temos um país que é uma vergonha internacional em muitos sentidos. Não pela simplicidade ou culturas peculiares, pois este é um fator relativo e pessoas podem viver muito bem de formas diferentes, mas pela corrupção, pela falta de ética e pela incompetência em organizar-se.

Temos dinheiro, somos gigantes, mas somos fracos e apavorados. Não conseguimos correr na direção correta do desenvolvimento. Nos sentimos perdidos, falamos e fazemos besteiras porque estamos acuados e com medo do futuro.
Queremos um Brasil melhor  e vamos continuar trabalhando, fazendo a nossa parte. Eu, pelo menos, apesar das adversidades, vou tentar. Mas enquanto não mudarmos a essência de nossos pensamentos, vamos continuar neste cabo de guerra em que todos perdem.
Nem todos. Eles, lá em cima, continuarão ganhando.

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