quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Estradas e solidão



Estradas e solidão

Derrame vinho em meus olhos
Encharque minha alma de ilusão
Dissipe a névoa de meu humano caminhar
Pare o mundo que eu quero descer
E só voltar quando souber
Um pouco mais de mim

A gente sonha demais
A gente bebe demais na mesma fonte
Tudo tem um sentido
Preciso sentir
Eu posso tentar ser alguém melhor
Mas é preciso descobrir
Um pouco mais de mim

Perdi meus dias correndo
Gastando passos por aí
Para o nada, para mim
Me deixe sozinho
Preciso pensar
Preciso do aconchego da minha solidão

domingo, 27 de novembro de 2011

O teu coração te engana sem querer



O teu coração te engana sem querer


Guardo em mofados pergaminhos
Nomes humanos que não dizem nada
Coleciono sorrisos propositalmente cordiais
E belas palavras, discursos, abraços...
Meticulosamente proferidos
O amor pode ser uma expressão conjurada em vão
E um bom beijo pode estar repleto de outras intenções
Pessoas que passam
Crenças que se vão
Ideologias
Heróis
Amigos
A mais absoluta paixão
O teu coração te engana sem querer

Vampiros com chantilly



Vampiros com chantilly

Naquela noite assumimos o controle do cinema, era o nosso particular ato de terrorismo cultural, hora de dar uma pequena, quase que insignificante, mas merecida chinelada nos modismos contemporâneos. Era apenas uma desforra de rebeldia com requintes de crueldade e humor negro.

Adolescentes e adultos sem alma, vestidos de preto e desfilando as arrojadas tendências atuais, faziam fila com seus olhos vidrados e corações lacrados para assistir a mais nova febre do momento, o filme Amanhecer, continuação da saga Crepúsculo. Nem vamos entrar no mérito da discussão sobre como o comércio deturpa mitologias e ícones da criatividade humana em detrimento do lucro. No caso, transformando os vampiros sanguinários, seres das trevas, em belos, bonzinhos e descolados galãs e “galoas” que despertam paixões, lançam moda, fazem caridade e poderiam até substituir o Luan Santana no mainstream, caso resolvessem cantar sertanejo universitário. É possível, não é um pensamento absurdo, sorte que ninguém ainda pensou nisso, já imaginou, “hoje tem show da viola caipira vampira”. Sucesso na certa!

Pois bem, esperamos as pessoas comprarem eufóricas suas pipocas com embalagens personalizadas do Edward e da Bella, suas “refrescolas” e adentrarem na sala. E então o verdadeiro show começou.

A sala de cinema foi trancada com correntes e cadeados, e o filme foi substituído por uma obra de vampiros que honra a sua tradição de horror. Escolhemos o recente filme coreano Sede de sangue, do diretor Park Cham-wook . Uma obra pesada, consistente, agressiva, que mistura violência, suspense, sexo, cultura oriental, religião... Conduzido por um excelente roteiro, capaz de chocar platéias acostumadas ao gênero e que, certamente, iria configurar-se numa impactante experiência para o público jovial.

Poderíamos até passar filmes excelentes como Drácula de Bram Stoker ou o sueco Deixe ela entrar, mas ponderamos que o momento merecia algo extremo e perturbador, afinal, é importante avisar essa turminha que não devem brincar com vampiros. O recado seria dado. (risos)

Claro que ficamos com receio das pessoas não entenderem a obra, afinal, o filme seria projetado com legendas e não dublado, a velha artimanha da indústria para pessoas infantilizadas.

No começo houve um princípio de confusão, alguns tentaram abrir a porta, esforço em vão e o espetáculo seguiu com o som a todo o volume, ar condicionado ligado no máximo para arrepiar a espinha, sangue, escatologias e uma história doentia escorrendo na tela do cinema que nunca havia presenciado tamanha manifestação artística e bizarra. Aos poucos a platéia parou de reclamar e silenciou. Gritos reais e choro foram percebidos. Claro que não generalizados, alguns sofreram calados, outros foram escandalosos, e até aposto que alguns gostaram.

Quando faltavam uns vinte minutos para a sessão acabar, fomos embora, ligamos para a segurança do local ir abrir a sala. No outro dia certamente o assunto tomaria as ruas da cidade. Vídeos gravados com a reação das pessoas ao filme seriam publicados na internet e a ação de guerrilha ganharia status e fama.

Cheguei em casa satisfeito, um pouco apreensivo pela repercussão do ato, mas feliz por ter pelo menos um pingo de coragem e dar um soco no estômago do sistema. A adrenalina estava alta, demorei a dormir.

Comecei a sentir que o ambiente estava gelado, mas o sonolento pensamento ainda me mantinha distante da realidade consciente. Era um incomodo frio que aos poucos me fez acordar. Abri os olhos e percebi o vulto dentro do meu quarto. Senti um medo que jamais havia experimentado, fiquei apavorado, imóvel, apenas com os olhos arregalados encarando aquela figura fantasmagórica na minha frente, tentando entender o que estava acontecendo. O invasor deu dois passos a frente. Um raio de luar que entrava pela janela iluminou o seu rosto, não acreditei no que estava vendo. Era ele, o próprio, o vampiro Edward, com seus dentes afiados e olhos vermelhos. Ele ficou me olhando, saboreando o meu medo, a sua vingança e disse:

- Você não deveria tentar desmoralizar o meu clã e os meus fãs. Agora vai pagar caro. Eu vou sugar você.

Opa, isso não estava no script. Parem o mundo que eu quero descer, agora sim eu estou apavorado. Eu não sabia qual seria o meu fim. O que ele iria fazer? O que ele queria dizer com aquilo? Por que a Bella não veio junto? Que hora inconveniente para dualidades até porque, afinal de contas, essa nova geração de vampiros está muito moderninha. Apenas me encolhi todo e estiquei o pescoço o máximo que pude, protegendo o corpo, mas deixando a jugular totalmente vulnerável, ao fácil alcance do emissário das trevas, ou de Hollywood, sei lá. Seria bem mais agradável e honrado morrer assim. Melhor não arriscar né?

E nem adiantava esperar o nascer do sol, porque ele não morre, ele brilha.

"Me roubaram os meus pequi"




"Me roubaram os meus pequi"


Tem um vício que é "marvado"
O mais doido que eu já vi
Pior que cachaça e "muié"
É o vício do pequi
Passei o dia no mato
Tava caçando pequi
Peguei sol, tinha mosquito
Até em árvore eu subi
Matei um frango caipira
Pra jogar na minha panela
E chamei minha morena
Pra roer caroço com ela


Nessa noite eu ía ser feliz
Só que me roubaram os meu pequi
Deixei os frutos na porta
Um pouco e me distraí
Eita povinho sem alma
Me roubaram os meu pequi

Tem coisa que não se faz
Pequi dos outros é caso sério
"Cês" tão tudo condenado
Vão dançar no meu critério
Minha Morena é mandingueira
Vai dar até cemitério
Ásia forte e caganeira
Pra Medicina um mistério
Arroto podre que não passa
Por causa dos meus pequi
Vai cravar espinho na goela
E sair sangue no xixi

Nessa noite eu ía ser feliz
Só que me roubaram os meu piqui
Deixei os frutos na porta
Um pouco e me distraí
Eita povinho sem alma
Me roubaram os meu pequi

Em 2012 o mundo vai acabar?



Em 2012 o mundo vai acabar?
Talvez ele devesse mesmo.

Autor: Marcelo Trilha



As palavras são radicais, mas esta é apenas uma crônica reflexiva.

Não recordo se foi através de um blog, piada de um amigo ou TV, mas escutei estes dias que o fim do mundo estava próximo, e não estavam se referindo a previsões de Nostradamus ou dos povos maias, bastava prestar atenção nos sinais do cotidiano: Faustão magro, Silvio Santos com dificuldades financeiras, Sandy garota propaganda da cerveja (e dando tórridas declarações sobre práticas sexuais ousadas), Rock in Rio quase sem rock... E até aqui é só humor ou futilidades, mas a coisa vai ficando pior: Ronaldo Gaúcho recebendo medalha da Acadêmica Brasileira de Letras (lembrando que o Sarney já faz parte desse seleto grupo e que o poeta Mário Quintana jamais foi convidado para a Acadêmia), Tiririca no Conselho de Educação, Restart como banda do ano, Mulher Maçã se comparando a Apple e homenageando Steve Jobs, Tonho Croco, artista gaúcho, processado por ter composto um rap que denuncia o aumento de salário de 73% dos Deputados do RS, Collor na Comissão de reforma política, o lambadão cuiabano, Neymar e Luan Santana como os jovens modelos a serem seguidos pelas novas gerações e, ainda, tem a Copa Futebol Palhaçada do Mundo, em que irão nos fazer de idiotas de todas as formas possíveis e nunca seremos tão nacionalistas e felizes.

Seria cômico, se não fosse trágico.

Está tudo invertido, só falta começarmos a fazer necessidades fisiológicas plantando bananeira, declararmos guerra contra o sol, pingarmos limão nos olhos e nos alimentarmos de tijolos. E não estou falando nada absurdo, se alguém influente disser que isso é a “nova onda”, é o “hype do momento”, “que está na moda”... As pessoas vão fazer.

Hoje você não tem que ser bom, você tem que ser pior.

Marqueteiros de plantão aprendam a lição: quanto mais esdrúxulo, quanto mais bizarro, melhor. Sigam o conselho e fiquem ricos. Somos peritos em eleger malandros, incompetentes, em rir de imbecis ou da desgraça alheia e aplaudirmos artistas e celebridades fugazes. Esse é o nosso jeitinho brasileiro e não desistimos nunca.

Não leia bons livros, não escreva poesia, fuja dos papos cabeça, veja muita TV aberta, aceite as injustiças, a corrupção e seja feliz em meio ao caos. Lutar contra a anormal condição da sociedade só servirá para você ficar doente e com fama de louco.

Um amigo me disse esses dias: “Nunca se esqueça: a burrice sempre vence a inteligência. A inteligência tem limite e a burrice não”. É uma frase dessas que a gente lê por aí, na Internet, mas cabe perfeitamente no momento.

No que nos tornamos? Subprodutos acéfalos, manipuláveis, analfabetos funcionais, superficiais, acomodados, ignorantes, maliciosos, individualistas, promíscuos, religiosamente e moralmente hipócritas, alcoólatras, dotados de um humor chulo e perverso e de um gosto cultural duvidoso e baixo. Mas, em contrapartida, possuímos corpos sarados, belos carros e roupas da moda. Isso é ser humano? Esse será o legado de nossa civilização para o futuro?

Sim.

Talvez.

Por nossa sorte, sempre há uma esperança.

Existiram e ainda existem pessoas humanizadas e conscientes. Pessoas extraordinárias, ativistas, artistas, professores e intelectuais que podem fazer a diferença e inspirar homens e mulheres a cultivarem o bem coletivo, a questionarem as injustiças e as incoerências da sociedade. Existem bibliotecas, sebos de livros, de discos, locadoras com filmes clássicos, cult, e tem a Internet, que possibilita acesso ao conhecimento e interliga mentes pensantes, quando não utilizada apenas como elemento de alienação.

Em meus mais utópicos sonhos até vejo um esboço de reação. As pessoas estão cansadas de ficarem apenas assistindo a tudo dos seus sofás. É apatia demais perante os descasos e barbáries da sociedade. Quem sabe, a qualquer momento, a indignação da nação gere movimentações organizadas e intensas por um país melhor. Mas são apenas sonhos.

Alberto Dines, Jorge Amado, Beto Brant, Márcia Tiburi, Fernando Meireles, Marilena Chauí, José Padilha, Hilda Hilst, Augusto dos Anjos, Zeca Baleiro, Almir Sater, Gabriel O Pensador, Criolo, Cássia Eller, Clarice Lispector, Martha Medeiros, Vik Muniz, Felipe Pondé, Céu, Chico Buarque, Caetano Veloso, Mutantes, Luis Fernando Veríssimo, Arnaldo Antunes, Paulo Freire, Carlos Drummond de Andrade, Vitor Ramil, Lobão, Renato Janine Ribeiro, Geraldo Azevedo, Chico Science e todo o pessoal do manguebeat, Milton Nascimento, Machado de Assis, Raul Seixas, Renato Russo, Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Mário Quintana e tantos outros brasileiros que lutaram e lutam tão bem.

Somente essa sinergia de artes, pensamentos e educação ainda é capaz de nutrir alguma esperança.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O código social


O código social


Sonhos felizes

Controladamente felizes

Tudo é riso

Tudo é uma mentira

A “piada mortal”

Entretenimento é o sistema

O esquema oculto

O riso é a mentira

O grande segredo humano

Que queima os olhos do homem comum

Engodo, farsa, truque

Conspiração

E agora?

Um singelo feixe de luz se acomodou entre os galhos secos da árvore

Entre as teias de aranha, o pó da janela e a brega persiana

Se projetou discretamente na parede sem graça do filho mais fraco

As pessoas da casa caminham apressadamente

Não podem perder o compasso comunitário

Vagam opacas pelos cômodos

E a luz continua ali, quase não estando ali

Olhar de perto é não suportar existir

Talvez prefiramos,

Comportadamente,

Confortavelmente,

A ilusão.

Ferrado

FERRADO

Talvez seja hora de chorar
É o que minha alma pede
Embora agora eu não consiga
Falta colo e sobra orgulho
São cacos do que já fui
Contrações de sonhos mortos
Como se estivesse
Num quarto de hotel antigo
Um gueto esquecido
No seu telejornal
Pouca grana
Muita incerteza
Esperando dias casuais
Tudo é estranho
Nada me pertence
Estou proibido de voltar

O mofo, as traças, as frestas
Os gemidos do quarto ao lado
Todos tão desgraçados quanto eu
As guimbas, os ratos, os homens
Os bárbaros pós modernos
Todos tão confusos
Quanto você finge não estar

Não desejo o mal
Não sou vingativo
Sou apenas mais um
Só que um dia a luz acaba
A maquiagem se vai
E ficar sozinho é uma merda
Quando uma merda se é.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Mais pausa, mais paz e uma pá...




Mais pausa, mais paz e uma pá... preciso aprender a aceitar o mundo as pessoas deixar de envenenar meu coração estou ficando velho estou ficando chato minha grande luta deve ser não reafirmar minha manias e loucuras você tem o direito de ser feliz mas precisa relaxar ser menos você apenas seguir o bando não precisa queimar seus livros abandonar a poesia pedir autógrafos aplaudir idiotas nem dançar a nova moda apenas não argumente com tanta seriedade cultive o amor superficial universal assista TV sem culpa vote com esperança sorria para algumas besteiras para pedras não olhe tão longe não questione tanto não é o certo você sabe eu sei mas pelo menos com menos azias menos riscos de úlceras menos estresses menos fama de esquisito de louco você vai sentir-se melhor e dormir o sono justo e confortante dos babacas enfim fará parte da tribo mas se pensar demais nisso não vai dormir nunca mais quem mandou beber naquelas fontes ler aqueles autores interessantes seus idiota (pausa) ahhhhh quem precisa de paz preciso de efervescência vida é revolução acomodar-se é estar morto.          

Marcelo Trilha

Bem típico



Bem típico
                    Marcelo Trilha Muniz

Ela sonha em voar alto, tocar o sol
Mas não lembra onde escondeu suas asas
Resolve fugir com mais um gole, acende um cigarro
E diz que vai mudar, mas mudará amanhã
E já tem tudo planejado
Hoje tem de degustar sua embriagues
Então me manda ir embora, me xinga
Grita com as paredes, começa a chorar
E logo, implora para que eu volte

Ela jura que o mundo está contra ela
Ela fala que não confia nos seus amigos
Ela fala que os homens não valem nada
Ela promete que vai mudar de cidade
Ela fala qualquer merda e já nem lembra o que falou
E de repente se cala, não fala mais nada
Fecha a válvula de escape e inunda as suas ilusões
Com todo o seu lixo

Vive em eterno conflito
Da brisa ao furacão, do furacão a brisa
Sendo a brisa mais perigosa
O auto inferno de pensamentos
Onde alimenta os seus demônios
Nada é real, um mundo de fantasias
Um mundo perverso que dissipa a realidade
Tornando tudo ruim, insípido
Que encontra numa mente vazia
Um campo fértil para crescer
A brisa é imprevisível e explode a qualquer instante

Ela tenta traçar caminhos sem saber o que busca
Faz de conta que não percebe que é a criadora de suas angústias
Preferiu ser uma embalagem, um rosto lindo, sem expressão
Consumido por um mundo de futilidades
Engolido por fantasmas alheios que assombram sua ignorância
Ela nunca procurou conhecer a si mesma
E tentar descobrir que todos são iguais: forças e medos
Sem vítimas, só destinos e responsabilidades

Ontem ela veio até mim, clamando por socorro
Olho para ela
Penso em beijá-la
Perco o tesão
Desisto
Percebo que o seu olhar é tão vazio, vago, distante, triste...
Não consigo parar de encará-lo
Imagino ela tomando rios de remédios
O futuro deve tê-la reservado uma depressão
Sinto vontade de rir, me contenho e volto aos seus olhos
Penso no que vou falar. Mas o que eu posso dizer?
Se não sei como amá-la ou simplesmente
Não sei se cheguei a amar algum dia

Os antigos já diziam
Cabeça vazia é a oficina do diabo


A bagaceira tomou o poder e transformou mulheres em coisas







A bagaceira tomou o poder e transformou mulheres em coisas

No Rio Grande do Sul, um vídeo vazou na internet contendo relações sexuais envolvendo uma menina de apenas 11 anos de idade. Em São Paulo surgiu outro vídeo de uma orgia com cinco rapazes e uma menina de 15 anos. Em Santa Catarina, três jovens estupram uma menor de idade em meio a uma festa, filmaram o ato violento e divulgaram na internet. Jovens começam a paquerar enviando vídeos pelo celular em que aparecem mantendo relações sexuais. Isso, apenas citando alguns acontecimentos recentes, que vêm se tornando rotina, demonstrando a banalização do sexo, da afetividade e a vulgarização da imagem da mulher. Em nossa região o número de adolescentes grávidas e também o número de casos de AIDS já é bastante preocupante. Tudo está relacionado e fica a pergunta: O que está acontecendo?
Muitas campanhas são realizadas sobre prevenção sexual, mas não se fala em nenhum momento de prevenção cultural, a verdadeira raiz de todo o problema.
Para vender produtos, garantir altos índices de audiência e fazer a máquina do consumo girar utilizam mulheres que devem ser apenas “gostosas para sempre”, “a boa”. É o culto ao sexo e ao corpo, onde a personalidade feminina não é mais relevante, desde que esteticamente essa mulher seja atraente e provocante. Aliás, com o perdão da palavra, a “bunda” hoje foi promovida a instrumento de ascensão social.  Funkeiras e atrizes pornôs tornam-se ícones da sociedade, objetos máximos do desejo masculino e modelos da “mulher ideal”. Cria-se um fetishe de puro prazer e submissão. Permitiram que uma cultura machista de botequim começasse a imperar na sociedade e o pior, inspirar nas crianças o desejo de ser apenas um “siliconada” do futuro.
“Popozuda”, “potranca”, “cachorra” ou “piriguete.”
Alguns pseudo-artistas depreciam com suas rimas pobres a imagem da mulher e tem seu sucesso impulsionado por essas mesma mulheres que simplesmente não valorizam sua condição de mulher. Elas dançam e compram essa idéia proclamada em sua música. Aceitar ser rebaixada a tanto, com um sorriso no rosto, só para seguir o embalo do sucesso do momento, é não possuir amor próprio, pois fomenta uma cultura que transforma a mulher numa coisa que não merece ser respeitada.
O homem, da mesma forma, é estimulado a ser o esperto, o macho alfa, com mais dinheiro e poder possível para liderar o bando e seu território. Perde o interesse por maiores envolvimentos emocionais, pois é estimulado a supervalorizar o corpo e a buscar momentos esporádicos de prazer com o maior número de parceiras possível. Por que respeitar uma “piriguete”? Ele deve mesmo é mentir pra ela que vai pescar, quando realmente vai para a farra, porque lá “vai ter sete pra cada homem”, como proclama orgulhosa a letra de um sucesso recente.
Danças que simulam o ato sexual, novelas e programas humorísticos que usam o sexo e o preconceito como o elemento forte de suas narrativas... Tudo isso ao alcance de uma população com pouco acesso à educação decente. Perde-se o respeito e o cuidado pela alma feminina. E se a mulher virou simplesmente uma coisa, um objeto, então o sujeito pode usar, brincar e jogar fora, inclusive, praticando violência física, psicológica ou simbólica.
Formou-se uma grande sociedade cabaré, num gigantesco retrocesso que ecoa de um Brasil carente de investimentos culturais e de valores que sejam positivos para a formação de uma cidadania mais justa e consistente. Essa miséria moral e intelectual está deixando marcas profundas e irremediáveis na geração jovem de hoje e torna-se angustiante pensar no que o futuro ainda pode reservar.
Use camisinha, mas fique a mercê de conteúdos alienantes e sexistas da mídia. Essa é a grande armadilha. Estes conteúdos estão impregnados em todos os espaços sociais, portanto a proibição torna-se inútil, resta apenas desenvolver a seletividade dos conteúdos culturais que chegam até você, desenvolver o pensamento crítico-reflexivo, a inteligência emocional e torcer por um futuro melhor... Hoje eu vou fazer a minha parte, é o que posso fazer por hora, vou ler um bom livro, pensar na vida e continuar defendendo o meu posicionamento sobre essa questão.

"Não dá para prever em que adulto a criança vai se transformar quando recebe informação antes do tempo, quando é erotizada precocemente. Ela pode se assustar e ter relacionamentos fracassados. Pode ainda fingir que entende tudo e levar isso para a vida adulta, transformando-se numa pessoa desorientada.
                                                              Rosane Signes - Psicanalista


"A criança fica com uma visão pobre da sexualidade. O que me assusta não é o erotismo barato da televisão, mas a exclusividade que se dá a esse tema na programação. E essa erotização não é passada de uma maneira afetiva. Pelo contrário, é agressiva. O sexo na tevê parece essencial e inadiável. Se os pais não contrabalançarem com críticas, podem atrofiar na criança valores ligados à sua afetividade. A tevê faz parte da cultura. O que é preciso é mostrar que o valor daquilo que se vê é ruim."
                                                                     Yves de la Taille - Psicólogo


Fonte dos comentários: Revista época http://www.terra.com.br/istoe/comport/143409.htm

Publicado em 2009 no Jornal Gerador do ITPAC.

Você é um anunciante socialmente responsável?

Você é um anunciante socialmente responsável?


“Marca é uma entidade perceptual que existe num espaço psicológico na mente do consumidor. Deve agregar como valor ao produto um posicionamento perceptual que garanta benefícios emocionais e psicológicos, transmitidos pela publicidade que cria uma mitologia associada ao produto. (...) A maioria das marcas de sucesso tem em geral um posicionamento e uma mitologia de marca que vão além do produto físico. Elas procuram combinar os atributos/benefícios do produto com benefícios/psicológicos”.
                                                                                        Sal Randazzo

Sal Randazzo defende que um produto tem características tangentes (palpáveis, concretas) e intangentes (natureza emocional, alma da marca). Essa imagem na mente do consumidor é construída através da utilização e/ou contato da pessoa com um determinado produto e, também, das diversas comunicações dessa marca que chegam até ela. Um comercial de TV, uma experiência, um panfleto ou até mesmo a opinião de um conhecido, elogiando ou reclamando da marca, enfim, as mensagens que circulam na sociedade, geram reflexões e percepções dessa marca na mente dos consumidores.
Portanto, o perfil das pessoas que fazem parte de uma organização e as ações mercadológicas dessa organização no dia-a-dia irão atribuir valor a sua marca com o passar do tempo.
A questão é: você é um empresário que investe uma quantia mensal em sua publicidade, as mensagens que você transmite em seus comerciais, as campanhas de que participa ou patrocina e os programas e/ou veículos de comunicação em que anuncia são politicamente corretos? Você e sua marca estão contribuindo de forma positiva ou negativa para o futuro da sociedade?
A longo prazo, esta questão pode ser um elemento diferencial que interfere na decisão de compra dos clientes, que podem optar por marcas mais humanizadas e responsáveis. Ser um empreendedor “predador”, que pensa apenas no lucro imediato, numa atitude despreocupada e irresponsável com o futuro da sociedade, com certeza não é um bom negócio, nem para a imagem desse empreendedor (Marketing Pessoal) e nem mesmo para sua marca, que pode sofrer associações negativas, principalmente, porque se vive num tempo marcado pela indignação total contra a corrupção, contra a falta de valores morais, contra a degradação da natureza e contra a violência, por exemplo, onde as pessoas cobram cada vez mais a chamada “ética cidadã” dos agentes que convivem em sociedade.
Grandes marcas já perceberam esta questão e por pressão da sociedade pararam de patrocinar programas ligados a baixaria na televisão brasileira, o que já está ocasionando, por exemplo, a retirada da programação de um canal de televisão do “Programa do Ratinho” e do “Jogo Duro”, pois estes programas começaram a dar prejuízos por falta de patrocínios (Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u63386.shtml). João Kleber, da Rede TV, por uma liminar, teve suspensa a apresentação do seu programa Tarde Quente, pois a atração pregava a homofobia, em seguida a Rede TV ficou fora do ar por mais de 24 horas, devido ao não cumprimento da decisão judicial. (Fonte: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/11/337998.shtml). Podemos citar ainda a repercussão negativa de uma campanha de cerveja, onde no altar o noivo questiona se sua futura esposa promete “ficar gostosa para sempre”, numa atitude humorística que denigre a imagem feminina, relacionando o valor da mulher apenas a sua estética.
A programação gratuita de televisão e rádio é o grande elo comunicacional que interliga todo o país. Muitas famílias têm nesses veículos a sua única fonte de informação. Chega a ser mesquinho fomentar conteúdos de baixo nível, que não primem pela melhoria da qualidade de vida das pessoas. Uma programação melhor, que valorize a arte, a inteligência humana e a coletividade justa e cidadã poderia ser a grande ferramenta da mudança, suprindo diversas lacunas do desenvolvimento do país.
A sua empresa e a sua marca são criações e responsabilidades suas. São como filhos, como agentes que interferem e condicionam a vida da sociedade. Fazendo uma alusão religiosa, se houvesse também o dia de realizar um “julgamento cidadão final das marcas”, você estaria tranqüilo? Para o bem de todos espera-se que sim. A mídia será sempre um reflexo da qualidade de seus profissionais, da população que ela abrange e de seus anunciantes.
Uma gestão de negócios socialmente responsável transforma discursos em ações práticas, alinhados com o desenvolvimento empresarial sustentável. A sua verba comunicacional pode ser a moeda principal da mudança.


Artigo escrito em 2006 para o Jornal da ACIARA.
Marcelo Trilha – Publicitário (UPF-RS), especialista em Leitura e Produção Escrita (UFT), Metodologia do Ensino Superior e Marketing Estratégico (ITPAC). Responsável pela comunicação da ACIARA e do ITPAC, onde atua também como professor.

Mania de atraso

Mania de atraso
Por que a gente não chega na hora marcada?

     Belas roupas, cabelos vistosos, devidamente perfumado ou perfumada e elegantemente atrasados. Elegantemente nada, tal atitude só pode ser definida como “bisonhamente” desrespeitosa, fora de moda e totalmente inconveniente.
     Não há problema quando o evento é mais despojado, como uma festa, por exemplo. No caso se trata de diversão e não se estará atrapalhando ninguém. Agora, não é uma total falta de respeito quando você está no cinema, tentando se concentrar no filme e as pessoas não param de entrar na sala? Ou quando você chega cedo para uma reunião importante e as pessoas ficam tratando de assuntos aleatórios até determinado sujeito chegar? Ou quando você chega na hora num evento social ou palestra e este só começa duas horas depois do anunciado, pois estavam aguardando o local ficar cheio?
     A constatação a seguir é ridícula, mas comum e aceita por todos: hoje, os organizadores chegam a promover a divulgação de seus eventos com uma margem de segurança. Por exemplo, se a idéia é de que a programação seja iniciada às 20h, marcam para as 19h ou 18h e 30min, já calculando o tradicional atraso social, para que se consiga iniciar no horário desejado. O correto seria que cada um de nós, cumprindo com nossas obrigações coletivas, fosse comprometido também com uma margem de segurança, mas para garantir que nenhum imprevisto fizesse com que nos atrasássemos com relação ao horário anunciado.
     Estamos condicionamos a agir incorretamente e a premiar o erro, pois punimos com a monotonia do desperdício de tempo quem está agindo corretamente e chegando no horário.
     Alguns defendem que é o “jeito brasileiro de ser”, que faz parte de nossa “gestão flexível”, mas não se está defendo a idéia de interferir na identidade cultural e na forma criativa de trabalhar do país, não se quer que a partir de agora passemos todos a agir com a rigidez e precisão do alemão ou do japonês, mas convenhamos, a matemática do sistema é simples, as duas horas que um suposto evento atrasa fazem com que as pessoas que chegaram na hora marcada e/ou estão trabalhando nos bastidores deste evento percam duas horas do seu precioso tempo. E, no mínimo, é muita falta de respeito e comprometimento.
     Como mudar essa realidade?
Talvez estabelecendo um pacto entre entidades representativas, lideranças e imprensa local da cidade, chamando a atenção para esta questão e para que todos sejamos mais pontuais e rígidos com o cumprimento de nossas programações. No final das contas, simplesmente se estará agindo com mais profissionalismo. Até recordo de um caso de um Padre que havia na cidade onde nasci, ele decidiu que quando houvessem atrasos superiores a 10 minutos no início programado de casamentos, a cerimônia seria cancelada. No começo houve resistência, atritos ocorreram, mas hoje todo mundo sabe dessa norma e está na missa na hora da cerimônia. A noiva chega direitinho, sem atrasos.
     Nossa mania de atraso é uma questão a ser discutida sim. E nem estamos nos abstendo do problema porque por acomodação também acabamos cometendo falhas nesse sentido.
Vivemos num mercado altamente competitivo, queremos potencializar nossa economia e evoluir juntamente com a cidade de Araguaína. Nesse contexto, mais do que nunca, como diz o velho ditado, tempo é dinheiro e precisa ser melhor aproveitado.


Marcelo Trilha – Publicitário (UPF-RS), especialista em Leitura e Produção Escrita (UFT), Metodologia do Ensino Superior e Marketing Estratégico (ITPAC). Responsável pela comunicação da ACIARA e do ITPAC, onde atua também como professor.

É bom


É bom
Duas taças
Uma garrafa pela metade
E outra a esperar

Olhares trocados
Conversa que rende
E tua boca a esperar

Mas para que pressa?
Momentos raros são raros
E eu quero estar exatamente aqui

Mente aberta
Alma exposta
Usufruindo todo o aconchego
Que tua intimidade derrama ao meu redor

Sim eu quero você
Quero você para mim

Desse jeito
Com o afeto mais perfeito
Que a nossa simplicidade pode oferecer

A noite é longa
A vida aqui é boa

Não se concentre
Apenas sinta o agora
Deixe rolar

Teu beijo hoje pode ser meu
E se for...
Será bom.


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Debatendo heroísmo e enfiando o dedo na ferida


Herói é aquele que se distingue por seu valor ou por suas ações extraordinárias. Para os gregos eram os grandes homens divinizados, para as civilizações modernas são os principais personagens de livros, filmes ou da vida real. Um herói pode ser um vilão, depende dos interesses de quem analisa ou divulga a sua atuação, portanto, apenas precisa realizar um feito brilhante e valorizado por um grupo de pessoas para ser glorificado.
Na saga cinematográfica Star Wars, Luke Skywalker enfrentou o império e seu pai Darth Vader pela libertação do universo. No livro O Senhor dos Anéis representantes dos povos da terra média uniram-se para destruir o dominador maléfico Sauron. Chê Guevara é um ícone, divide opiniões sobre ser um mocinho ou bandido, usava o discurso social e teve o ápice de sua glória em Cuba, mas para o governo de Cuba da época e para os líderes mundiais de direita ele era um perigoso inimigo a ser batido. O terrorista Osama Bin Laden é considerado por seus seguidores um herói, pois com um golpe feriu a tranqüilidade dos EUA, país que sua organização terrorista despreza. No Brasil, jovens ativistas enfrentaram os horrores da Ditadura Militar, para o governo eles eram transgressores. O Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, se firmou no imaginário brasileiro como o grande herói nacional, mesmo sendo considerado por alguns como um símbolo de autoritarismo e violência. No BBB os abobados enfrentam as besteiras insanas dos criadores do programa, simplesmente para alimentar nossa ignorância. E ainda tem os heróis do futebol que são flagrados bêbados, exibindo armas, na companhia de seus amigos traficantes, assassinos ou incentivando a prostituição de mulheres e de transexuais.
Partindo do pressuposto inicial de que um herói precisa realizar um grande feito e ser reconhecido por um grupo de pessoas, pode-se dizer  que, de certa forma, muitos marginais de nossa sociedade poderiam ser considerados uma legião de heróis, algo como a “Liga da Justiça oprimida”. Pode nem haver uma ideologia que guie as suas ações, sua ideologia são suas vidas, é o simples fato de existir como um ser inferior e desejar viver melhor.
Vejam bem, grandes homens da realidade e da ficção enfrentaram a política e a sociedade de seu tempo, enfrentaram situações adversas para defender suas vidas, sua liberdade. Quer situação mais opressora do que a vida numa favela brasileira? Excluídos de tudo, acuados pelo preconceito, pelo medo, pelo sofrimento, sem oportunidade de crescimento pessoal, passando fome, desejando carros, desejando andar bem vestidos, possuir status, viajar, serem felizes como nas propagandas de margarina... Simplesmente o bandido não aceita sua condição humilhante de submissão, poderia até vencer com um esforço sobre-humano jogando conforme as regras do mundo capitalista, mas a corrida é injusta, então ele luta com as armas que tem, transgride as normas, não aceita o sistema imposto e, mesmo sabendo dos riscos legais que corre, podendo ser preso, podendo ser morto, rompe com o sistema e tenta sobreviver ao caos ou construir uma realidade melhor para ele. É preciso muita coragem para virar bandido e não dá nem para acusar de falha de caráter, pois a sociedade não educou a bandidagem com premissas mais humanizadas capazes de realizar esse tipo de reflexão. São seres brutos, homens e mulheres esquecidos na miséria. Simplesmente foi permitido que vidas humanas brotassem dos esgotos, contaminadas pelo ódio, sofrendo as devidas e perversas mutações. Para eles os vilões somos nós e talvez estejam certos.
Ser um herói é relativo.
Não é um texto de apologia ao crime, não se está defendendo a criminalidade. Roubar é errado, matar é errado, prejudica o “nosso mundo”, põe em risco as acomodadas vidas dos cidadãos comuns. Toda a transgressão precisa ser punida, isso é fato, mas convenhamos que o atual sistema (mesmo o Brasil sendo hoje uma das maiores economias do mundo) não educa decentemente, não oferece saúde adequada, não proporciona segurança para a população e exclui grande parte de seus membros. E o pior, parece nem se importar com isso, com exceção nos discursos em tempos de eleição é claro. O sistema é corrupto em todas as esferas, políticos não atuam com seriedade, não são capacitados e acabaram de aumentar seus salários mais uma vez. A sociedade vive uma imensa crise de valores e de individualismo, ninguém se importa com nada, e ainda, hipocritamente, exalta-se que o brasileiro não desiste nunca e é um povo feliz.
No fundo cada um sabe e sente o que é certo e o que é errado, simplesmente o certo é o que for melhor para todos, e não apenas para uma minoria, ponto final. Mas ninguém quer agir, a consciência e a prática cidadã estão em estado de hibernação. Chegam a criar super heróis de ficção para suprir a anestesiada necessidade de se fazer alguma coisa no mundo real.
Efetivar a mudança é complicado, é preciso de pessoas informadas, capazes de raciocinar e agir. Naturalmente existe o medo de se perder competitividade na individual corrida para ver quem será mais bonito e mais rico no final das contas. Poucos querem se envolver e começar a pensar ética e coletivamente. E nem super poderes são necessários, basta votar direito, cobrar resultados, exigir punições rígidas para os corruptos, vigiar as empresas, as lideranças sociais e realmente se importar com qualidade de vida e dignidade para todos.
E mesmo que o milagre da conscientização coletiva aconteça, tome cuidado, pois na maioria das vezes, a mídia é a grande “Kriptonita” social, mantém homens e mulheres ocupados com novelas, futebol, músicas pífias e estímulo ao consumo, ela amolece o músculo da imaginação e das discussões que realmente importam para o Brasil se tornar numa nação de verdade e não uma grande e mal contada piada.

Autor: Marcelo Trilha