terça-feira, 9 de julho de 2013

Combustão espontânea



Você tem bom gosto
Uma mente instigante
Recebeu atenção adequada dos pais e mestres
Teve acesso a educação
Degustou culturas variadas
Populares, sofisticadas e alternativas
Soube separar o trigo do joio
Aprecia vinhos
Conversas surpreendentes
Amigos estranhos e encantadores
Conhece livros
Pesquisa filmes
Não vive sem música
Você gosta de dançar
É quase incorruptível
Combate o erro
As vezes erra
Você possui um particular senso de humor
Sarcasmo em excesso também
Anda tentando se controlar
Mas as vezes descuida e chuta o balde com força
Você gosta de ver o que se esconde por trás da arte torta
Acha bom que ela seja torta
Você não suporta idiotas
Considera a civilização estúpida
Parece estranho e revoltado
Mas é feliz em seu mundo imaginário
Só que é ruim viver acuado assim
Pelo imenso e perturbante mar de ignorância alheia
No plano real o mundo é cruel
E você um dia será queimado na fogueira
Não na inquisitória fogueira das bruxas
Mas na fogueira da estupidez humana
Fogueira psicológica
Fogueira de almas
Fogueira de vaidades
Fogueira de inveja
Fogueira de incompreensão
Fogueira de arrogância
Fogueiras alimentadas pelo medo dos covardes
E o pior é saber que você também acende algumas destas fogueiras
Você também incita o fogo
Gravetos, paus de lenha ou gasolina
Você arde imperfeição
Você pode nem perceber
Ou sofre por perceber e tenta mudar
Justo você que sempre quis evitar as queimadas
E ser sustentavelmente feliz nesse ecossistema existencial

Pode brotar uma cachoeira ou uma fogueira de seu peito
Ou um pouco dos dois
Água e fogo
Do choque deve surgir a fumaça que embaça a sua visão
E te torna maravilhosamente humano
Escolha um caminho
Siga adiante
Não tem jeito
Esse é o único jeito


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