sexta-feira, 27 de abril de 2012

Revolte-se


 Revolte-se



Você já se vendeu
Agora compre-se
Adquira uma ideia, um novo amor
Revolte-se

Você provou de tudo
Agora volte
Já se perdeu com tantas noites
Acorde-se

Você me enche os bolsos de vergonha
Mas eu gosto de ti, eu te quero bem
Você não é exatamente um orgulho
Também gosto de mim e as vezes não gosto ninguém

Então, revolte-se!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Um país de mentirinha



 



E lá no alto das montanhas geladas havia uma terra de gigantes homens da pele verde, cabelos amarelos e narizes vermelhos. Eles montavam em dragões, faziam saladas com pés inteiros de bananeiras e adoravam beber água do mar (com peixes e tudo).
Numa nebulosa noite, numa bela casa no alto do vale mais florido, o menino sai de seu quarto e caminha até a cama de pedra dos seus pais. “Papai, não consigo dormir, não tenho sono”. E o sábio homem deitou o filho ao seu lado e disse: - Vou te contar uma história de um país que não existe, de um país de mentirinha.
Imagine um país belo, gigante e imponente, um dos seis países mais ricos do planeta. E mesmo com tanta fartura, a imensa maioria de seus habitantes era pobre, excluída e conformada com esta situação. O seu avô costumava dizer que a pior pobreza não era a econômica, era pobreza de espírito. Acho que concordo com ele, meu filho.
Seus habitantes eram meio sádicos com suas próprias vidas, meio masoquistas, pois deixavam que coiotes cuidassem de suas ovelhas, porcos cuidassem de suas frutas e gatunos vigiassem suas jóias. Claro que não dava certo, problemas aconteciam constantemente, mas mesmo assim eles continuavam aplaudindo e dando crédito para gatunos, porcos e coiotes.
Eles tinham particularidades culturais muito interessantes. Um dia, aquela gente lançou uma festa chamada “favela chick”, com batidas tuxi tuxi e rimas de dar dó. Com apelos sexuais que fariam estivadores criados no bordel passar vergonha. Portanto, o que havia de tão fino, elegante, esnobe ou chick? Nada. A música era popularesca, as danças vulgares e, muitas vezes, os festeiros jogavam seu lixo no chão, falavam palavrões, brigavam, consumiam bebidas, drogas e desciam até o chão. Apenas os corpos moldados em academias, os cortes de cabelo e algumas roupas caras poderiam ser consideradas referenciais de “chiqueza” para os de personalidade fraca, e nada mais. Embalagens sem nada dentro. Viu como era criativo o povo de nossa história meu filho.
Eles também batizaram uma música campestre de “universitária”. Nada contra o som que vem do interior de cada lugar, pois lá mesmo haviam composições e artistas fabulosos da moda de viola e das culturas típicas regionais, mas não era isso que era consumido nas rádios, nas televisões e pelas pessoas. Eles gostavam era da cultura kitsh, quanto mais rasteiro melhor.
“Lêlêlêlê”, “tchê tchererê tchê tchê”, “pápápápá”, “eu quero tchú eu quero tchá”, “ai se eu te pego ai ai”, eram notórios os vestígios do discurso “intelectual e universitário” daquelas composições. Não eram poéticas, complexas, construtivas, apresentavam elementos científicos ou discussões filosóficas para merecerem ser chamadas de “universitárias”. Claro que não, passavam longe do que representa o universo do ensino superior. Era uma música simples feita para pessoas simples, com letras inocentes no começo que depois foram se embriagando com temáticas de sexo, consumo e de desvalorização da mulher.
"Mas por que chamavam essa música de universitária então papai"?
Alguns homens que vendiam essa música resolveram tentar deixar ela mais legal, só na aparência, para dar uma enganadinha e ganhar mais dinheiro. Aí espalharam que era coisa dos ricos, dos descolados, dos inteligentes. Simplesmente jogaram purpurina em cima de um carrinho velho para vendê-lo com um lançamento. Além de criativos eram espertos e sabiam fazer dinheiro, meu filho.
Eles também adoravam televisão, novelas, lutas sangrentas, programas de fofoca e futebol. Nada de papos cabeça, discussões sérias para o futuro do país ou arte. Apenas risos, mesmo que fosse rindo de suas próprias desgraças, o que acontecia na maior parte do tempo. Qualquer ser vivo no universo choraria e se envergonharia diante de sua ruína, mas eles riam e como riam... Faziam piadas, músicas alegres, coreografias lascivas, gravavam reality shows e gargalhavam.
Afinal de contas, quem precisa de educação, de cultura, de protesto e de igualdade social? Eles precisavam é ser felizes, nem que fosse de mentirinha, nem que morressem consumidos pelo nada, com a alma pequenininha e dilacerada por uma existência desperdiçada com a ilusão. Mas, pelo menos, aparentando ser felizes uns para os outros.
Todos parecendo e fingindo, ninguém sendo.
“Ah não papai, essa sua história é ridícula demais, quem acreditaria nisso? Nem eu que sou criança consigo acreditar. Esse lugar não existiria nunca, jamais as pessoas seriam assim tão bobinhas. E olha que eu acredito em gnomos, fadas, fantasmas, alienígenas, bicho papão e até na seleção do Mano Meneses, mas essa sua mentira foi fraca demais. Nunca que as pessoas seriam desse jeito, nunca”!
O homem riu alto, sabia que nem mesmo uma criança seria capaz de acreditar em tamanho absurdo que ele acabara de inventar. Então levantou e foi pegar três rinocerontes na geladeira para preparar um lanche para os dois e esperar o sono chegar.