Texto antigo, mas ainda não publicado.
Nós criamos
monstros
Se
mordido vira vampiro. Se arranhado vira lobisomem. Se deixou algo inacabado
para resolver vira assombração. E ainda tem morto vivo, E.T., chupa cabra e até
bicho papão. Experiências, maldade humana, ocultismo, vingança, contatos com o
sobrenatural ou puro azar geram os monstros da ficção e do imaginário popular.
Mas estes bichinhos não são de nada se comparados ao que temos visto ao nosso
redor e ao que tira o sono daqueles que ainda convivem com um pouco de sanidade
e bom senso.
Nos grandes
centros urbanos já se pode perceber nitidamente esta questão. A massa excluída
cresce e se torna incontrolável. Só o Rio de Janeiro possui mais de 150
favelas, mas o caos já transcendeu há tempos estes espaços e se espalha por
capitais e cidades do interior de vários estados brasileiros. A violência
atingiu níveis absurdos. O consumo de craque explodiu e está deixando marcas
negras e profundas na sociedade brasileira. Hordas de viciados formam guetos em
praças e ruas, são vidas desperdiçadas e um sério risco social. Uma
significativa parte dos jovens atuais consomem bebidas e drogas em excesso,
pensam apenas em “baladas”, sexo e consumo e não se importam com os problemas
do mundo real e com o futuro da sociedade. A mídia incentiva este comportamento
negativo visando audiência e lucro. Para quem não tem condições de freqüentar
apenas lugares elitizados, circular de carro e pagar por proteção, acaba
perdendo a liberdade de ir e vir e tem de conviver com o risco de vida e a constância
do medo.
A maioria das
pessoas não tem condições de racionalizar sobre os reais problemas que os
cercam e de agir de forma eficiente, pensando em soluções. Vamos a um exemplo: a
população fica irada e inconformada quando um estupro acontece. E deve ficar
mesmo, quem pratica uma barbárie dessas deve ser punido de maneira severa de
acordo com a legislação brasileira. Mas todos deveriam refletir também que este
suposto criminoso é fruto da sociedade que criamos. Veja bem, se ele cresceu em
condições desfavoráveis de miséria, com uma família desorganizada, num contexto
de violência, às vezes sendo abusado sexualmente também, freqüentando uma
escola deficiente, sem acesso a cultura e a oportunidades de mudança e, ainda,
quando liga a televisão ou escuta músicas, em sua deformada formação
intelectual, é inundado por conteúdos alienantes e induzido a uma afirmação de
que status e poder estão ligados a sua capacidade de adquirir bens materiais e de
que a mulher, conforme anúncios publicitários, grupos musicais de sucesso,
novelas..., é valorizada somente por sua beleza, pelo seu corpo e pela sua
capacidade de sedução. Neste contexto, a personalidade feminina não é
relevante, não se visualiza a mulher de forma humanizada, como um ser sensível
e criativo, mas como um objeto para uso do prazer masculino. Desta forma, se é
considerada apenas uma coisa, pode ser maltratada, espancada e abusada, pois é
uma embalagem sem sentimentos. Isso sem contar que a super exploração do sexo
na TV afeta diretamente a sua libido, estimulando seus instintos primitivos e
nocivos. Claro que muitas pessoas passam por todas estas mazelas e jamais irão
estuprar ou machucar alguém, mas não se pode negar que estes fatores irão
induzir a formação de indivíduos com desvios de personalidade. Portanto, não é só ele que deve ser condenado.
Araguaína
tornou-se uma cidade grande e juntamente com sua população também estão
aumentando problemas como trânsito, violência, drogas, lixo, ecologia, dengue...
O que deve crescer também é a responsabilidade cidadã de todos os setores de
nossa cidade para que conquistemos qualidade de vida de forma coletiva e
evitemos maiores transtornos futuros. Mas vamos concentrar o debate em nosso
universo acadêmico: por exemplo, o estudante que vota mal e não acompanha o seu
candidato, que estaciona sua moto em lugar errado, que joga o seu lixo no chão
da cantina ou nas ruas da cidade, que não se informa e gasta o seu tempo só
escutando os “rebolations” da vida e organizando festas tem culpa sim. Está
ajudando a fortalecer o ninho dos monstrinhos.
Curta a vida, mas não só isso, respeite
a vida, o próximo, aprecie a arte, a ciência, a diversidade, leia muito, procure
compreender o mundo e se posicione em prol de um futuro melhor.
O monstro da
nossa era se alimenta de apatia, de ignorância e de indiferença. Ele está
gordo, forte e mostrando suas garras. E o pior, se não começarmos a agir agora
e mudarmos de atitude, não haverá Van Helsing, Caça Fantasmas, Chuck Norris,
bala de prata, ritual, alho ou estaca de madeira que dêem jeito.
Nossa geração
está deixando um nefasto legado social, ecológico e cultural para o futuro.
Como o Dr. Frankenstein, nós criamos monstros.
Como o Dr. Frankenstein, nós criamos monstros.
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