quinta-feira, 30 de outubro de 2014

No calmo da alma



Pare um pouco
Respire
Você não era assim

O mundo já girou mais devagar
Lembra de passar a tarde inteirinha brincando no rio
Com os dedos murchos e a alma inflada de tantos sorrisos
Lembra como você se emocionava lendo na adolescência
E de escutar, escutar e escutar aquele bom disco de vinil
Muitos deles da antiga coleção de seu pai
Experimentando calmamente novas sonoridades
Descobrindo a música e descobrindo a si mesmo 

Não lemos mais por ler
Não assistimos mais filmes com a devida calma e dedicação
Tudo é rápido, urgente
Money, money, money
Aparências
Compromissos
Vivemos esgotados
Esquecemos de brincar

Crescemos e evoluímos
Mas perdemos algumas capacidades

Pare toda esta doença moderna rapaz
Pelo menos um pouco
Não corra tanto

Volte a sentir os pequenos prazeres
Os melhores prazeres
Os que te definem
Os que te tornam maior e mais feliz

O tempo é implacável
Atropela mesmo
E sem perceber
Te coloca de joelhos diante desta loucura
Desta sociedade inversa e sem sentido

A verdadeira felicidade está no vácuo
Na jornada e não na conquista
A felicidade está na lacuna da vida
Na harmonia com o universo

Somente neste lugar lento
No calmo da alma 
No colo da vida
É que nascem poemas, sonhos, idéias, revoluções...
Ali você se conhece
Ali você produz este monte de coisas que quase nunca te darão dinheiro
Mas que te tornarão absurdamente maior

Pare um pouco
Respire
Esqueça a agenda
Tire férias de ti
Para quem dar atenção?
Para o que dar atenção?
Distrações e iscas de sedução não faltam
Vícios e tecnologia
Escravidão moderna
Então pare
Pelo menos um pouco
Pare para não cair