quinta-feira, 4 de junho de 2015

Boticário, marketing, capitalismo, sociedade e uma breve reflexão


  
Em seu último livro "Marketing 3.0", o guru mercadológico Philip Kotler defende que as marcas do futuro devem estar pautadas principalmente em dois fatores: sustentabilidade & reputação da marca.
Conforme o autor, poucas organizações atuam dentro desta ótica nos dias atuais. Mas esta é uma tendência inevitável para as marcas que desejem tornar-se relevantes para os clientes e garantirem a sua continuidade.
É uma nova tendência, que particularmente muito me agrada. Visualizar os gigantes do capitalismo não apenas utilizando seus recursos publicitários para competirem e induzirem ao consumo, mas para promover novos debates, posicionar-se em prol do desenvolvimento de uma sociedade justa e equilibrada. Enfim, tentar ocupar um lugar na mente do consumidor como uma marca do bem, que além de vender um produto ou um serviço, tenta dar a sua contribuição por um mundo melhor.
É um caminho árduo e que depende da conscientização das organizações. Parece distante, mas não impossível.
Claro que tudo pode ser uma enganação também. Empresas podem investir na criação de uma determinada imagem, mas na realidade, em seu processo produtivo, podem agir de outra forma. Mas com redes sociais, compartilhamento de informações, públicos e concorrentes fiscalizando, a sua "boa" imagem pode tornar-se um tiro no pé por ser falsa e, ainda, fortalecer as denúncias, vídeos e fotos que demonstrem o contrário.
Como disse Abraham Lincoln:"Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar a todas as pessoas por todo o tempo."
Portanto, para ser 3.0, uma marca precisa criar esta reputação positiva através de seu posicionamento estratégico, de sua atuação sustentável em todas as suas ações e de sua comunicação com a sociedade.



Mas o que é ser sustentável? Basicamente é possuir este quatro fatores:

1- Obter lucro

2- Respeitar pessoas

3- Preservar o meio ambiente

4- Atuar em prol da cultura e da diversidade

Apenas é sustentável quem atinge resultados de mercado sem prejudicar pessoas, meio ambiente ou questões de diversidade, seja racial, sexual, cultural, com relação a minorias... Enfim, exige um comportamento ético e em prol de uma sociedade melhor.
Parece até absurdo que em meio a este capitalismo voraz surja esta filosofia de gestão. Mas é o que defende Kotler e, pensando numa perspectiva de futuro, pode ser que as pessoas comecem a valorizar quem atua junto a elas e não quem apenas pensa nos seus ganhos.
Vai resolver os problemas do mundo? Não sabemos. E sim, parece um pensamento utópico. Mas este já demonstra ser um melhor caminho do que tradicionalmente as organizações estão seguindo hoje.

Algumas marcas já tem investido nessa linha de trabalho e obtido excelentes resultados, com comerciais que perpassam as mídias tradicionais e viralizam nas redes. 

Podemos até citar alguns:

Pantene - Emocionante comercial, aborda determinação, bullying, afeto com família, idosos...

 


Always - # Like a girl - Considerado o melhor comercial do último Super Bowl deste ano (horário mais caro da propaganda mundial). Aborda a violência simbólica no discurso que taxa de  "fazer algo como menina" de uma coisa negativa:

 


Aqui também temos uma orientação do Carrefour, sobre como agir com o público LBGTS, para os seus colaboradores:





E tivemos nesta semana o comercial do Dia dos namorados da Boticário:


  
O comercial da Boticário é uma bela produção. 
É atual, sutil, defende o amor e a diversidade.
O que mais chamou a atenção foi o tamanho da repercussão causada por uma mensagem discreta, que prima pela igualdade, mas que gerou inúmeros pedidos de boicote. 
Acaba sendo mais um indício de que há um crescente sentimento conservador e alguns posicionamentos religiosos radicais e perigosos no Brasil, que desejam uma sociedade mais dura e rígida com as minorias, desconsiderando as desigualdades sociais, a diversidade cultural da nação e contrariando toda a tendência abordada até aqui.
Esta percepção gera um certo receio com o futuro. Pois ainda há um longo percurso a ser percorrido. Mas, também, neste mesmo contexto, o comercial torna-se ainda mais relevante por estimular um debate atual e necessário.

Aos radicais, que não aprovaram o comercial e sugerem um boicote, dá até para aumentar o leque de marcas que devem ser boicotadas (todas elas defendem a diversidade sexual):

O Pastor Silas Malafaia terá trabalho em promover tanto boicote. Ainda mais que não poderá utilizar equipamentos tecnológicos, sistemas e nem redes sociais para continuar gravando e divulgando seus vídeos.

Clique e confira marcas e campanhas que apoiam a diversidade sexual:    http://aproveitaeboicota.tumblr.com/


Concordo que os exageros, independentemente de opção sexual, devem ser questionados (o que não é o caso do comercial da Boticário). Comportamentos obscenos em público, letras e coreografias sexistas de músicas, apelos sexuais inapropriados em novelas, programas de reality show, humor que deprecia minorias e a publicidades consumistas e irresponsáveis.
Acaba que o debate não é coerente. Muitos comportamentos questionáveis são aceitos pela sociedade que hipocritamente renega outros.

Itaipava - Vai Verão - Mais um vídeo que reduz a mulher a um objeto do prazer masculino:



Apenas um dos muitos equivocados comerciais da skol:



Skol acusada de apologia ao estupro. Campanha foi retirada por ordem judicial:





E, apenas para não perder o embalo do texto, todos os programa do Amaury Jr. Primeiro porque não é de bom gosto, é brega ao extremo. Exalta pessoas por troca de favores ou venda de cotas de patrocínio, numa falsidade de dar pena e, ainda, esfrega no rosto de uma população de baixa renda a ostentação esnobe de quem está no topo da cadeia de riquezas. É descaradamente uma gigantesca violência simbólica.



Ou a venda de produtos religiosos por preços astronômicos. Como as canetas ungidas para concursos:



Ou o sistema de campanha política que, independentemente de partidos, permite uma publicidade totalmente mentirosa e consome rios de dinheiro com mega produções, beneficiando aproveitadores e empresas investidoras.



Não julguemos os outros pelo que cegamente acreditamos. Precisamos cultivar a tolerância, o bom senso, a harmonia, tomarmos banhos de humanização e fazermos discussões mais efetivas por um mundo melhor.
Precisamos deixar de dar ouvidos para os barraqueiros equivocados de plantão. Tudo se discute na sociedade moderna, menos o que é importante para a sua transformação. Enfim, tem muita coisa pior para se preocupar do que a publicidade do Boticário. 
Quem sabe assim o mundo não fica um pouquinho melhor.





quinta-feira, 30 de abril de 2015

O mal venceu o Brasil que sonhávamos



 

Pois então meus caros, não foi desta vez!
Comemorávamos, achávamos que finalmente nosso país sairia do buraco e se tornaria uma nação de verdade. Digna e imponente. Visualizávamos a economia crescendo, políticas sociais melhorando a vida das pessoas, números positivos nos telejornais... Existiam problemas sim, graves problemas, mas havia esperança e coisas boas estavam acontecendo, gerando oportunidades para todos e, aparentemente, quebrando velhos paradigmas.
Brotava uma ponta de orgulho no machucado coração verde-amarelo. Sentíamos que iríamos mudar e construir uma nação melhor. Mas a vida é dura e pune os mais fracos.
Tudo não passava de uma ilusão e a realidade atual é um pesadelo.  É como se acordássemos sozinhos e desamparados num lugar estranho e muito perigoso. A impressão é de que "somente quem se corrompe se dá bem". É preciso apodrecer a alma, laquear o amor e esmagar pessoas sem piedade, desenvolver indiferença ao sofrimento alheio e explorar o semelhante e o meio ambiente para alcançar sucesso e riquezas. Aqui os coiotes tem vez. Escutei por aí: “Não estamos conseguindo encontrar uma luz no fim do túnel e nem sabemos mais onde está o túnel”.
A cada dia somos surpreendidos por notícias e constatações devastadoras: reduzem a verba da educação, aumento de salários de parlamentares, de juízes, aumento da verba dos partidos, surrupiam direitos dos aposentados, lei da terceirização, complicam regras para adquirir imóveis, benefícios para mega empresários, salários achatados, inflação voltou, juros altos, população perdendo capacidade de consumo, religiões fajutas e seus representantes medievais, endividamento, meio ambiente avassalado, falta de água, professores massacrados pela polícia, policiais que não agridem pelo sistema sendo presos, um monte de gente despreparada coordenando setores importantes e ocupando cargos públicos só porque ajudou nas eleições, ajustes fiscais que só cortam na carne do povo, enquanto a classe dominante e os políticos continuam com exagerados privilégios. Uma pesquisa recente, que avaliou questões como sustentabilidade, educação e tecnologia colocou o país na 84ª posição (weforum-2015), atestando que o futuro também não será fácil. E ainda acham que debater maioridade penal e beijo gay em novelas é a solução dos problemas.
É importante ressaltar também que nossa imprensa não é nenhum anjinho. O jornalismo convencional ou através das mídias sociais é tendencioso e hipócrita. Muitas notícias são ampliadas, minimizadas ou ocultadas para gerar paz para alguns setores e prejuízos para outros. A imprensa não cumpre um papel social e sim representa ou uma ideologia ou seus patrocinadores. Não se pode generalizar, mas grande parte dos conteúdos que chegam até nós estão contaminados por interesses dominantes de tal maneira que já nem mais sabemos o que é coerente ou invenção.
Uma das palavras da moda é o tal do Impeachment. Mas, sinceramente, não culpo a atual Presidenta, ela faz parte do problema, mas não consolidou a situação sozinha. Nós é que temos esta mania de malhar um Judas, de querer achar um culpado que sirva de vaso sanitário das nossas raivas e frustrações. Acreditamos tolamente que linchar alguém resolve o problema. A oposição de hoje, que está toda valente defendendo a ética e os bons costumes, até ontem estava junto neste “projeto de poder”, desfrutando de suas vantagens e contribuindo com a situação atual. Está batendo agora porque não porque quer mudanças e o melhor para o povo, mas porque deseja ditar as regras do jogo.
Não temos homens e mulheres em nossa política, temos uma matilha. Salvo raríssimas exceções, são monstros que mereciam ser cuspidos pelas ruas. Observamos apáticos nomes intragáveis nos cargos mais importantes do Senado, STF, Câmara de Deputados, Governos, Prefeituras e Vereadores. Escolha a escala, de municipal a federal, e comece a chorar.
O pior de tudo é que os políticos, com sua luta pelo poder, conseguiram influenciar, dividir o país e desviar o foco de atenção da população dos verdadeiros problemas (reforma política, distribuição de renda, impunidade, educação...). Nos reduziram a discursadores coxinhas ou bolivarianos que ficam por aí brigando de forma ridícula, no melhor estilo torcida de futebol.
O sociólogo espanhol Manuel Castells, em entrevista recente, sugeriu dissolver todo o Congresso Nacional e dar lugar a uma Assembléia Constituinte. “O grande problema do Brasil não é econômico, mas político. Se não for mudado o sistema político, a esperança de mudança se converterá em raiva coletiva e cinismo”.
Políticos assumiram um aspecto repugnante e nos tornamos um país excelente para os sujeitos de má índole. Exalamos falsidades de homens e mulheres "de bem" que fazem promessas na televisão e ganham prêmios de reconhecimento. Somos uma nação de mentiras. Mas é imperativo que assumamos nossa parcela de culpa: somos ignorantes sociais, muitas vezes mesquinhos, cegos pelos próprios interesses, não nos posicionamos de forma coletiva e humanizada, não fomentamos uma sociedade justa, sustentável, humanizada  e somos nós que colocamos essas pessoas no poder.
Você também não está achando o momento muito confuso? Assustadoramente confuso. Dizem que antes da tempestade vem a bonança. Assim espero. Pois deste cenário nefasto ou emana uma sociedade melhor ou caíremos em total desgraça.
Sabemos que tem gente torcendo para dar errado, que o caos gera dinheiro e oportunidades para malandros e aproveitadores. Essa gente ruim está adorando o momento que atravessamos. Vão se esbaldar como urubus.
Temos um país que é uma vergonha internacional em muitos sentidos. Não pela simplicidade ou culturas peculiares, pois este é um fator relativo e pessoas podem viver muito bem de formas diferentes, mas pela corrupção, pela falta de ética e pela incompetência em organizar-se.

Temos dinheiro, somos gigantes, mas somos fracos e apavorados. Não conseguimos correr na direção correta do desenvolvimento. Nos sentimos perdidos, falamos e fazemos besteiras porque estamos acuados e com medo do futuro.
Queremos um Brasil melhor  e vamos continuar trabalhando, fazendo a nossa parte. Eu, pelo menos, apesar das adversidades, vou tentar. Mas enquanto não mudarmos a essência de nossos pensamentos, vamos continuar neste cabo de guerra em que todos perdem.
Nem todos. Eles, lá em cima, continuarão ganhando.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Conexões do enfaro

Tem músicas que tocaram demais, que já escutamos sua cota nesta encarnação. 
Nem todas, mas muitas delas são boas composições que tornaram-se saturadas pelo excesso de audições e exposições decorrentes de seu sucesso. Tem internacionais como Enter Sandman, Smells Like Teen Spirit, Jump, Smoke on the water, The Wall e por aí vai... São legais, mas não aguentamos mais escutar. Nos versos abaixo brincamos com algumas composições nacionais, neste mesmo sentido.              

               

Será só imaginação
Eu tava só, sozinho
Eu quis dizer, você não quis escutar
Depois daquela noite de festa
Encontrei uma barata na cozinha
O gato preto cruzou a estrada
É pau, é pedra, é o fim do caminho
Meia noite no meu quarto
Quando o segundo sol chegar
Vou pedir para você voltar

Quem me dera ser um peixe
Às vezes no silêncio da noite
Abordar navios mercantes
Dizem que sou louco por pensar assim
Prefiro ser essa metamorfose ambulante
Todo mundo está revendo o que nunca foi visto
Uma menina me falou
Devia ter amado mais
Bola na trave não altera o placar
Não posso ficar nem mais um minuto com você

Não me convidaram para esta festa pobre
Vamos fugir deste lugar baby
Eu quero levar uma vida moderninha
O bico do beija-flor beija a flor
Moro num país tropical
Vocês que fazem parte dessa massa
Amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito
Só depois de muito tempo fui entender aquele homem
Era um garoto que como eu
Levava uma vida sossegada

Quem te vê passar assim por mim...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Num deslize



Você gosta das coisas juntas
Tudo em seu lugar
Outros sonham com um pescoço
Sob a sola dos seus pés
Você não perde tempo
Quer mais tempo para sorrir
E tem que controla o tempo
Para tudo controlar

Trituram vidas
Trituram sonhos
Com a mesma simplicidade
Que se morde uma maçã
Ande na trilha
Não perca o rumo
Ou num deslize 
O ceifador se torna você

Muitos dos que hoje sofrem
Farão sofrer amanhã
A vitória sempre é doce
E se cospe em quem fica para trás
Oprimido choro silencioso
Que se torna escuridão
Brilham estrelas falsas
Bate torto o coração

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

No calmo da alma



Pare um pouco
Respire
Você não era assim

O mundo já girou mais devagar
Lembra de passar a tarde inteirinha brincando no rio
Com os dedos murchos e a alma inflada de tantos sorrisos
Lembra como você se emocionava lendo na adolescência
E de escutar, escutar e escutar aquele bom disco de vinil
Muitos deles da antiga coleção de seu pai
Experimentando calmamente novas sonoridades
Descobrindo a música e descobrindo a si mesmo 

Não lemos mais por ler
Não assistimos mais filmes com a devida calma e dedicação
Tudo é rápido, urgente
Money, money, money
Aparências
Compromissos
Vivemos esgotados
Esquecemos de brincar

Crescemos e evoluímos
Mas perdemos algumas capacidades

Pare toda esta doença moderna rapaz
Pelo menos um pouco
Não corra tanto

Volte a sentir os pequenos prazeres
Os melhores prazeres
Os que te definem
Os que te tornam maior e mais feliz

O tempo é implacável
Atropela mesmo
E sem perceber
Te coloca de joelhos diante desta loucura
Desta sociedade inversa e sem sentido

A verdadeira felicidade está no vácuo
Na jornada e não na conquista
A felicidade está na lacuna da vida
Na harmonia com o universo

Somente neste lugar lento
No calmo da alma 
No colo da vida
É que nascem poemas, sonhos, idéias, revoluções...
Ali você se conhece
Ali você produz este monte de coisas que quase nunca te darão dinheiro
Mas que te tornarão absurdamente maior

Pare um pouco
Respire
Esqueça a agenda
Tire férias de ti
Para quem dar atenção?
Para o que dar atenção?
Distrações e iscas de sedução não faltam
Vícios e tecnologia
Escravidão moderna
Então pare
Pelo menos um pouco
Pare para não cair

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A gente é cego porque quer



A ideia fixa, egoísta e ditatorial existe “igualzinha” na mente do conservador e do libertário. E justamente esta é a característica humana que tanto trava a evolução harmônica da sociedade. É cada um por si e ninguém por todos.
Existem diferentes discursos, diferentes culturas e existem diferentes apontamentos de caminhos para o progresso entre os estereotipados “populistas revolucionários xiitas”, “capitalistas ricos” ou “coxinhas classe média”, mas no fundo todos são pseudo-humanitários e coletivistas.
Não vamos generalizar, pois existem as raras almas iluminadas que passam por este mundo e nos honram com sua energia pura, agregadora e positiva. Mas fora os que não sabem de nada, os “deixe a vida me levar”, a maioria finge para si mesmo e para os outros que acreditam e defendem o bem comum, mas basta sentir o sabor do mel do poder escorrer no canto da boca que não desejam mais largar o cálice. É a famosa ganância, o ego humano, o vício de estar no centro, na crista da onda, de estar certo.  Adoramos ser bajulados e que reine o EU sobre o NÓS, pois na hora do “vamos ver” é melhor que o amado e temido seja eu, ou minha turma. E nessa hora o bem coletivo vai para o ralo, porque defendemos nosso lado com intensidade, inclusive pisando nos outros se for necessário.
Somos humanos, somos farinha do mesmo saco, quase nunca percebemos a verdadeira essência dos ensinamentos das religiões que seguimos e não visualizamos até onde vai a nossa ilusão. Nossos princípios dependem de nossa visão de mundo, de nossas experiências, de nossas leituras e infelizmente fomos criados assim: competitivos, vaidosos e desconfiados.
Às vezes batemos no peito e nos preocupamos demais com o homem simples que pode facilmente ser manipulado pelas estruturas dominantes de poder. Defendemos que ele precisa ser educado e conscientizado, que a culpa de muitos problemas sociais derivam de sua falta de discernimento da realidade. Mas o que dizer dos ditos intelectuais que também perpetuam esta cadeia de caos. A cegueira crítica não tem status, o “ser deslumbrado e enganado” parece estar presente em nosso DNA.
É cada um com a sua ideologia, paixão, fé ou loucura.
Com relação a senso de coletividade, a grande maioria é tão troglodita quanto uma torcida fanática de futebol ou extremistas religiosos. São radicais em seus posicionamentos e não visualizam os meios termos, apenas defendem com argumentos mais ou menos elaborados a sua cegueira.
Pode ser necessidade de sentir-se parte de algo maior, de um grupo, de sentir-se importante perante a sociedade, de ser o líder dominante, de saciar a dúvida de estar cumprindo seu plano terreno ou puro narcisismo. Pode ser muita coisa da complexa “insociável sociabilidade humana”.
Valorizamos o que conhecemos, o que julgamos nosso e menosprezamos o alheio. Queremos mesmo é mandar! Não existe discernimento, bom senso, apenas passos firmes numa marcha pré-ensaiada rumo à vitória. A minha vitória. A vitória de meus interesses. Mas quase nunca a vitória da humanidade e do coletivo. E creio ser este o grande aprendizado que necessitamos: conviver harmoniosamente com o próximo e com o ambiente que nos cerca.
Analise bem, são tempos confusos. Quase nunca sabemos onde a verdade realmente está, quem é mocinho e quem é bandido neste globalizado e moderno mundo. Acabamos agindo por impulso e, muitas vezes, nos posicionando erroneamente.
 A gente fica aí, brigando nas tribunas, nas urnas, nas redes sociais e brigando para sobreviver. E a mídia jogando gasolina, buscando audiência e lucro enquanto esquemas públicos e privados rolam soltos. Nada muda porque é muito interesse e muita alienação.
Na política é assim também. Partidos são quase iguais porque são compostos por pessoas. Podem até possuir diferentes ideologias e propostas de gestão, mas vão acabar beneficiando as suas pessoas e as suas alianças em detrimento de uma cidade, de um estado ou de uma nação. Sempre foi e provavelmente sempre será assim. A não ser que aconteça uma verdadeira revolução cultural, uma profunda mudança no sistema e que as pessoas deixem de ser menos bairristas, menos hipócritas e menos aproveitadoras.
Ainda não há vacina para nossa arrogância, para nossa maldade. Mas por sorte existe educação, belas artes, filosofia coletiva, fé e amor ao próximo. Sempre há esperança. Existe gente do bem tentando e uma nova geração pode ser formada com novos valores. É nisto que devemos focar.
Precisamos de pessoas menos cegas por seus ídolos, sejam eles da música, da TV, da ciência, da religião ou da política. Precisamos bajular menos e cobrar mais resultados dos gestores públicos, independentemente de suas origens. Precisamos ser menos barraqueiros e mais agregadores, pensando harmoniosamente e coletivamente por soluções que beneficiem a todos. Precisamos aprender a nos colocarmos no lugar do outro, de suas dores, de seus sentimentos, aprender a conviver com novas culturas. Precisamos aprender a querer ver todos felizes e não apenas nos beneficiarmos da exploração dos recursos naturais e das pessoas.
Vamos sonhar por uma sociedade melhor. Pode ser utopia, mas eu sonho.