quarta-feira, 15 de maio de 2013

Nós criamos monstros


Texto antigo, mas ainda não publicado.

Nós criamos monstros     

 Se mordido vira vampiro. Se arranhado vira lobisomem. Se deixou algo inacabado para resolver vira assombração. E ainda tem morto vivo, E.T., chupa cabra e até bicho papão. Experiências, maldade humana, ocultismo, vingança, contatos com o sobrenatural ou puro azar geram os monstros da ficção e do imaginário popular. Mas estes bichinhos não são de nada se comparados ao que temos visto ao nosso redor e ao que tira o sono daqueles que ainda convivem com um pouco de sanidade e bom senso.
Nos grandes centros urbanos já se pode perceber nitidamente esta questão. A massa excluída cresce e se torna incontrolável. Só o Rio de Janeiro possui mais de 150 favelas, mas o caos já transcendeu há tempos estes espaços e se espalha por capitais e cidades do interior de vários estados brasileiros. A violência atingiu níveis absurdos. O consumo de craque explodiu e está deixando marcas negras e profundas na sociedade brasileira. Hordas de viciados formam guetos em praças e ruas, são vidas desperdiçadas e um sério risco social. Uma significativa parte dos jovens atuais consomem bebidas e drogas em excesso, pensam apenas em “baladas”, sexo e consumo e não se importam com os problemas do mundo real e com o futuro da sociedade. A mídia incentiva este comportamento negativo visando audiência e lucro. Para quem não tem condições de freqüentar apenas lugares elitizados, circular de carro e pagar por proteção, acaba perdendo a liberdade de ir e vir e tem de conviver com o risco de vida e a constância do medo.    
A maioria das pessoas não tem condições de racionalizar sobre os reais problemas que os cercam e de agir de forma eficiente, pensando em soluções. Vamos a um exemplo: a população fica irada e inconformada quando um estupro acontece. E deve ficar mesmo, quem pratica uma barbárie dessas deve ser punido de maneira severa de acordo com a legislação brasileira. Mas todos deveriam refletir também que este suposto criminoso é fruto da sociedade que criamos. Veja bem, se ele cresceu em condições desfavoráveis de miséria, com uma família desorganizada, num contexto de violência, às vezes sendo abusado sexualmente também, freqüentando uma escola deficiente, sem acesso a cultura e a oportunidades de mudança e, ainda, quando liga a televisão ou escuta músicas, em sua deformada formação intelectual, é inundado por conteúdos alienantes e induzido a uma afirmação de que status e poder estão ligados a sua capacidade de adquirir bens materiais e de que a mulher, conforme anúncios publicitários, grupos musicais de sucesso, novelas..., é valorizada somente por sua beleza, pelo seu corpo e pela sua capacidade de sedução. Neste contexto, a personalidade feminina não é relevante, não se visualiza a mulher de forma humanizada, como um ser sensível e criativo, mas como um objeto para uso do prazer masculino. Desta forma, se é considerada apenas uma coisa, pode ser maltratada, espancada e abusada, pois é uma embalagem sem sentimentos. Isso sem contar que a super exploração do sexo na TV afeta diretamente a sua libido, estimulando seus instintos primitivos e nocivos. Claro que muitas pessoas passam por todas estas mazelas e jamais irão estuprar ou machucar alguém, mas não se pode negar que estes fatores irão induzir a formação de indivíduos com desvios de personalidade. Portanto, não é só ele que deve ser condenado.
Araguaína tornou-se uma cidade grande e juntamente com sua população também estão aumentando problemas como trânsito, violência, drogas, lixo, ecologia, dengue... O que deve crescer também é a responsabilidade cidadã de todos os setores de nossa cidade para que conquistemos qualidade de vida de forma coletiva e evitemos maiores transtornos futuros. Mas vamos concentrar o debate em nosso universo acadêmico: por exemplo, o estudante que vota mal e não acompanha o seu candidato, que estaciona sua moto em lugar errado, que joga o seu lixo no chão da cantina ou nas ruas da cidade, que não se informa e gasta o seu tempo só escutando os “rebolations” da vida e organizando festas tem culpa sim. Está ajudando a fortalecer o ninho dos monstrinhos. 
Curta a vida, mas não só isso, respeite a vida, o próximo, aprecie a arte, a ciência, a diversidade, leia muito, procure compreender o mundo e se posicione em prol de um futuro melhor.
O monstro da nossa era se alimenta de apatia, de ignorância e de indiferença. Ele está gordo, forte e mostrando suas garras. E o pior, se não começarmos a agir agora e mudarmos de atitude, não haverá Van Helsing, Caça Fantasmas, Chuck Norris, bala de prata, ritual, alho ou estaca de madeira que dêem jeito.
Nossa geração está deixando um nefasto legado social, ecológico e cultural para o futuro. 
Como o Dr. Frankenstein, nós criamos monstros. 




 



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