quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Dê ZERO “pá nóis”! Matamos o que mais deveríamos valorizar


A escola pública nacional já morreu e não está cheirando bem. Precisamos remover a podridão, desinfetar a sala com água sanitária, arruda, sal grosso e recomeçar do zero, com mais seriedade, disciplina e respeito pelos educadores e pelas pessoas que dependem da educação gratuita para terem qualquer chance de sobrevivência digna na atual sociedade globalizada.
Já falaram por aí que somos o país do fingimento. Concordo: o governo finge que se importa, professores fingem que ensinam, alunos fingem que aprendem, pais fingem que acompanham, órgãos fingem que fiscalizam e todo mundo finge que está tudo bem. E no final das contas, gravamos vídeos bonitinhos para promoção do estado com crianças comportadas e felizes, simulando que gostam de livros, nadando em piscinas limpinhas e comendo carne, arroz e alface fresquinha em novos refeitórios.
Sabemos que a realidade é outra, que a escola é caótica, com estrutura deficiente, alunos indisciplinados, professores explorados, alguns despreparados e, salvo raras exceções, que são mérito exclusivo de docentes e gestores excepcionais que operam verdadeiros milagres em sala de aula, a escola atual é uma instituição fracassada, motivo de vergonha para qualquer brasileiro coerente. Falta verba, falta organização, falta valorização do professor e falta uma cultura geral da população brasileira de cobrança e fomento de uma educação capaz de proporcionar desenvolvimento profissional, cidadão, crítico e humanizado. E este é o único caminho viável para o tal “mundo melhor” que todos desejam.
Para resolver este imenso problema seria necessário muito investimento, disciplina e gente capacitada, desvinculada de conexões políticas, gente de pouca conversinha bonita e muita ação prática, pessoas que conheçam a situação atual e que sejam conscientes da importância da educação pública.
É preciso haver uma penalidade severa para o prefeito e/ou governador que não manter suas escolas devidamente equipadas e prontas para atender seus alunos. A escola atual é apenas um depósito de pessoas. É pouco significativa, pouco coerente e faz com que grande parte dos alunos não apenas deixem de desenvolver sua capacidade intelectual, mas que criem uma verdadeira aversão à leitura e aos estudos. A cultura popularesca e a mídia incentivam alienação, consumismo, sexismo e hábitos negativos. A escola atual, ou melhor, o sistema atual, contribui com este “emburrecimento” e degradação da sociedade.
Escola não pode ter sua verba relacionada com os alunos que aprova e/ou mantém. Quem não demonstra resultados adequados tem que ser reprovado. Os discursadores dizem “Ahh, mas se reprovar eles desistem, temos que recuperar o aluno”. No fundo apenas querem números e não educação eficiente, apenas querem cabeças dentro da caixa para demonstrarem falsamente que a situação está melhorando. Rodem os incapazes, criem um sistema de acompanhamento para os indisciplinados, responsabilizem os pais que não cooperam, parem com o faz de conta. Penalizem o erro e não distribuam certificados para quem não merece.
O professor não pode aprovar quem não está capacitado, nem assistir indignado ao seu aluno depois ser aprovado pelo conselho de classe e muito menos ser induzido e/ou punido caso reprove os maus estudantes. O sistema está nivelando a escola para ajudar um pouquinho os alunos ruins, e justamente por estes discursos “coitadistas” a escola vem tornando-se muito pior para todos.
Professores precisam ganhar mais e ficar menos tempo em sala de aula.
A valorização do docente não precisa de prêmios de reconhecimento ou campanhas motivacionais na TV. Passa exclusivamente por um atrativo salário. Os países que fizeram isso colheram seus frutos. A profissão torna-se interessante, pessoas mais capacitadas investirão na carreira, a qualificação acontece espontaneamente e a qualidade da educação sobe.  E, também, existe uma cultura hipócrita consumista no Brasil que valoriza as pessoas principalmente pelo dinheiro que elas possuem e ostentam. Só respeitamos quem ganha bem, esta é uma dura verdade e o professor precisa ser um pilar da sociedade. Um professor jamais deveria ganhar menos do que um vereador de sua cidade.
Uma menor carga horária dentro da sala de aula também é necessária. Existem várias reportagens recentes sobre o grande número de docentes com atestados médicos, a maioria porque a escola atual adoece os professores. É muita aula, muita pressão, alunos indisciplinados... Os docentes cobrem jornadas absurdas e mal tem tempo de preparar boas aulas, corrigir atividades e qualificar-se. Não é diminuir o trabalho, mas torná-lo mais eficiente. Professor com muitas aulas quase não passa produção textual para ter menos material para corrigir em casa, evita realizar grandes projetos com seus alunos, evita provas discursivas, incentiva menos a leitura e a escrita. Tempo de estudo, de pesquisa e de preparação são vitais para que o docente ministre boas aulas.
Mas claro, não é chegar e aumentar o salário de todos numa canetada. É aumentar o salário dos bons, dos que estão preparados para fazer a transformação real e que agem com responsabilidade. Seu trabalho deve ser acompanhado, mensurado. Ele deve, por exemplo, explicar, como que alunos aprovados por ele tiraram notas baixas nas questões relativas a sua matéria no ENEM. Como aprovou se não tinham condição de passar? O sistema precisa ser mais rígido e sério em todos os sentidos. Todos querem ganhar bem, mas nem todos querem assumir sua parte. Tem professor que discursa muito, mas não age como deveria. Por exemplo, existe professor de literatura que não gosta de ler. Como este indivíduo vai estimular a leitura? O sistema falido é confortável para os professores acomodados. Os problemas da escola permitem que o despreparo e/ou a preguiça de alguns passem desapercebidos.
Professores também precisariam passar por avaliação psicológica, alguns não têm estabilidade emocional para estar numa sala de aula e acabam descontando suas frustrações nos estudantes.
Outra questão importante é sobre os gestores. Diretores, orientadores e administrativos tem de ser profissionais preparados, experientes e não simples indicações políticas que destroem qualquer ambiente ou trabalho sério que esteja sendo desenvolvido.
Um excelente salário, estrutura adequada, diretoria competente, menos carga-horária em sala de aula, liberdade para trabalhar e reprovar, proteção contra alunos indisciplinados e seus pais, avaliação constante de sua prática em sala de aula e cobrança por resultados.
Assim, talvez, um dia, consigamos nos orgulhar de nossa escola.