Este blog é um arquivo de meus escritos, deixando as produções relevantes aqui para que não se percam no tempo.
Encontrei em minhas antigas pastas o arquivo de minha monografia de conclusão de graduação na Universidade. Na época foi motivo de grande orgulho: meses de pesquisa, um tema instigante e nota máxima na avaliação. Sei que os anos tornaram partes do texto bastante desatualizadas (por exemplo: os termos marketing de guerrilha e marketing viral nem existiam na época), mas o documento ainda serve para uma divertida e informativa leitura.
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA
MARCELO TRILHA MUNIZ
Professora orientadora:
Miriê Helena Tedesco
Passo Fundo, outubro de
2001
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Introdução
Este estudo aborda a questão do impacto do golpe
publicitário num planejamento de campanha. Trata desta forma diferenciada de
comunicar uma idéia com a intenção de satisfazer as necessidades do anunciante
em atingir determinados públicos com eficácia, tendo em vista alcançar melhores
resultados mercadológicos.
Os termos publicidade e propaganda não serão tratados com
distinção neste estudo, visto que ambos têm o mesmo sentido, pois como afirma
Aldrighi (1995, p.57) “a propaganda é uma tática mercadológica, um instrumento
de vendas” tendo, então, o mesmo sentido que a publicidade.
Este estudo, com sustentação teórica em bibliografia
recente, sendo encontrados os registros mais objetivos em documentos de acesso
exclusivo no meio eletrônico, mostra a importância de um assunto que envolve o
público, visando a atingi-lo pela comunicação de um produto e/ou serviço, com
objetivos mercadológicos específicos, comunicando uma mensagem causadora de
impacto.
São constatadas algumas situações em que se tem explorado o
golpe publicitário no contexto dos anunciantes, nas mais diversas áreas da economia,
com o intuito de divulgar algum produto.
O assunto “golpe publicitário” não é novo, em decorrência de
seu pouco uso, em contraste com as mídias convencionais, é pouco comentado e
documentado, mas acredita-se ser um assunto que mereça receber maior atenção no
meio publicitário, pela comprovação do cumprimento dos objetivos estratégicos
que algumas de suas aplicações resultaram.
Um golpe publicitário, devidamente aplicado, traz no seu
bojo a intenção de atingir o receptor da mensagem com seu conteúdo mercadológico,
ocultado como se não fosse parte integrante da comunicação comercial de um
anunciante. Grande pode ser a sua força multiplicadora, caso consiga envolver
um ou mais públicos curiosos para saber mais sobre o assunto que se apresenta,
de certa forma, mascarado pela tipologia dessa publicidade. Na verdade, um
golpe publicitário está alicerçado numa mentira ou numa verdade incompleta,
especialmente preparada para chamar a atenção do público receptor da mensagem.
O objetivo deste estudo não é analisar ou avaliar a questão
da ética na utilização do golpe publicitário. A intenção é constatar a sua
existência e seu êxito quando aplicado de forma adequada e num momento
oportuno, como é o caso da campanha de divulgação do filme A Bruxa de Blair.
No desenvolvimento do estudo, pretende-se verificar o
impacto do golpe publicitário, diante da seguinte problemática:
Como o golpe
publicitário pode gerar impacto sobre o público e determinar o alcance dos
objetivos numa campanha publicitária?
Buscar inovações tem sido a preocupação de muitos
profissionais, nas diferentes áreas da atividade humana e, não poderia ser
diferente na área da comunicação e, em especial, no campo da publicidade,
trabalho esse que utiliza técnicas específicas para sua elaboração e, como em
vários outros ofícios, depende da criatividade.
Inovar em comunicação pode significar introduzir novidades,
ressaltando o que ainda não foi feito, para chamar a atenção daquilo que se
pretende transmitir como efeito final no processo de comunicação ou ainda,
apresentar algo que já foi executado de uma forma diferenciada.
Na publicidade as novidades têm também a finalidade de gerar
impacto, sobre um ou mais públicos que se vêem inseridos num universo, povoado
de informações, para um determinado aspecto que se deseja ressaltar.
Uma inovação que se constata na publicidade, talvez não tão
nova mas ainda pouco utilizada, é o golpe publicitário, que pode ser um
elemento impulsionador de uma campanha se aplicado em situações e momentos
oportunos.
O golpe publicitário nada mais é do que a exploração de uma
idéia, mediante uma forma incomum de comunicar, gerando impacto, interesse,
talvez polêmica, fazendo com que o público alvo comente a idéia visando atingir
um objetivo mercadológico, previamente estabelecido.
A importância do golpe publicitário reside no fato de que
ele pode ser um potente instrumento de atuação na divulgação de um produto,
trazendo bons resultados para o anunciante e publicitário, que tem em suas mãos
mais uma alternativa que poderá ser oportunamente utilizada.
Tendo como objetivo a realização de estudo sobre o impacto
da utilização do golpe publicitário no filme A Bruxa de Blair, procurar-se-á,
neste trabalho, desenvolver um percurso investigativo buscando-se:
a) Levantar casos de golpes publicitários, identificando o
porquê de sua construção, a forma de apresentação e, devido a pouca
documentação, se possível, o resultado alcançado;
b) Relatar o site oficial sobre o lançamento do filme A
Bruxa de Blair;
c) Ressaltar a importância da publicidade para o anunciante
atingir um mercado;
d) Refletir sobre o impacto que o golpe publicitário causa
num público, relatando a estratégia do filme A Bruxa de Blair;
e) Levantar informações e realizar um relato sobre o filme A
Bruxa de Blair;
f) Reunir informações pertinentes para fazer da presente
monografia um subsídio sobre um tema que pode chamar a atenção dos interessados
sobre o assunto;
f) Abordar as questões de criatividade e marketing, além de
relatar sobre publicidade e estratégia.
Nesta abordagem, procurar-se-á inicialmente, apresentar o
filme A Bruxa de Blair, relatando suas características, em diferentes aspectos
sobre essa produção cinematográfica, com a intenção de situar o leitor ao tema
da presente monografia.
No segundo capítulo o enfoque encontra-se voltado à questão
da criatividade e o marketing, bem como suas aplicações e importância no mundo
da publicidade, também será abordada a questão da estratégia e sua importância
numa campanha publicitária.
O terceiro capítulo trata, especificamente, do golpe
publicitário, abordando algumas de suas utilizações, conceituando-o, refletindo
sobre o processo criador e a motivação da criatividade.
Por último, a estratégia utilizada no filme A Bruxa de
Blair, fechando-se, dessa forma, o circuito que se pretende percorrer com este
trabalho. O capitulo final desta monografia, realizada em fontes
diversificadas, conta como o filme alvo do presente estudo foi divulgado,
tornando a sua campanha publicitária um exemplo de sucesso, confirmando que
apostar no marketing com estratégia e criatividade pode determinar que um
trabalho de publicidade transforme-se em possibilidade do anunciante atingir
efetivamente seus objetivos mercadológicos.
Sem dúvida, o golpe publicitário é um tema interessante e
tem a sua importância no contexto da publicidade, podendo desafiar ou não o
receptor que, ao ser atingido pela estratégia de lançamento de um filme, faz
desencadear interesses, polêmicas e comentários nos mais diferentes segmentos
da sociedade.
Apresentação do produto: A Bruxa de Blair
“Três jovens desaparecem em uma floresta enquanto rodavam um
documentário sobre a lenda de uma bruxa. Um ano depois tiveram seu material
encontrado.” (Sadoviski, 1999, p. 36)
Para Sadovski (1999, p. 36), o filme é um fenômeno do cinema
independente, pois com um custo de produção de aproximadamente trinta mil
dólares faturou, apenas no primeiro mês de exibição, cerca de cem milhões de
dólares. Pode ser considerado uma das produções mais rentáveis da história do
cinema, pois com um baixo orçamento rendeu à distribuidora cinematográfica
Artisan uma expressiva soma de dinheiro, isso comparando a grandes filmes de
Hollywood, que apresentam volumosas verbas no seu custo de produção e muitos
não chegaram a ter um lucro muito maior do que A Bruxa de Blair .
A Bruxa de Blair narra a trajetória de três estudantes
de cinema que saem para rodar um documentário sobre a lenda de uma bruxa e
nunca mais retornam. A trama é progressiva, uma narrativa crescente de pânico,
desespero e impotência diante da situação a que eles foram submetidos. Estão
perdidos numa floresta sem ter a quem recorrer, sendo que durante as noites em
que passam por essa angustiante experiência, algo sempre acontece como, por
exemplo, sons estranhos ao seu conhecimento de mundo. Neste contexto, são
somados a fome e o medo de morrer, formando uma situação de enfrentamento do
desconhecido num clima de suspense.
Trago (2001) cita o filme divulgado pelos distribuidores
sobre o filme ser uma edição, montada com o material encontrado dos estudantes
de cinema desaparecidos, que estavam numa mochila enterrada no chão de uma
velha cabana na floresta de Burkittsville. Essa informação é passada aos
internautas, como se fosse verdadeira no site oficial do filme.
“A idéia não é exatamente original: em 1979, o
italiano Ruggero Deodato fez Canibal Holocaust, que mostrava uma equipe de
pesquisadores que era devorada pela tribo de canibais que eles haviam ido
pesquisar – o que só foi descoberto depois que uma Segunda equipe encontra o
material gravado pelo primeiro time. A diferença é que Balir Witch parece
real”. (Sadoski, p.37, 1999)
A Bruxa de Blair não dá ao
público violência gratuita ou sustos momentâneos, transmite um sentimento
contínuo de terror, só percebido por quem se dipôr a dar uma maior atenção ao
filme, quem parou para pensar e analisou o seu formato e as suas cenas com
“alto nível de terror psicológico”. Quem assistiu a Bruxa de Blair, como a
qualquer filme de Hollywood, sem procurar absorver a tensão da história, deve
tê-lo achado monótono pois ele foge às regras do cinema convencional, não tem
trilha sonora, algumas imagens são desfocadas e não possui, por exemplo,
operador de câmera pois os próprios atores filmaram tudo. (Perazzo, 2001)
“Existe uma forma rápida e
correta de traduzir Blair Witch: estupendamente fantástico. Meu corpo reagiu ao
filme por mais que eu soubesse que era mentira.” (Abreu, 2001)
“Muito experimental, pouco
assustador, o filme é só marketing, sem ele passaria desapercebido”. (Fabão,
2001)
Saçashima (2001) afirma que “um dos fatores que destingue
uma grande obra cinematográfica das demais é o uso criativo da forma para
expressar um conteúdo já abordado.” O enredo do filme é simples, oferece ao
público um documentário coordenado por estudantes de cinema sobre uma bruxa. Esta
forma de abordagem do assunto dá um clima de realidade a ficção, permitindo a
identificação do telespectador com o que está assistindo. É raro hoje algum
filme apresentar temas novos às telas, mas alguns diretores conseguem inovar na
forma de contar a mesma história, este é o caso de A Bruxa de Blair.
Para Ikeda (2001), a estratégia do filme não era fazer um
filme de terror e sim inserir elementos entre o documentário e a ficção. Isso
auxiliou ao público, que induzido por uma campanha publicitária, levantou
várias questões sobre o filme. Indagavam se o que assistiam ou poderiam
assistir era real, se haviam sido enganados por uma produtora de cinema e tudo
não passava de uma estratégia de marketing ou, se os produtores do filme
contrataram os atores para entrar na floresta com equipamento de filmagem e
assustá-los, fazendo-os acreditar que realmente existia uma bruxa. O filme
causou um grande impacto na juventude americana, que ficou cercada de dúvidas e
demorou a destinguir a linha entre o real e o imaginário na trama, acerca da
personagem-titulo do filme. Este fato leva à percepção do telespectador para
dentro da história, fazendo-o acreditar que aquilo poderia estar acontecendo
com ele mesmo.
Ainda sobre o assunto, Saçashima (2001) afirma que forma-se uma
relação de cumplicidade pela maneira como o filme foi executado, o que convida
o telespectador a ser o quarto personagem no enredo. A Bruxa de Blair tem um
aspecto de produção caseira, não parece que foi elaborada pelos grandes
estúdios americanos, por especialistas na sétima arte e, sim, por pessoas
comuns.
No site brasileiro oficial de A Bruxa de Blair, que imita a
página americana e foi nos Estados Unidos, a principal responsável pelo sucesso
do filme, é um cronograma que expõe através de uma linha do tempo a lenda da
bruxa desde 1785, relacionando datas e fatos, até o dia em que as câmeras dos
estudantes desaparecidos foram encontradas na mata e, devolvidas às famílias
das supostas vítimas.
Rodrigues (2001) escreveu um artigo que se encontra na Internet,
no qual aponta a empresa catarinense Soft Rent como a responsável pela
confecção do site brasileiro, a pedido da Europa Filmes, distribuidora do filme
no país. A única diferença do site brasileiro são dois itens, um deles é o
e-mail da bruxa, que é uma galeria de cartões postais e o outro item é
histórias de bruxas no Brasil, com uma abertura para quem quiser enviar mais
material sobre o assunto. Umas das intenções do site é contar a história da
bruxa até os estudantes chegarem na cidade de Burkestiville para rodar o
documentário, dando informações que não estão no filme sobre a suposta
feiticeira.
De certa maneira, os dados da página na Internet introduzem
a história e aumentam as expectativas do público, fornecendo um conhecimento
maior sobre a lenda da bruxa e da floresta assombrada daquela cidade. O site é
um complemento inicial do filme, contando uma prévia da trama que não está
incluída na filmagem de A Bruxa de Blair e auxilia a situar o telespectador no
enredo. O site visa explicar quem foi a Bruxa de Blair; o filme acompanha a
trajetória de estudantes que, na época contemporânea, vão produzir um
documentário sobre a suposta lenda de Burkestiville, e narra a experiência
apavorante a que os cineastas foram submetidos.
Um dos diferenciais do filme foi a forma como foi produzido.
Segundo Braia (2001), o filme parece ser uma grande fraude cinematográfica, uma
jogada de marketing e não aprova também o estilo de filmagem adotado pelos
diretores. Eles selecionaram os atores não pela capacidade de interpretação e
sim improvisação. Além do mais, o filme não tinha um roteiro definido. Os
atores não tinham contato com os diretores durante a execução do filme,
recebiam ordens, geralmente através de bilhetes e as seguiam. A orientação era
de jamais desligar as câmeras de filmagem.
A primeira parte do filme é fundamentada nos preparativos
para a produção do documentário e são incluídas entrevistas na cidade. Depois,
seguindo as novas orientações do diretor do filme, eles entram na floresta para
visitar lugares que tinham alguma relação com a bruxa, acamparam na mata em
pontos diferentes por sete dias e eram assustados pela equipe de produção que,
à noite, provocava ruídos na floresta, colocava estranhos objetos próximos à
barraca, como bonecos voodu e deixava bilhetes de orientação, apontando o
próximo local a que deveriam se dirigir, tudo visando provocar a discórdia no
grupo. Os bilhetes diziam para desconfiar de Heather, a mulher do grupo, tentar
tirar dela o comando da situação, interferir na realidade através da
manipulação da pessoas. Para a autora do texto, esta prática abre a discussão
sobre até aonde um diretor pode ir para ter cenas mais reais em seus filmes.
Para Craveiro (2001), somente o fato do filme ser
independente e ter alcançado tamanho sucesso já vale o ingresso. Para ele a
história é medíocre para a proporção que tomou, mas alega que o êxito do
projeto está baseado na estratégia de marketing adotada pelo filme, na forma de
filmagem, que fugiu dos roteiros padronizados de Hollywood e conseguiu revelar
uma interpretação mais real dos atores.
Marcel Plasse (Anexo B), jornalista do Estado de São Paulo,
realizou uma entrevista com Eduardo Sanches, um dos diretores do filme,
juntamente com Daniel Murick, no dia 31/07/99.
Plasse (Anexo B), ao falar do filme diz:
“A farsa é tão bem montada, as atuações tão
convincentes – a atuação chega a ser um modo de falar, uma vez que a filmagem
flagra os atores sendo naturais, entrevistando moradores, bebendo, acampando,
dormindo e acordando com o rosto inchado de verdade (...) os desavisados podem
levar a história a sério. Não há monstros ou efeitos especiais, apenas o
escuro, imagens borradas, gritos, imagens hora em cores, hora em preto e
branco.”
Para a filmagem de a Bruxa de
Blair foram utilizadas uma câmera 16 milímetros, sendo os olhos do personagem
Joshua, equipamento de registro sonoro, operado por Michael e uma câmera comum
VHS, que transmite a visão de Heather.
Na entrevista, Sanches cita um
dos casos mais curiosos acerca do filme, sobre um detetive de Nova York, que
levou a história a sério e estava levantando informações sobre o caso do
desaparecimento dos estudantes de cinema em Burkittsville.
Sanches defende que os filmes de
hoje não assustam porque são previsíveis e repetitivos. Juntamente com Daniel
Murick, colega de Faculdade na University of Central Florida, começaram a
pensar um projeto que conseguissem transmitir ao público um sentimento de
horror. Optaram pelo estilo documentário, pois Sanches afirmava ter quando
criança, medo de programas em formato jornalístico que investigasse assuntos
sobrenaturais. Utilizou para produzir A Bruxa de Blair a fórmula de uma antiga
série de TV, chamada “In Serach Of”, que visitava lugares onde ocorriam,
supostamente, fatos que fugiam ao controle da realidade. A baixa verba para a
realização do filme também foi um dos motivos para que optassem pelo formato de
documentário, dessa forma a produção sairia mais barata.
Questionado sobre o roteiro do
filme Sanches afirmou que este não existia no sentido convencional.
“Existia uma trama detalhada, mas não
escrevemos diálogos. Na verdade, nem mostramos nosso tratamento da trama aos
atores, apenas lhes explicamos sobre o que era a história e quem eram os seus
personagens. Eles tiveram de improvisar. Decidimos o elenco pela capacidade de
improvisação dos atores nos primeiros ensaios. Também, não sabíamos o fim da
história até entrarmos na floresta. A base do roteiro é que Heather nunca pára
de filmar, não importa o que ocorra.” (Anexo B)
Os produtores do filme ensinaram
os atores a filmar e quando desejavam que o filme tomasse determinada direção,
deixavam bilhetes com ordens a serem seguidas para os três personagens.
(Plasse, Anexo B)
Greg Hale, juntamente com
Eduardo Sanches e Danile Murick, formaram a Haxan Films. Os três se
encarregavam de seguir os atores na floresta, recolhiam o material filmado,
analisavam e projetavam o outro dia. As imperfeições da filmagem tinham o
objetivo de dar uma sensação de realismo como nas cenas encontradas em
documentários de alto impacto.
“Normalmente, o nosso consciente nos distância
do medo extremo. Porém, se pudéssemos enfraquecer os atores mental e
fisicamente, no final do filme, quando coisas realmente intensas estão
acontecendo, eles estariam em contato com uma parte da pisique que normalmente
não tocamos. O “distanciamento” seria anulado e eles reagiriam de uma forma
mais primitiva.” (Anexo A)
Os atores iam a pontos
pré-determinados, encontravam com outros atores e realizavam as entrevistas
encontradas no filme e as novas ordens eram passadas ao longo do caminho. O GPS
(NT.: sistema de posicionamento global) é um aparelho que permite a localização
em qualquer parte dos Estados Unidos, ele facilitou o deslocamento dos atores e
produtores de um lugar para outro na floresta. Durante as noites, os diretores
iam até os três atores, silenciosamente e com lanternas infra-vermelho para não
serem percebidos. (Anexo A)
Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área
audiovisual do ZAZ como roteirista e diretor. Ao colocar na rede um artigo
criticando a Bruxa de Blair, Gerbase recebeu vários e-mails com opiniões sobre
o filme, opiniões divergentes a respeito dessa produção e registrou, através de
um artigo na Internet, os comentários que julgou mais interessantes. (Anexo C)
Almeida (Anexo C) expõe que
ouviu várias frase na saída do cinema, tais como: “Melhor ir assistir a um
vídeo caseiro”; “o pior filme que já assisti em toda a minha vida” e “eu também
posso filmar um igualzinho”. Para ele, A Bruxa de Blair é uma “obra prima do
medo”, um filme para poucos, para aqueles que dispõe de capacidade de
raciocínio e de vivenciar a história.
“Blair conseguiu me prender pelo simples fato
de ter me levado junto para a floresta e vivenciar todo aquele terror que os
protagonistas passaram. (...) Tive uma hora e meia de tensão. Minha conclusão
dos fatos? Lá vai: todos temos medo, variando de pessoa para pessoa. O filme
tentou atingir alguns. No meu caso, conseguiu plenamente. Portanto, acho que
temos medos diferentes”. Sandri (Anexo C)
“Penso de que a idéia de que o
filme seria algo de terror, suspense macabro, levado às últimas conseqüências,
foi gerado por essa publicidade paralela, seja através da Internet ou críticas
desmedidas.” (Anexo C)
Gerbase (Anexo C) diz que
somente o marketing é inovador no filme e não a idéia, que um filme não é bom
por ser barato e, A Bruxa de Balir apenas tornou-se conhecido pois utilizou a
Internet como “multiplicadora de formadores de opinião positiva.” “Acredito que
os diretores são espertos e podem fazer, no futuro, um bom filme. Mas é bom
lembrar que não se faz arte com esperteza”. Gerbase, ainda afirma que o filme
não é totalmente ruim, pois conseguiu criar uma boa discussão, o que para ele é
sempre saudável.
Zappa (Anexo C) concorda com
Gerbase, pois achou o filme tecnicamente ruim, com uma narrativa muito lenta e
não entende como os cinemas continuam tendo grande público para a Bruxa de
Blair, mesmo que a farsa tenha sido revelada. Max (Anexo C) alega que um filme
tem de sustentar-se sozinho, sem ser preciso criar um clima de realismo para
garantir o sucesso da obra, que é muito longa, apesar de ter apenas oitenta e
seis minutos e monótona.
“O filme dá importância ao medo
e não ao assassino, por isso a gente nem chega a ver a “bruxa”. Quando fui
dormir naquele dia ainda me lembro do medo de estar na situação daqueles três
estudantes.” (Anexo C)
“Tem gente que odiou, tem gente
que amou, mas todo mundo comenta. Eu achei excelente (...) o filme pode não ter
dado muito medo, mas quase explodi de tensão e angústia.” (Anexo C)
A Bruxa de Blair divide
opiniões, desperta polêmicas pela qualidade do filme, que conquistou
admiradores e desafetos, e sobre o golpe publicitário, utilizado em sua
divulgação. Mas entre aspectos positivos e negativos sobre sua produção
cinematográfica fica uma certeza: o filme, independente de terror, A Bruxa de
Blair obteve sucesso e gerou lucro à distribuidora Artisan, a campanha
utilizada cumpriu sua função de levar público aos cinemas e gerar retorno
finaceiro.
ESTRATÉGIA E CRIATIVIDADE DENTRO DO MARKETING
2.1
Criatividade e marketing
Nunca se ouviu falar tanto em criatividade como nos
tempos atuais. Criatividade significa inovar, mudar. É a capacidade de dar
respostas novas e diferentes às situações do dia-a-dia, não somente na área da
comunicação como em todos os ramos do conhecimento humano.
Duailibi e Simonsen Jr. apud Salles (1990, p. XVIII) afirmam que: “antes de usar a
imaginação é preciso acionar a memória” porque para ele, a prática do marketing
é um permanente exercício de criatividade, já que existem homens de marketing
que baseiam sua criatividade numa excelente memória de fatos ocorridos em suas
empresas e em outras para apontar novos caminhos a serem trilhados.
O homem de marketing consciente usa toda sua imaginação, não
apenas para levar adiante projetos já estabelecidos, mas também para detectar
possíveis mudanças que terão influência decisiva sobre a vida de sua empresa,
sobre a vida de outras pessoas e a sua própria vida. Gerald Piel apud Duailibi e Simonsen Jr. (1990) já
advertia que, o espaço entre uma invenção e a sua aplicação hoje, diminuiu tão
rapidamente, tornando-se necessário tentar prever as implicações éticas,
sociais e econômicas de cada produto.
Como já foi definido, criar significa o ato de dar
existência a algo novo, único e original. Em marketing, esse “algo novo e
original” deve partir do princípio que deve ser útil à empresa, à determinada
comunidade de consumidores ou à comunidade em geral.
Ela pode assumir duas formas distintas: a invenção e a
descoberta.
A invenção ou inovação é quando, pela associação de dois ou
mais fatores, chega-se a um terceiro fator que, mesmo tendo parte dos
anteriores, em relação a eles é novo.
Para Duailibi e Simonsen Jr. apud Barnett (1990) quando se dá a inovação, há intima união ou
fusão de dois ou mais elementos, que não estavam anteriormente unidos daquela
maneira. O resultado é diferente. Usando uma analogia biológica, uma inovação é
como o resultado de um cruzamento genético ou híbrido; é totalmente diferente
de cada um de seus pais, mas guarda semelhança com eles em alguns pontos.
Duailibi e Simonsen Jr. apud
Drucker (1990) vai mais longe, para ele a inovação é mais do que um novo
método, é uma nova visão do universo, muito mais de risco de que de acaso ou de
certeza. É um novo jeito do homem se situar no universo, ele cria a ordem
assumida de riscos.
Outros autores também contribuem para definir a invenção
como é o caso de Duailibi e Simonsen Jr.
apud Kneller (1990, p. 03) (ano) que afirma: “a novidade criadora é
extraída do remanejo do conhecimento existente, remanejo que se acrescenta ao
conhecimento.”
Não tendo a pretensão de definir a criatividade sob a forma
de invenção, arrisco minha definição, embasada no conhecimento da ciência, “na
natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, ou seja, em
criatividade, fatos já conhecidos, podem ser encarados como diferentes,
mutantes e serem apresentados com uma nova caracterização, assim como é o mundo
das idéias dos homens.
A descoberta é a outra forma da criatividade, ocorre quando
se percebe que algo já existe e se verbaliza essa constatação, seja através de
uma definição, seja através de uma equação ou fórmulas matemáticas.
Descoberta é, para Duailibi e Simonsen Jr. apud Herkovitz (1990), o encontro
acidental de algo que não se havia percebido antes.
Duailibi e Simonsen Jr. apud
Linton (1990) afirma que descoberta é todo o acréscimo de conhecimento,
enquanto invenção é toda nova aplicação de conhecimento. Para ele, ambas
constituem os pontos de partida para todo o estudo do crescimento e das
modificações culturais, uma vez que, só por esses processos novos elementos
podem ser adicionados ao conteúdo global da cultura humana.
Além da descoberta e da invenção, há um terceiro fator
crucial na criatividade: a intuição, ou o insight,
percepção súbita de uma solução. Em termos gerais, a intuição é a respostas que
se procede à pergunta, e ocorre quando, a partir de dados não conhecidos,
consegue-se gerar novos, que vêm se combinar com a invenção ou para a
descoberta.
Ribeiro et al. (1989, p.134) definem com palavras diretas e
simples esses três fatores quando afirmam que:
“Como se cria? Primeiro, acho que não tem
começo nem fim, é um estado de espírito, é uma coisa que se começa um dia e não
para nunca mais, às vezes até atrapalha, pois a gente não consegue fazer as
coisas como todo mundo faz. Não se consegue vestir como todo mundo se veste ou
morar como todo mundo mora. Começamos a procurar o tempo todo o diferente, até
nas pessoas.”
A criação assume várias formas, entre elas destacam-se as
citadas por Duailibi e Simonsen Jr. (1990):
A imaginação, que é a representação mental daquilo que é
lembrado, ou do que nunca foi apresentado aos sentidos. Neste segundo caso nós
a classificamos como “imaginação criadora”, imagem mental de coisas anteriormente
desconhecidas e nunca apresentadas aos sentidos, seja do receptor ou do próprio
transmissor da comunicação criativa.
A fantasia é a capacidade de representar sem restrições o
novo e o irreal, eventualmente pela combinação de elementos da realidade. A
ficção cientifica, neste sentido, chega a ser fantasia, na medida que apresenta
solução nova, porém a partir de dados da realidade já constatada ou de uma
realidade supostamente possível. Hoje os dados são muito menos desconhecidos,
pois já fazem parte de uma realidade possível, enquanto na época de sua criação
eram de uma realidade não possível.
A criatividade, finalmente, compreendida em si mesmo, é a
capacidade de formar mentalmente idéias, imagens e coisas não presentes ou dar
existência a algo novo, único e original, porém com um objetivo definido. A
criação em si, portanto é diferente da criatividade.
Isso eqüivale dizer que, quando se propositadamente
criativo, a busca de soluções não está baseada nem na fragilidade da fantasia,
nem na facilidade da imaginação, mas na solução de problemas objetivos.
Duailibi e Simonsen Jr apud
Ghiselin.(1990) afirma que a criatividade é processo de mudança ou de
desenvolvimento ou de evolução na organização da vida subjetiva. Há
necessidade, entretanto, de um elemento de surpresa, algo de incomum. Durante o
ato criador, manipulamos símbolos e objetos externos para produzir um evento
incomum para nós e para o nosso meio.
Como exemplo da criatividade com um elemento surpresa é o
humor. O que caracteriza uma anedota é a percepção de uma idéia em dois
sistemas de referências que são consistentes por si mesmos, porém
incompatíveis. Na compreensão de uma piada, o pensamento e a emoção separam-se,
para a sua reorganização, o pensamento estabelece associações totalmente diversas,
gerando um conflito que gera uma tensão emocional que, por sua vez, se resolve
através do riso.
O mesmo processo pode ser estabelecido em alguma surpresa
que, para o consumidor, se resolve através da compra ou da aceitação de um
produto, serviço ou idéia.
Para Ribeiro et al. (1995, p.120):
“Criar é tornar interessante um assunto que às
vezes não é. É aparecer mais do que simplesmente estar presente no espaço de
televisão, jornal ou outra mídias. Criativa é a campanha que consegue que o
consumidor não fique indiferente. Que ele se emocione, ria, sorria ou fique com
água na boca e, principalmente, que tenha vontade comprar.”
À idéia de que no ato criativo deve tocar a “emoção” é
somado o caráter de ludicidade. A criatividade gosta do lúdico e do divertimento,
da mesma forma que a compra nos sugere um sentido lúdico.
Duailibi e Simonsen Jr.(1990, p. 01) sobre esse assunto
colocam que: “Já que Freud encarava a criatividade como uma extensão dos
brinquedos da infância e Marcuse quer a mesma coisa quando propõe a
transformação do trabalho em atividade lúdica...”
Já o marketing é a interação e a integração de todos os
fatores operacionais da empresa e de todas sua atividades funcionais,
orientadas para o consumidor de seus produtos, idéias ou serviços com o
objetivo de tornar ótimos os seus lucros a longo prazo e prover condições de
sobrevivência e expansão para a empresa.
Historicamente, a filosofia de marketing, que iniciava com a
Revolução Industrial era apontada para o processo produtivo e fundamentava-se
sobre quatro pontos básicos:
1) a possibilidade de especialização do indivíduo,
permitindo divisão do trabalho e o conseqüente aumento do seu rendimento;
2) o aproveitamento de instrumentos especiais e “máquinas”
inventadas pelos próprios trabalhadores para amenizar para seu trabalho;
3) a natural tendência do homem para barganhar aqueles bens
que não sabia (ou não queria) produzir, por produtos de sua fabricação;
4) a existência de recursos (capital), que permitisse
remunerar o seu trabalho especializado.
A Segunda Guerra Mundial deu novo impulso ao processo
produtivo com desenvolvimento da tecnologia, a ponto de ameaçar a sua própria
continuidade; bens e produtos eram criados em quantidades que cresciam
rapidamente, provocando tais tensões e esforços no mercado, que os próprios
estímulos ao desenvolvimento tecnológico poderiam ser destruídos.
Duailibi e Simonsen Jr. (1990) assinalam que o final dos
anos quarenta marca o início da Revolução de Marketing, quando a distribuição e
o consumo deixaram de ser meros momentos da produção, como queria Marx, e
passaram a ser os seus fatores dominantes.
Na década de cinqüenta voltou-se a atenção para a tarefa de
fazer fluir de forma eficiente aqueles bens e produtos para os consumidores e
houve uma reformulação na filosofia empresarial, deslocando a ênfase da
produção para a distribuição.
Em síntese, teoricamente e tecnologicamente existem recursos
para produzir qualquer produto. Fazer o produto chegar de forma eficiente às
mãos de consumidor é que exige toda uma nova atitude de trabalho. Os atritos
econômicos que existem nos canais de distribuição são da mesma ordem de
grandeza (ou maiores) que aqueles existente na produção.
O marketing, assim, busca adaptar a empresa as
características do mercado, extraindo desta adaptações o cumprimento dos
objetivos empresariais.
Surge então um novo profissional no campo empresarial, onde
a criatividade é a tônica de seu trabalho.
Estudo sobre pessoas criativas demonstram que a criatividade
está diretamente relacionada com a inteligência. Quanto maior sua capacidade de
absorção e retenção de informações, maior será o seu Q.I. Segundo Duailibi e
Simonsen Jr. apud Guilford (1990),
essa inteligência deve ser treinada para superar os bloqueios às vezes impostos
pelos próprios conhecimentos, pois a pessoa que é capaz de produzir um número
maior de idéias, quaisquer que sejam elas, no mesmo espaço de tempo, tem uma
chance maior de Ter idéias significativas.
Deve se fazer uma distinção entre o estudante brilhante e o
criativo. O primeiro é um “aprendedor”, muito eficiente enquanto o segundo é
aquele que pega tudo que aprende e coloca em combinações novas e inesperadas.
Outro conceito errôneo é o que de certas pessoas nascem com
centelha criativa. Todas as pessoas são criativas. A criatividade é universal,
independendo de raça, nacionalidade ou etnia, é óbvio que há diferença de grau
de criatividade entre os gênios e os mortais comuns.
Outra crença equivocada com relação à criatividade é o fato
de ela ser resultante de inspiração e, por isso, exclusiva quase sempre dos
artistas. O próprio Michelangelo dizia que se soubessem de seu esforço não o
chamariam de gênio.
Ribeiro et al. (1995, p.149) enfatizam o lado pejorativo do
artista:
“Existe uma lenda segundo a qual todo o artista
tem que ser vagabundo e boêmio. Então, o criativo, em agência seria aquele cara
que chega às onze horas, sem nenhuma dose de responsabilidade. Suponhamos que
tenha talento, mas nenhuma disciplina (...) Os melhores criadores que conheço
são talentosos e disciplinados, trabalham muito e são sérios. Não o sério
careta, mas o sério confiável. Sério onde precisa. Sério que pode brincar.”
Na verdade, não basta que a pessoa seja inteligente e,
dentro de seu campo, competente. A pessoa criativa, como o homem de marketing
deve ser independente e idiossincrástica. Geralmente as inovações se originam
de uma persistência que chega a se aproximar da obsessão. Outras
características, citadas por Duailibi e Simonsen Jr. (1990) valem a pena
registrar:
a) A pessoa criadora e o homem de marketing, embora
persistentes, não se apega a abordagens inadequadas ao problema. Ambos tem um
objetivo definido ou, pelo menos, uma noção do objetivo a ser atingido;
b) a pessoa criativa tem de ser, obviamente, pensadora e
introspectiva, a criação é muito mais de dentro para fora. Mas essa pessoa não
pode ser pensadora a ponto de ser inerte ou indecisa;
c) a pessoa criativa é capaz de associar idéias de campos
diferentes, mas que não sejam tão desconexas, que não consiga, depois,
transmitir essas idéias às outras pessoas;
d) a pessoa criativa ou homem de marketing não devem padecer
da impossibilidade de questionar hipóteses consagradas pelo tempo. É uma
característica do homem de marketing, exatamente esse inconformismo que o leva
a questionar todas as soluções que mesmo que algoriticamente, vem dando certo
através do tempo;
d) a pessoa criativa e o homem de marketing tem uma grande
flexibilidade para se adaptar rapidamente a novas situações. A rigidez não é
uma de suas características;
e) a pessoa criativa em marketing tem grande capacidade de
gerar um trabalho e em seguida voltar-se para a criação de algo novo, ao invés
de se agarrar através do tempo àquele trabalho antigo;
f) a pessoa criativa tem energia física. Há, parece, uma
forte relação entre energia física e energia mental. Claro, há exceções, mas a
essa é a regra;
g) o administrador criativo é aquele que tem a tendência de
gerar novos negócios. Para isso, sabe utilizar-se da tecnologia e dos recursos
à sua disposição, dos sistemas já existente.
2.2
Publicidade
A publicidade e propaganda, na concepção de Ribeiro et al.
(1989) é uma tática mercadológica. Um instrumento de venda. Ela trabalha com
arte, criatividade, raciocínio, moda ,cultura, tecnologia, enfim, em complicado
composto de valores e manifestações da capacidade humana.
Os teóricos na área de comunicação apontam duas correntes: a
primeira supõe que a publicidade provoca a propensão a comprar e consumir
determinados produtos através da formação de atitude e, a segunda, pressupõe
que a propaganda age mais diretamente sobre o comportamento. A propaganda leva
o consumidor a compra do produto sem que o mesmo se dê conta de que modificou
sua forma habitual de pensar e agir.
Ribeiro et al. (1989) desdobram em três dimensões a
predisposição psicológica geral em relação a determinado objeto, relacionado ao
conceito de atitude que são:
a) A dimensão cognitiva, que diz respeito a conhecimentos,
crenças, convicções, informações, opiniões, enfim, todo um conjunto de
elementos conscientes que um indivíduo adquire, através de aprendizado sobre um
determinado objeto;
b) a dimensão afetiva, que se relaciona com toda a espécie
de sentimentos que esse determinado objeto desperta no indivíduo;
c) a dimensão conativa, que está relacionada à predisposição
que o indivíduo tem para agir em relação a este objeto. Por necessidade, ou
condicionamento, o ser humano pode estar predisposto a se comportar de certa
forma em relação ao objeto de maneira mais ou menos independente do que se
sente em relação a ele.
De acordo com a teoria da dissonância cognitiva, explicaria
essa forma de agir, onde a publicidade, se for bem sucedida e formar atitudes
adequadas, levará o consumidor à compra.
Já a segunda teoria, faz o caminho inverso. A publicidade
deixaria impressões e imagens, conscientes ou inconscientes, que se
manifestariam através da compra. As atitudes, neste caso, se formariam após o
uso continuado do produto com racionalização da escolha.
Ribeiro et al. (1989, p. 60) criticam as duas correntes
básicas sobre o funcionamento da persuasão publicitária, quando afirmam que:
“A corrente atitudinal privilegia a dimensão
educativa da propaganda. Superestima o poder à medida que supõe ser possível
provocar mudanças fundamentais em valores, crenças e sentimentos, que têm raízes
em todo um sistema sócio-cultural (...) a corrente de inspiração mais
comportamentalista também superestima o poder da propaganda como condicionador
do comportamento humano. Supõe um consumidor obediente, sem vontade e
convicções próprias...”
Embora criticadas essas duas tendências, elas mostram que
não existe uma única forma de funcionamento da publicidade, nem tampouco uma
propaganda mais eficiente. Deixando de lado a forma como funciona, pode levar o
profissional de marketing atender mais a sua complexidade e sua natureza
prática e adaptativa, sem tentar reduzi-la a forma e simplificações teóricas.
Obviamente, que não se deve atribuir somente a publicidade o
sucesso das vendas, como também como ela também não é o único fator responsável
pela persuasão do consumidor, já que outros fatores interagem e agem sobre o
consumidor no momento da efetivação de uma compra.
Ribeiro et al. (1989)apresentam um esquema idealizado para
se ter sucesso com o produto lançado no mercado, que se segue abaixo:
O consumidor tem predisposições básicas que podem ser
problemas, necessidades, crenças, sentimentos e preferências definidas em
relação à categoria de produto em questão.
Através de um estímulo inicial da propaganda, a promessa de
uma nova marca que o faz alimentar expectativas que estimulam o seu desejo e
interesse em experimentá-las.
Quando se dá a oportunidade, o desejo despertado se traduz
em compra da marca.
Após a compra, dá-se o consumo, quando o desempenho da marca
é avaliado e o consumidor confirma através de sua experiência e veracidade da
promessa da propaganda.
A satisfação inicial gera no consumidor disposição positiva
para receber as repetições da propaganda, que é vista como uma confirmação de
sua experiência positiva, passando a partir daí a funcionar como um reforço
positivo que sustenta uma atitude favorável em relação à marca.
E assim, a atitude positiva, suportada pelo reforço
publicitário, favorece a continuidade da compra, a formação do hábito de uso e
a desejada fidelidade à marca.
A figura abaixo é uma esquematização desse modelo ideal do
processo de persuasão, colocado por Ribeiro et al. (1989):
Na verdade, a persuasão do consumidor engloba as duas correntes, tanto a de mudança de atitude quanto a mudança de comportamento, porque, publicidade, atitude e comportamento interagem no tempo. E cada categoria de produto de consumo tem uma forma própria, e um tempo próprio, de fazer interagir esses elementos.
Para que a comunicação seja eficiente é obvio que precise de
elementos essenciais. Segundo Ribeiro et al. (1989) uma mensagem publicitária
pode ser avaliada de dois ângulos: como “mensagem”, isto é, como informação que
precisa chegar ao seu destino e ser recebida, e como publicitária, ou seja como
meio que visa provocar efeitos persuasivos.
Como condições de comunicabilidade, a propaganda deve,
estruturalmente, causar impacto, ser atrativa e ter uma durabilidade, tempo que
pode ficar veiculada uma propaganda sem tornar-se cansativa.
Já, quanto ao conteúdo persuasivo da comunicação, três
elementos são indispensáveis, segundo Ribeiro et al. (1989): clareza
(entendimento dos significados desejados); relevância (envolvimento e
identificação pessoal com o conteúdo) e credibilidade (aceitação do conteúdo
persuasivo).
As duas condições, as de qualidade estruturais e as de
qualidade de conteúdo agem conjuntamente, são inseparáveis porque a comunicação
funciona como totalidade. Não se pode atribuir maior ou menor responsabilidade
a uma ou a outra qualidade de comunicação, pois todas são condições
indispensáveis ao seu funcionamento.
Tratando-se de comunicação publicitária, não se pode
subestimar, em hipótese alguma o consumidor. O consumidor não é uma mente vazia
que passivamente registra idéias e aprende lições que o anunciante quis
transmitir. Ele interpreta mensagens recebidas de acordo com seus valores
culturais, linguagem, escolaridade, experiências, condições sócio-econômicos,
físicas e emocionais. O consumidor faz relações e associações conforme sua
vontade, desdobra e enriquece significados de acordo com a sua imaginação,
portanto, a mensagem publicitária se reorganiza aos olhos do consumidor e os
efeitos de uma comunicação podem inesperados. Surpreendentemente bons ou ruins,
como assinalam Ribeiro et al. (1989).
2.3
Estratégia
O sucesso do esforço do profissional de marketing supõe que
a comunicação se ajuste ao objetivo pretendido. É o primeiro passo nessa
direção, é a definição de uma estratégia de comunicação bem refletida e
fundamentada num cuidadoso conhecimento do consumidor, do mercado e da
categoria do produto.
Segundo Ribeiro et al. (1989), como não há uma fórmula
universal para propagar um produto com cem por cento de eficiência, é sempre
indispensável estudar cada caso particular, para decidir a melhor forma de
atingir o consumidor através da comunicação. É preciso que cada caso seja
especialmente planejado, porque a situação de cada marca, cada produto, em
determinado momento de sua história no mercado, é sempre um conjunto
absolutamente singular de problemas e oportunidades. Uma situação para qual é
necessário procurar a melhor solução de comunicação. Assim, a estratégia da
comunicação começa por um diagnóstico da situação do produto a ser lançado no
mercado, a partir de toda a informação básica sobre a categoria do produto, a
concorrência, o consumidor. Aí, então, define-se os objetivos da comunicação.
Outra definição importante e necessária é a do chamado
público-alvo da comunicação. Para fins, de comunicação é preciso uma definição
de consumidor a quem a mensagem será dirigida. Falar com ele supõe conhecê-lo.
Não só nas suas características demográficas (sexo, classe social, idade,
localização geográfica) e nas motivações e hábitos que determinam o uso do
produto em questão, mas também, e sobre tudo, no seu tipo psicológico,
linguagem, valores e estilo de vida, destacam Ribeiro et al. (1989).
Além da definição dos objetivos e do perfil do consumidor
alvo, a estratégia de comunicação compreende também a definição de um conceito
de comunicação. Uma espécie de posicionamento publicitário que estabelece todo
o conteúdo da mensagem que deverá ser transmitida ao consumidor. Esta é outra
decisão estratégica importante: definir o que deve ser comunicado, para que os
objetivos estabelecidos sejam atingidos.
Em resumo: definidos os itens para que comunicar
(objetivos); a quem comunicar (público-alvo); o que comunicar (conceito) e
através de que canais, estará definida a estratégia de comunicação. O item
subsequente, ou seja, o como comunicar, já nos coloca dentro de uma escolha
estratégica de um campo legal ou pode levar
a um mecanismo politicamente incorretos de divulgar o produto, como é o
caso do golpe publicitário.
GOLPE PUBLICITÁRIO
Num tempo em que o público receptor de mensagens
publicitárias encontra-se cercado por um volume tão grande de publicidade,
proveniente das mais diferentes fontes e que a intenção do produtor é a de
sensibilizar o cliente, despertando-lhe necessidade e desejo, com o intuito de
se alcançar um objetivo de mercado previamente determinado, constata-se a
existência do golpe publicitário como uma alternativa de estratégia de
marketing e comunicação. Esta forma diferenciada de vender uma idéia visa fazer
com que a mensagem que partiu do emissor seja decodificada pelo receptor,
fazendo-o assumir uma atitude de desacomodação ou pelo menos de curiosidade
frente à informação recebida.
Existem revistas de circulação massiva que se constituem
quase que exclusivamente de anúncios, são veículos de publicidade que deixam o
leitor saturado com tanta informação sobre produtos e/ou serviços, mas o fato
questionável é que, na grande maioria das vezes, não são revistas que o leitor
compra só para ler propagandas. São revistas, direcionadas a públicos
específicos, adquiridas para leituras informativas ou de lazer que saem
editadas dessa forma. Não se pode negar que muitas dessas propagandas são fruto
de muita criatividade, chamando atenção pela estética, pela estrutura do texto
e gancho criativo, mas o excessivo número de anunciantes faz com que o leitor
veja a publicidade com certo receio, diminuindo desta maneira o seu impacto.
Por outro lado, emissoras de televisão destinam horários
prolongados para que publicidade seja veiculada, colocando a venda através de
seus programas produtos e/ou serviços, sempre tentando fisgar o consumidor.
Jornais aumentam sua tiragem e seu volume de páginas em
decorrência do aumento do seu número de anunciantes. As ruas estão cercadas de
mídia extensiva, poluindo o ambiente e acarretando em enorme quantidade de
informações para os receptores.
Não foram abordadas até aqui neste texto todas as mídias
existentes, o que se pretende afirmar é que formas convencionais de divulgação
de um produto e/ou serviço são utilizadas por muitos anunciantes que derramam
sobre os públicos desses meios grande quantidade de informação de caráter
comercial. Isto leva as agências de publicidade a investir cada vez mais na
qualidade de seus trabalhos, que serão veiculados nestas mídias mais utilizadas
e a procurar novas formas de comunicar, adequadas aos seus clientes, para
utilizar a novidade como meio de impacto e diferencial competitivo.
E é em meio a essa gama de informações, esse mar de
mensagens, que para favorecer a área mercadológica algo diferente precisa
constantemente ser pensado pelos profissionais da publicidade, a fim de que a
sua criação seja tão especial que desperte o público para determinada ação
publicitária pelo impacto causado na recepção da mensagem, como a utilização do
golpe publicitário, para o produto certo e num momento adequado, por exemplo.
Esse é o privilégio daquele que é perspicaz e criativo e que
faz de uma estratégia comunicacional o despertar de interesses e necessidades
para um assunto que passar a ser o centro de atenções, num primeiro momento, do
receptor mais curioso, questionador, critico e depois a idéia é habilmente
socializada com público em geral.
Segundo Koogan (1979, p. 416), golpe significa “o ato ou
efeito de golpear. Choque que resulta do movimento com que um corpo atinge
outro”. Com habilidade, capacidade ou artimanha a palavra golpe é utilizada em
várias expressões, como: golpe de mestre, golpe de misericórdia, golpe baixo,
golpe de judô, golpe de estado e a palavra publicitário, ainda com base no
autor supra citado, significa algo que diz respeito à prática publicitária.
O golpe publicitário pode ser conceituado como a divulgação,
através de uma ou mais mídias, de uma mensagem, com intuito comercial, falsa.
Essa “mentira”, sendo impactante, pode tornar-se conhecida pelo público,
podendo causar comentários e até mesmo polêmicas, gerando lembrança, positiva
ou não e, talvez, fazendo despertar interesse para determinado produto e/ou
serviço.
Têm-se histórias para contar de golpes publicitários,
colocados em situações oportunas e que se constituíram em explosões de idéias e
emoções ao atingirem o publico, outras porém, nem tanto.
O golpe publicitário tem essa característica de
imprevisibilidade, que pode marcar positivamente o momento de sua apresentação
ou não, mas dele sempre fica a ousadia que perpassa a mensagem que se quer
comunicar, por isso pode é considerado arrojado, poucos casos são registrados
de sua utilização, e este é um dos fatores de sua força.
O que chama a atenção nesse assunto é a escassa bibliografia
sobre uma abordagem tão especial. Poucos são os registros encontrados,
precisou-se pesquisar a Internet para encontrar produtos que lançaram mão dessa
estratégia para ressaltar suas imagens, entre tantos que concorrem disputando o
mercado, valendo-se da criatividade.
Sobre criatividade, pronunciou-se Ladeira (1987, p.30):
“Criatividade não deve ser vista com risco e
sim impulsionadora da comunicação. Criar é descobrir uma forma não comum de
transmitir a realidade mais comum(...) O mercado é competitivo e precisa de
potencial criativo como força geradora de reação estimulante em todas as
áreas(...) A agência pode ter recursos tecnológicos e técnicos, clientes,
atendimento, capacidade de conseguir boas verbas dos anunciantes, mas se sua
criação não der resultados ela corre o risco de fechar suas portas.”
Ainda, sobre o assunto, afirmou a mesma autora, que é
importante diferenciar e inovar, o novo chama a atenção e que as descobertas e
as mudanças são valores chaves na comunicação publicitária.
Um trabalho que vise estudar o golpe publicitário e
verificar sua utilização como mais uma forma diferenciada de divulgar um
produto e/ou serviço, seguindo a um planejamento de campanha e poder ser
utilizado para resolver o problema constatado do anunciante, certamente vai
reunir um maior conhecimento dos fenômenos que envolvem a publicidade e
propaganda.
O golpe publicitário provoca impacto, no consumidor, pela
sua pouca exploração, pela sua ousadia e pela sua criatividade. Exemplos disso
são encontrados em registros significativos em meio de comunicação, tais como
revistas e Internet.
Segundo Calazans (1991), a percepção do receptor da mensagem
é seletiva de acordo com seu interesse, as demais informações caem no
inconsciente, dessa maneira o público enxerga o que quer enxergar, ou o que
está pré disposto a ver pela sua formação cultural e ambiente em que vive, o
autor define esse efeito como percepção sensorial. Dessa forma, se o anúncio
publicitário não for composto por elementos impactantes, que chamem a atenção
ou contenham elementos fielmente ligados ao contexto do receptor, a publicidade
pode não atingir os seus objetivos, pois consegue levar a mensagem até o seu
público alvo definido pelo planejamento de campanha, mas não vai garantir um
nível de lembrança satisfatório.
Para Petit (1991), o grande inimigo do processo criativo é a
timidez, a falta de ousadia, o despreparo ou a covardia, atributos que
desabonam o profissional da publicidade. O criador também não deve pensar em
sempre criar algo novo, dando uma nova apresentação a algo que já existe pode
ser considerado uma grande conquista. Para isso não é permitido ao publicitário
ter receio de inusitadas idéias, sempre registrar tudo que se pensa, as idéias
que surgem para uma campanha, discuti-las, elaborá-las e se forem convenientes,
de acordo com a interpretação do responsável pela criação, utilizá-las. Para o
autor a função da propaganda é achar idéias novas que chamem a atenção do
consumidor e induzam ao consumo.
Contrapondo Petit (1991), Athayde (1997) afirma que os seres
humanos têm receio do que é novo, que não suporta, novidades e mudanças, que o
diferente e o inesperado não interessam ao público. Para Athayde (1997) o
consumidor tem uma grande habilidade para não prestar atenção naquilo que não
lhe interessa, deve-se procurar agregar características adequadas ao público
das campanhas e que permitam que a mensagem entrem na mente do consumidor, para
isso é necessário conhecer o que motiva o determinado público em questão.
Percebe-se que o golpe publicitário geralmente causa grande
repercussão. As pessoas comentam, não como publicidade, mas como algo que está
acontecendo chega a ser divulgado nos veículos de comunicação como notícia, não
sendo associado a divulgação empresarial, pois é algo diferente e que atrai o
interesse do público.
O boato é uma mais poderosa armas de propaganda e contra
propaganda, no sentido de difundir uma idéia. Segundo Calazans (1991) é criada
uma guerra psicológica que se baseia na informalidade, no comentário. O boato
espalha-se rapidamente pelo interesse que desperta nas pessoas, e quando associado
a uma marca associa-se a ela como o slogan , mesmo tendo bem maior quantidade
de texto, podem torna-se agregados pela lembrança do boato ligado a determinada
instituição.
O publicitário deve pensar que tudo pode ser feito, pensar
em como fazer suas ações acontecerem. Muitos são os obstáculos em seu caminho
como colegas de trabalho que afirmam que a atitude não vai dar certo, que já
tentaram aquilo, que a competição vai derrubá-lo...sem procurar pensar o
processo e verificar as reais potencialidades de cada idéia. Conforme Tompson
& Lyons (1996) essas são denominadas frases assassinas, que sufocam o
surgimento de um novo pensamento e atrapalham o processo que tem de ser ousado,
inovador, como deve ser o perfil do publicitário. Os autores também abordam a
preocupação da agência e do anunciante sobre o que as pessoas vão dizer e
afirma que deve-se responder com mais sentido a essa pergunta, ressaltando o
que as pessoas vão, ouvir, sentir quando objetivo final da mensagem for
entendido. Levando sempre em consideração o público a que se destina a mensagem.
Deve-se ter em mente o que se deseja obter com a
publicidade, produzir uma ação imediata, produzir uma reação dentro de um
espaço de poucos dias, a preferência do público pela marca e o nome do
anunciante, evitar uma reação específica, sem jamais esquecer de prestar
atenção no público alvo e no tamanho do orçamento. Pensar o processo e aplicar
a estratégia de marketing num momento oportuno, levando em conta as condições e
o propósito que devem ser destacados. Cabral (1991) ressalta que a campanha não
é uma soma de anúncios ligados ao mesmo tema, a multiplicidade de peças
publicitárias não é fundamental, mas a difusão da mensagem com objetivo
específico, claro de alcançar determinadas metas.
Segundo Benn (1995), o anunciante deveria ter sua verba
destinada à comunicação potencializada e utilizada da melhor forma possível
para reverter em soluções de seus problemas, apontados pela agência no
planejamento de campanha de uma forma que essa retornasse como um real
resultado. Nem sempre os maiores anúncios, várias vezes veiculados nas mais
caras mídias, são os mais eficazes, mas são os mais lucrativos para a agência
que deveria preocupar-se primordialmente em aplicar os princípios da
publicidade para solucionar o problema de seu cliente. Muylaert (1993) também
aborda essa questão e afirma que muitos empresários não analisam a sua
comunicação empresarial, mesmo que seus negócios dependam dela e, que deveria
dar graças a Deus, por terem uma concorrência tão acirrada, pois dessa maneira
estão sempre pensando os processos que os envolvam e tem condições de projetar
evoluções e inovações.
Cabral (1991) ressalta a importância dos pré-testes. Uma
campanha corresponde ao briefing, que
é uma interpretação do pensamento do cliente, da gerência de Marketing e da
agência, tentando revolver os problemas que foram discutidos. Deve-se tentar
prever como cada campanha será decodificada pelo público, para isto existem os
pré-testes, montar um laboratório experimental com um fragmento do mercado,
observar e discutir a campanha das reações do presente. Para isso são
necessárias técnicas especiais, podendo-se utilizar de psicólogos e sociólogos,
além de selecionar criteriosamente as pessoas que auxiliarão no trabalho, para
que se consiga uma amostragem confiável da realidade.
A transmissão da Rádio Columbia Broadecasting por Orson
Welles e seu grupo Mercury Theater, em 1938, é um exemplo histórico que pode
ser comparado à utilização do golpe publicitário. Sobre o assunto, o artigo
Orson Weller (2001) traz detalhes: na ocasião, o referido cenarista anunciou a
invasão de seres extraterrestre, nas proximidades da cidade de Newnark,
deixando as pessoas apavoradas a ponto de saírem histéricas, pelas ruas, em
busca de abrigos para protegerem-se dos visitantes de outros planetas. Em
várias outras cidades pessoas se jogaram de janelas e se suicidaram, não
querendo esperar a morte iminente, em decorrência da queda de um meteoro de
grandes dimensões que trouxera invasores hostis. Todo esse quadro de pavor, que
foi construído com a invasão dos marcianos, tinha a única intenção de realizar
uma transmissão diferente: uma adaptação da obra. A obra dos mundos de
A.G.Wells, provocando grande impacto nos ouvintes para chamar atenção dos
leitores. O site www.ssilva777.hpg.com.br/ufo/historia.htm,
também abordou este assunto.
Outro caso registrado no rol de golpes publicitários é o
encontrado no artigo Maior Mistério (2001). Nesta página, constam aspectos da
história de Agatha Christie e de Archihald Christie, seu marido, que no início
foi grande incentivador da escritora, mas que com o seu crescente sucesso
começou a buscar distrações fora de casa até conhecer a jovem Tesse Neele.
Quando a Rainha do Crime a par do romance de seu marido caiu em desespero,
ocorreu o que talvez seja seu maior mistério. Seu carro foi encontrado com as
portas abertas à beira de um lago. Muitas hipóteses surgiram sobre o
desaparecimento da escritora: rapto, assassinato ou suicídio. Nunca ficou claro
se, realmente, esse desaparecimento numa época tão conturbada e noticiada foi
um golpe publicitário, ou atitude de desespero da escritora. Um tempo depois
Agatha Christie foi encontrada em um hotel e as razões do seu desaparecimento
foram ocultadas. O que se sabe é que o seu desaparecimento chamou a atenção,
sendo alvo de intensos comentários, como de que ele fora proposital, visando
divulgar um desses livros que iria ser lançado.
Tal como o caso Christie a notícia sobre o “seguro para
vegetarianos”, no Reino Unido, chamou a atenção de significativa parcela da
população. No início parecia ser um golpe publicitário a informação de que os
vegetarianos teriam 25% de descontos em duas apólices em determinadas agências
de seguros, mas quatro milhões de vegetarianos tiveram o referido desconto em
suas apólices. Esse assunto esteve em pauta por longe tempo, despertando sobre
maneira o interesse dos britânicos. (Lessa, 2001)
No artigo Pink Floyd Publis Enigma (2001),
sobre a banda de rock and roll progressivo
Pink Floyd, fala em enigmas e mitos que giram em torno do grupo. O fato chamou
tanta atenção do público que isso pareceu ser mais um golpe publicitário. Para
alguns fãs Publius é um nick (nome ou apelido que uma pessoa utiliza na rede) e
pode ser de um dos integrantes da banda. Na sua primeira aparição, Publios
entrou num chat virtual e afirmou ter alguns segredos para revelar sobre o Pink
Floyd. Nínguém acreditou, mas na mesma noite o seu nome apareceu rapidamente
escrito nos refletores da banda em uma parte do show Pulse. A partir deste dia,
muitos internautas interessaram-se pelo assunto e começaram a pesquisar os
enigmas do Pink Floyd, falavam de algo que havia no encarte do álbum Division
bell, mas nada foi encontrado pelo que se sabe até hoje. Outra curiosidade
sobre a banda está no mesmo site e revela que o álbum Dark side do Pink Floyd é
perfeitamente sincronizado, na letra, música e sons com o filme O Mágico de Oz,
e o álbum Meddle com o filme Fantasia. O autor do artigo virtual afirma que
nunca fez o teste, mas a lenda corre pela Internet e gera polêmicas e
comentários.
“Não que o Pink Floyd precise de um golpe publicitário para
vender discos, mas mitificações da banda sempre geram movimento.”
Mais recentemente,
foi constatado no artigo - Namorado de lingerie na web era golpe publicitário
(2001) -, através do artigo: Namorado de lingerie na web era golpe
publicitário, a vingança de uma mulher que havia sido traída pelo namorado e
sua melhor amiga. A mulher traída colocou as fotos dele na Internet, usando
lingerie vermelha. O site revela que na verdade “namorado de lingerie na Web
era golpe publicitário”, fruto de uma brincadeira da empresa OCP, que queria
promover o serviço de sua página de mensagens e fotografia. Um funcionário da
OCP afirmou que ficaram surpresos com as mais de cem mil visitações que haviam
recebido na página da empresa.
O comediante norte-americano Andy Kaufman é considerado “o
mestre em manipular platéias.” A forma com que se apresentava para o público
pode ser comparada ao golpe publicitário, ele não utilizava sua arte para
divulgação de um produto e/ou serviço, mas foi o que o tornou conhecido, amado
e odiado pelas situações criadas.
“Andy Kaufman conseguia provocar gargalhadas, silenciar
profundas lágrimas, raiva e até gritar. Ele se especializou em criar situações
tão reais que até seus amigos mais íntimos nunca estavam certos de onde estava
a verdade.” (O mundo de Andy, 2001)
Muitos não deram atenção à sua doença e morte achando que se
tratava de mais uma de suas armações. Kaufman morreu de câncer em 1984.
Um golpe publicitário, que até causa constrangimento ao
espectador, são as humilhações que os candidatos a famosos e decadentes
sujeitam-se para aparecer na televisão.
Disse Mick Jagger “desde que a sua foto esteja na primeira
página, não quer saber o que escreveram sobre ele na página 96.”
Essa prática é vivenciada na TV brasileira, no quadro do
“Telegrama Legal” do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) com a intenção
disfarçada de fazer uma brincadeira com o “artista”, testam-no em situações
difíceis, aparentemente sem o seu conhecimento, a fim de promovê-lo. Para
aparecer na mídia e tentar colocar seus nomes em evidência, os desconhecidos ou
decadentes sujeitam-se a esse tipo de violência, pois querem alcançar ou recuperar
a fama a qualquer preço. (Azevedo, 2001)
As especulações que circulam na Internet sobre o filme I.
A., Inteligência Artificial, causam curiosidade nos internautas. A estratégia
de marketing, utilizada na sua divulgação, tem se mostrado eficiente. Ao consultar
o site do filme você encontra disponível o serviço de terapeuta de máquinas
inteligentes, além de uma série de outros sites que estão ambientados no ano de
2142, época em que se passa o filme do diretor Steven Spilberg e reproduzem a
realidade de Inteligência Artificial. Tal como os criadores de a Bruxa de
Blair, os marqueteiros de Inteligência Artificial utilizaram-se da Internet
para divulgar e situar o internauta no contexto do filme. (Nome do artigo: A.
I. causa curiosidade em internautas, 2001)
A história do menino robo foi divulgada em mais de cinqüenta
sites com o intuito de emprestar realidade ao filme, reproduzindo na escala
hollywoodiana, o modelo bem sucedido de A Bruxa de Blair.
Nesse universo da publicidade, uma idéia aceita pelo
receptor da mensagem, seja pela Internet ou outro veículo de comunicação,
receptor esse, que se tem acesso a esses meios é por que possui uma massa
critica, capaz de situá-lo na realidade que possibilitou tal criação, está
garantindo o primeiro passo de sucesso da divulgação pretendida. Muitas vezes,
o receptor da mensagem é um formador de opinião e a repassa gerando interesse
de muitas outras pessoas. Outras vezes, é o próprio veículo de comunicação que
atinge as individualidades, mas de forma simultânea, multiplicando as
informação rapidamente. Em quaisquer que sejam as circunstâncias o fato é que o
sucesso de um texto publicitário é decorrência da criatividade de seu produtor.
Recorreu-se a Rogers (1970) para definir criatividade. Ele
começa falando sobre a escacasses de criatividade em nossa cultura.
Em educação, a tendência é formar indivíduos conformistas,
estereotipados em vez de pensadores livres, criadores e originais; na ciências,
há abundância de técnicos, mas o número daqueles que podem realmente formular
hipóteses e teorias fecundas é reduzido; na industria, a criação está reservada
ao pequeno estafe, pois para a maior parte dos indivíduos a vida fica
desprovida de qualquer esforço criador; na vida familiar e individual depara-se
com o mesmo quadro. Numa época em que o conhecimento construtivo e destrutivo
avança a passos gigantescos para uma era atômica fantástica, a adaptação
autenticamente criadora parece representar a única possibilidade que o homem
tem de se manter no mundo. Perante as descobertas e as invenções que se
sucedem, um povo passivo e tradicional não pode fazer face às múltiplas
questões e problemas. A menos que os povos sejam capazes de imaginar, de
construir e de rever de uma forma criadora as novas formas de estabelecer
relações com essas complexas mutações, as sombras irão crescendo. Grande será o
preço a ser pago pela ausência da criatividade.
3.1 O
processo criador
Quais as implicações do processo criador para a vida?
A criatividade, segundo Rogers (1970, p.301) tem sempre “a
marca do indivíduo sobre o produto, mas o produto não é o indivíduo, não é os
seus materiais, mas o resultado de sua relação.”
A definição desse autor, sobre o processo criador, é que se
trata de uma emergência na ação de um novo produto relacional, que provém da
natureza única do indivíduo, por um lado, e dos materiais, acontecimentos,
pessoas, ou circunstâncias da sua vida, por outro.
Esse psicólogo, ainda distingue “a boa” e “a má”
criatividade. Pode-se descobrir um meio de aliviar a dor enquanto inventa-se formas
e mais sutis de torturar os presos políticos. Ambas as ações parecem criadoras,
embora o seu valor social seja muito diferente. Galileu e Copérnico fizeram
descobertas que, na sua época, foram consideradas blasfemas e imorais, mas que
na contemporaneidade são tidas como fundamentais e construtivas.
“Uma outra forma de olhar para esse mesmo problema é notar
que, para ser historicamente considerado como representativo de criatividade, o
produto deve ser aceitável por um determinado grupo num dado momento.” (Rogers,
1970, p. 301)
A definição acima não objetiva distinguir o grau de
criatividade, em virtude de ser este um juízo de valor variável. A ação de uma
criança que inventa um novo jogo, Einstein formulando a teoria da relatividade,
a dona de casa que inventa um nova receia na cozinha, o publicitário que faz a
sua redação, todas essas formas são, segundo os termos da definição do autor,
criadoras.
3.2 A
motivação da criatividade
Disse Rogers (1970, p. 302) que a causa principal da
criatividade parece ser a mesma tendência da força curativa da psicoterapia “a
tendência do homem para se realizar a si próprio, para se tornar no que em si é
potencial.” Essa tendência existe em todos os indivíduos e está apenas a espera
das condições adequadas para se exprimir e se manifestar. É essa a tendência
que é a motivação primária da criatividade quando o organismo forma novas
relações com o ambiente num esforço para ser mais plenamente ele próprio.
A abertura à experiência, um centro interior de apreciação e
a capacidade de lidar com conceitos e elementos são as condições internas da
criatividade construtiva. Quando essas três condições estão reunidas pode
surgir uma criatividade construtiva.
O ato criador é o comportamento natural de um organismo que
tendência para se expandir quando aberto a todo o campo de sua experiência,
seja ela interior ou exterior e quando é livre para procurar de uma maneira
flexível todos os tipos de relações.
Uma experiência que acompanha a criatividade é o desejo de
comunicar.
Conclui o autor, que a justificativa que encontra para
formular a sua teoria sobre criatividade e que as suas razões para confiar em
que essa investigação possa ser levada a cabo, residem no atual desenvolvimento
das ciências fiscais que exigem imperativamente dos sujeitos, como individuais
e como cultura, um comportamento criador, uma adaptação a um mundo novo se o
desejo for pela sobrevivência.
Nesse contexto, é preciso que se fixe o olhar na relação
aqui expressos sobre processo criador e golpe publicitário.
De certa forma, o golpe publicitário é uma inverdade, ele
tem de ser usado com cuidado, porque não serve para qualquer produto e para
qualquer situação e que pelo fato de ser pouco usado, ele ainda é um
diferencial que atrai a tenção do público, dando muitas vezes ao produto ou
idéia a ser divulgada, uma dimensão maior do que mereceria receber. Todavia,
não se pode negar que o golpe publicitário é uma decorrência do processo
criador de seu autor, podendo atingir efeitos tais que respondem aos objetivos do
planejamento de campanha.
A diferença entre os termos eficiência e eficácia comporta,
nessa situação, se for considerado que os consumidores que compram os produtos
divulgados é por que a publicidade foi eficiente, atingindo seu objetivo. O
golpe publicitário, por sua vez, é um eficaz instrumento de comunicação, que
além de atingir o objetivo pretendido ultrapassa as expectativas nele
depositadas.
A
estratégia do filme A Bruxa de Blair
Na guerra da competitividade do mercado toda a iniciativa é
válida para atingir os objetivos desejados. O responsável pela criação deve
analisar o produto com suas características, o mercado, a concorrência, a
época, o público alvo e verificar se a estratégia adotada é adequada e tem
potencial para gerar bons resultados.
As pessoas encarregadas da produção publicitária apresentam
diferentes formas de apelos para o consumidor, visando a sua aceitação no
mercado. Muitas propagandas comunicam, são belas, inteligentes e lúdicas,
correspondem às finalidades para quais foram criadas. Outras, porém, nem tanto.
E neste contexto, de tantas informações e produções, que é encontrado o golpe
publicitário, como mais uma alternativa comunicacional impactante para se
alcançar um objetivo pré-estabelecido, num planejamento de campanha.
Entende-se que o golpe publicitário pode gerar efeitos
estrondosos, positivos ou não. Por isso é preciso muito cuidado, todas as fases
do processo precisam ser pensadas e repensadas para que a estratégia criada não
crie uma má situação para o anunciante.
Não se deve generalizar os fatos do mundo, para a
publicidade vale a mesma regra, cada caso é um caso e deve ser estudado
separadamente. Cada produto é único, tem sua identidade, suas características,
cada momento pode ser diferente do outro, por isso o que deu certo para um
produto e/ou serviço, pode não dar para outro de iguais características. Muitas
vezes, o sucesso de uma campanha de marketing pode estar baseada no
pioneirismo, no ineditismo que fazem, de uma forma impactante ou não, que o
anunciantes se destaque dos demais que anunciam basicamente de uma mesma forma.
O campo da publicidade é marcado pela criatividade, ela deve
ser livre para fluir e conseguir gerar resultados, a propaganda utiliza-se de
suas forças, ela deve ser a norteadora do trabalho revelando novas formas ou
maneiras mais eficazes de se chegar ao público determinado e atingir os
objetivos de marketing, satisfazendo as necessidades do anunciante.
A Bruxa de Blair inovou na sua estratégia de comunicação.
Adotou como forma de divulgação a aplicação de um golpe publicitário, via
Internet, trazendo para benefícios para o filme, pois o que estava condenado a
ser apenas mais uma produção do cinema independente de baixo custo, foi um dos
filmes destacados no ano de 1999, nas grandes salas de cinema americanas e
mundiais.
“Eu não analisei o filme como se fosse uma
grande obra de Steven Spilberg, ou uma grande atuação de Al Pacino, ou até
mesmo o último filme de Kubrick. Eu procurei analisar a Bruxa de Blair
simplesmente como um filme de terror. E nisso ele ganha muito. As cenas são
psicologicamente assustadoras. (...) inovou na cara, no jeito de contar uma
história na idéia de que os atores só tinham noção de uma parte do script,
inovou pelo golpe publicitário e a maior prova disso é a renda, cento e setenta
milhões no mundo até agora e que continua crescendo.” (Antonietti, Anexo C,
2001)
Ainda:
“Em outubro de 1994, três estudantes de cinema
desapareceram em uma floresta próxima a cidade de Burkittsville, estado de
Maryland (EUA), enquanto rodavam um documentário sobre a suposta existência de
uma bruxa no local.
Depois de quase oito meses de buscas
frustradas, o caso é encerrado, sem que os garotos fossem encontrados. E quando
o desaparecimento completa um ano, algumas fitas são achadas contendo imagens
recolhidas pelos três colegas durante sua estadia na floresta (...) é montado
um filme que leva o nome “The Blair Witch Project”, assinado por Daniel Murick
e Eduardo Sanches. Com um mistério como esse por trás da produção, o filme
independente se tornou o mais bem sucedido da história do cinema. Ótimo se não
fosse por um detalhe. É tudo mentira. Os três protagonistas (Heather Donahue,
Michael William e Joshua Leonard) não são colegas de faculdade de cinema.
Também não existe nenhuma bruxa, nem desaparecimento, nem a cidade de Blair,
nem nada disso. “The Blair Witch Project” é, isso sim, uma sacada de dois
americanos que deu muito certo.” (Mena, 2001)
Em relação ao assunto, Mena (2001) lembra que a primeira
exibição do filme foi no Festival de cinema de Sundance, onde a distribuidora
cinematográfica ARTISAN pagou cerca de um milhão de dólares aos diretores de A
Bruxa de Blair pelos direitos do filme. A quantia paga, na época, foi
considerada uma extravagância pois ninguém acreditava que o filme tivesse
potencialidade para dar certo. Mas, embalado por uma diferenciada campanha
publicitária, o filme faturou apenas na primeira semana de exibição nos cinemas
quarenta e oito milhões de dólares, comprovando o potencial da estratégia
adotada. Conforme o autor, o sucesso foi tão grande, que algumas companhias
importantes do cinema americano atrasaram o lançamento de alguns filmes com
receio do grande impacto que A Bruxa de Blair havia causado.
“No projeto Blair Witch o menos importante é o filme (...) o
filme é só uma forma de fazer dinheiro (...) por que a verdadeira inovação está
na forma como foi montada a sua máquina de marketing.” (Mena, 2001)
Ainda, sobre o assunto, o autor afirma que os resultados
alcançados pelo filme devem envergonhar os maiores estúdios de Hollywod,
aqueles que teriam recusado o projeto se tivessem tido a oportunidade de o
realizarem.
Plasse (2001, Anexo B) conta que o filme começou passando
apenas em vinte e sete salas americanas, que estavam sempre lotadas. Após serem
publicadas críticas de que era assustador na revista Time, no jornal Washington
Post e ser comentado que pessoas passaram mal na estréia, sendo que uma mulher
saiu abalada no meio da sessão, o filme tornou-se mais procurado e virou
sucesso, passando a ser exibido em oitocentas salas no EUA. Plasse (2001, Anexo
B) compara o impacto de A Bruxa de Blair com o broadcast de guerra dos mundos,
transmissão radiofônica de Orson Welles, sobre a invasão do planeta por
alienígenas que assustou a população americana que não sabia que aquele
programa de rádio era ficção. Uma notícia que não era verdade.
Na entrevista com Sanches (2001, Anexo B), o diretor afirma
que toda a lenda da bruxa e o clima de mistério foi inventado pela
distribuidora Artisan que concentrou os esforços publicitários na Internet, o
site www.blairwitch.com foi acessado
por mais de trinta milhões de internautas.
A Bruxa de Blair causou tamanha repercussão que não faturou
apenas com o filme mas também levou outras pessoas a lucrarem com ele. A cidade
norte americana de Burkittsville tornou-se atração turística, as lojas vendiam
artefatos baseados no filme, como camisetas, bonecos feito com ramos de árvores
imitando figuras humanas, monte de pedras entre outros. (Trago, 2001)
O filme Inteligência Artificial adotou uma estratégia
semelhante a do filme a Bruxa de Blair, utilizando a Internet como meio de
divulgação, com cerca de cinqüenta sites, que são ambientados no ano de 2142,
ano em que se passa o filme, com a intenção de divulgar informação sobre o
filme e criar expectativa nos internautas. The Center Of The World (filme ainda
sem nome em português) criou uma página simulando a entrada em uma boate
erótica, leva a pessoa a navegar pelo lugar, assistir a shows de strip tease,
conversar com as dançarinas nuas da casa, num jogo sensual que revela detalhes
da personalidade dos personagens do filme, isso sem revelar que é o site
oficial de uma produção cinematográfica. (Câmara, 2001)
Bitelo (Anexo C) fala de um documentário sobre a Bruxa
de Blair que passou no GNT, segundo ele, mais explicativo e melhor que o
próprio filme.
“O divertido é que o Sci-fi Channel rodou um documentário,
chamado Curse of the Blair Witch, com entrevistas de historiadores e bruxas
falsificadas. O mito saiu de nosso controle” (Plasse apud Sanches, Anexo C).
Em fevereiro de 2001 estreou, em vídeo no Brasil, o filme A
Bruxa de Blair 2: O livro das sombras, sobre jovens que fascinados pelo
desaparecimento de estudantes no passado, resolvem ir atrás da solução do
mistério. A Artisan entertainment, proprietária dos direitos do filme, investiu
quinze milhões de dólares na continuação, que foi lançada durante a comemoração
do Dia das Bruxas nos EUA. O filme não conseguiu repetir o sucesso do primeiro,
levando aos cinemas aproximadamente a metade do público que assistiu A Buxa de
Blair. (A Bruxa de Blair: O livro das sombras, 2001)
A sátira A Bruxa de Blair: a paródia e cenas, citando o
filme nas comédias Histeria e Todo Mundo em Pânico, comprovam que o filme teve
significativa importância no contexto do cinema americano, podendo ser lembrado
nestes outros filmes pois foi um dos lançamentos marcantes do ano de 1999.
Mena (2001) dá a informação de que, juntamente com o filme,
foram lançados nos EUA num livro com detalhes das buscas pelos desaparecidos
chamado “The Blair Witch Project (o projeto a Bruxa de Blair): O Dossie e um CD
com as músicas que estavam numa fita K-7 encontrada no carro de Joshua, um dos
três estudantes que desapareceu, o CD recebeu o título de “Josh’s Blair Witch
Mix” (Mix Bruxa de Blair de Josh). Esses produtos seguem a linha de divulgação
do golpe publicitário, mesmo a verdade já ter sido revelada, alegando que toda
a história realmente aconteceu.
A cidade americana de Burkttisville tem pouco mais de
duzentos habitantes que também foram enganados pelo marketing de A Bruxa de
Blair. Moradores ligavam para a polícia dando pistas sobre os três estudantes
de cinema desaparecidos, ou queriam informações sobre se o rapto de crianças
era verdadeiro. Muitos fãs começaram a visitar a cidade, mas não tiveram como
visitar a floresta de Back Hills, cenário do filme onde os personagens se
perdem, pois ela não existe. “As cenas foram feitas longe de Burkittsville, em
parques estaduasis americanos, àreas de preservação sem o menor vestígio da
afamada bruxa.” (Sadovski, 1999, p.39)
4.1
Internet
“Blair Witch foi tão
bem sucedido assim devido, em grande parte, a uma estratégia de marketing
baseada em uma mídia ainda subestimada: A Internet. Foi construído um site
oficial o http://www.blairwitch.com.br
(Anexo A), que contém absolutamente tudo sobre o filme. Todas as “mentirinhas
comprovadas aqui e ali com entrevistas feitas com parentes dos desaparecidos e
policiais. Fotos e informações sobre os preparativos de Heather, Mike e joshua
para a aventura. Trechos captados pelas próprias lentes do trio e ainda a lenda
da bruxa. Tudo é contado como se fosse absolutamente verdadeiro, e o site foi
muito acessado, antes mesmo de o filme ser lançado.” (Mena, 2001)
Com crescimento da Internet, o mundo dos negócios está
sofrendo um grande impacto, causador de tamanhas mudanças que a maioria ainda
não consegue perceber. Para o autor Rosa (1998) todas as áreas comercias
sentirão os efeitos da utilização da rede mundial de computadores,
consequentemente todos devem valorizar esse fato e começar a refletir sobre
como tirar proveito da Internet para sua empresa.
No artigo: A oitava arte (2001) é frisado que a situação
partiu de uma bruxa e do potencial da Internet para gerar dinheiro aos estúdios
de cinema. O texto reafirma que A Bruxa de Blair faturou mais de cento e
quarenta milhões de dólares, tudo porque foi divulgado na Web que a bruxa e
suas vítimas poderiam de fato ter existido. Conforme o autor, assim nasceu o
web marketing, fenômeno da mídia que com este filme atinge o máximo de sua
capacidade de chamar a atenção e, principalmente, dinheiro.
Na Internet, segundo Vassos (1997), o marketing deve ser
abordado de uma forma diferente, ele não é direcionado para o mercado e a
massa. Na rede as ações devem ser dirigidas para os indivíduos, com desejos,
aspirações e base cultural únicos. O mundo on
line não deve ser considerado um meio de vendas, mas de comunicação,
educação e suporte. O responsável pelas estratégias a serem adotadas deve
conhecer esse aspecto e basear-se nele para construir a sua forma de chegar as
suas audiências que, segundo o autor, são grupos de indivíduos focados no seu
esforço de marketing na Internet. O objetivo de um site deve ser o de construir
relacionamento com o público atingido.
Em seu livro - Marketing estratégico na Internet -, Vassos
(1997) afirma que a Internet serve para aumentar o conhecimento sobre a empresa
e marca de um produto, estimulando o interesse e o desejo, visando levar o
internauta a uma ação específica.
A Internet nada mais é do que um canal aberto de informações
do mundo, comercialmente a empresa pode desenvolver um folheto institucional on line para seus clientes e clientes em
potencial, permanentemente disponível aos internautas, com possibilidade de
atualizações e adequações. Estes dados, que estão à disposição na rede, podem
ser oferecidos com baixo custo e alta qualidade, podendo ser um instrumento
gerador de interesses e esclarecimentos sobre a empresa A Internet nada mais é
do que um canal aberto de informações do mundo, comercialmente a empresa pode
desenvolver um folheto institucional on
line para seus clientes e clientes em potencial, permanentemente disponível
aos internautas, com possibilidade de atualizações e adequações. Estes dados,
que estão à disposição na rede, podem ser oferecidos com baixo custo e alta
qualidade, podendo ser um instrumento gerador de interesses e esclarecimentos
sobre a empresa. (Rosa, 1998, p.19)
A Internet é um meio de comunicacional que tem sua
potencialidade baseada na informalidade, é criada uma relação mais intima,
quase interpessoal entre o meio e o receptor da comunicação e a mídia.
São poucas as pessoas que gostam de publicidade na rede, a
divulgação comercial on line deve ser
feita de uma forma diferenciada e adaptada ao meio. É importante lembrar,
conforme o autor, que seu site não será visitado apenas por existir, existem
muitas opções, são milhões de páginas. Deve ser oferecida uma boa razão para
que o internauta escolha o seu site como, por exemplo, oferecer informação e
entretenimento.
Vassos (1997) afirma que presentear o internauta com uma
amostra do produto pode criar um elo de ligação entre rede e cliente em
potencial. A oferta gratuita evidencia capacidade, garantia e qualidade do que
se está oferecendo, faz com que a pessoa prove e escolha conscientemente se
deseja ou não adquirir o produto. Essa estratégia visa construir relacionamento
com possíveis consumidores.
Essa pode ter sido a estratégia adotada pelo filme A Bruxa
de Blair que ofereceu informações sobre a lenda da feiticeira de Burkittisville
e dados dessa produção cinematográfica. De certa forma, ofereceu uma amostra da
obra, podendo criar expectativa e levar a ação de atrair o receptor da mensagem
ao cinema.
A oferta, feita através da Internet, deve estar focalizada
no usuário de computador, esse mercado-alvo deve ser identificado e alcançado
facilmente através da rede. A força da rede reside na sua capacidade de chegar
a alguns segmentos de mercado bem específicos, visando a atingir objetivos
desejados. O universo on line permite
que se desperte o estímulo, o interesse e o desejo, podendo ser credenciados a
Internet essas funções. (Vassos, 1997)
O site de a Bruxa de Blair ofereceu histórias e uma trama
com sentido de perigo e exclusividade a um segmento de público, interessado em
cinema e ficção. No começo, a página recebia cerca de duas mil visitações dias,
no dia da estréia a página foi acessada, aproximadamente, cento e dez mil vezes.
A idéia de criar o site, apostando e concentrando os
investimentos na Internet, partiu da distribuidora Artisan. Segundo Eduardo
Sanches, um dos diretores do filme, em entrevista disponível no Anexo B, a
página americana foi acessada mais de trinta milhões de vezes.
“Como marqueteiros os diretores e roteirista – se não forem
os autores de uma obra só – podem ter algum sucesso real. Lamentável!” (Galvão,
Anexo C)
Ainda sobre o assunto, disse Vassos (1997) que do ponto de
vista estratégico, deve-se analisar a situação e determinar como a Internet
pode gerar maiores resultados. Pode-se fazer o seguinte questionamento sobre o
potencial da estratégia que se deseja aplicar via Web: Quais processos podem
ser aprimorados através da Internet? Como a concorrência usa a rede? Qual a sua
competência central e como você pode tirar proveito da Internet? Se a
estratégia for bem sucedida, dará uma real vantagem competitiva a sua empresa?
É importante frisar que o projeto A Bruxa de Blair vem a
afirmar o Intenet como um meio alternativo e independente de divulgação de
determinados produtos para públicos específicos, sem necessariamente precisar
estar associado a outra mídias para atingir os objetivos comunicacionais pré
estabelecidos. (Trago, 2001)
“O filme é mais um enorme golpe de marketing da terra do
Tio Sam. E que ganha dinheiro e fama as nossas custas.” (Tscherksas, Anexo C)
A estratégia é o que salva o filme para TT (Anexo C). Se os
diretores contassem a história da bruxa encontrada no site, ao invés dos
desaparecimentos, o enredo ficaria mais divertido e melhor. Critica o final do
filme que é rápido e confuso, não permitindo um total entendimento para o que
seria a maior dúvida de quem acompanhou a campanha publicitária e a trama do
filme, saber a final, o que aconteceu com os três estudantes de cinema. “A
melhor parte do filme é o site e a mais desnecessária é o próprio filme.”
O site de A Bruxa de Blair, ao contar a lenda da feiticeira,
aumenta o conhecimento do público que acessou a página e, de certa forma, a
tornou mais viva, mais intima, para o público a personagem título do filme, a
floresta, supostamente assombrada, de Burkittisville e os jovens que lá
desapareceram.
A página na web de a Bruxa de Blair é basicamente uma
fundamentação ao enredo da trama, ela introduz o filme criando um clima de
suspense e mistério.
“E se os diretores não tinham nada a dizer, algo que
discordo, eles tinham a mostrar. E mostraram muito bem. O medo puro e
extremo.” (Mestriner, Anexo C)
Se você pedir para uma pessoa ir passar uma noite numa casa
desconhecida, essa pessoa pode ir lá e possivelmente ter uma boa noite de sono.
Agora, se para esta mesma pessoa contarem histórias sobre paranormalidades e
assombrações que cercam a história da casa, provavelmente a noite de sono deste
indivíduo não fosse tão tranqüila assim. Não que algo pudesse acontecer, mas as
informações sobre o lugar poderiam criar expectativas na mente de quem escutou
a história, levando-o a enfrentar a situação com determinado receio, sugerido
por estar impressionado com os mistérios que cercam a tal casa, imaginando que
ali sua vida pode correr risco.
Essa é a função da página de A Bruxa de Blair, intencional
ou não, ao contar a lenda da bruxa, que não é encontrada no filme, estimula as
emoções dos internautas que acessaram o site, criando um clima de expectativa
para o filme.
Sobre o medo, assim se pronunciou Souza (1995, p.11-12)
“O medo sempre integrou a sociedade humana,
está ligado a história do homem que sempre sentiu medo, é uma reação útil a sua
defesa e sobrevivência. Nenhum animal o sente como o homem, que é o único ser
vivo que antecipa sua morte, sabe desde sua infância que vai morrerá. O medo é
determinado pela cultura e é resultado da aprendizagem social. É gerado no
hipotálamo, mas é errado afirmar que tem razões biológicas, o autor cita
Brandão (1991) que afirma que as bases psicológicas do comportamento são
respostas do organismo a estímulos exteriores. O homem elabora e interpreta
representações sociais, a química é desencadeada quando se defronta com situações
que interprete como risco ou perigo, que são traduzidas como medo.”
Também sobre o assunto Souza (1995) sugere que o medo é uma
experiência que varia culturalmente de um para outro, é resultado da faculdade
de imaginar. O autor aborda muitos medos difundidos, tais como temer os deuses,
aos demônios, aos chefes de estado e autoridades, aos pais, aos mortos, a força
da natureza, entre outros, são em primeiro lugar ligados aos temores de
castigos, sanções sociais, de dor e sobre tudo que coloca a vida em risco.
Stephens King (1993, p. 09-15), romancista e escritor de
livros de ficção e terror, no artigo “Mito, crença e fé”, que introduz um de
seus livros, aborda a questão do medo, comparada à sua criatividade e ao
sucesso de seus livros.
“Quando eu era garoto, acreditava em tudo que
me diziam, em tudo que lia e em todas as mensagens recebidas de minha própria
imaginação extremamente fértil. Isso me causou muitas noites sem dormir, mas
também encheu o mundo em que vivia de cores e texturas que eu não trocaria por
toda uma existência de noites tranqüilas (...). Acho que o mito e a imaginação,
são, de fato, conceitos intercambiáveis e que a crença é a fonte de ambos. Meu
trabalho continua sendo uma questão de, primeiro ver o impossível...e depois
traduzi-lo em palavras. Continua sendo fazer com que você acredite no que eu
acredito, pelo menos por um tempo (...) continuo vendo as histórias como uma
coisa importante, algo que não só realça a vida, mas na verdade a salva. Nem
estou falando metaforicamente. O que é bem escrito, as boas histórias, são o
precursor da imaginação e, creio eu, a finalidade da imaginação é nos
proporcionar consolo e proteção em situações e passagens da vida que, de outro
modo, seriam insuportáveis. Acredito que há um mundo invisível que nos cerca
por completo.”
Randazzo (1996), em seu livro - A Criação de Mitos na
Publicidade - cita Festinger (1957) em seu conceito de dissonância cognitiva,
que visa explicar como o homem pensa e aprende, o seu funcionamento cognitivo.
Se uma informação esta adequada aos valores e crenças de determinada pessoa,
esta em consonância com sua estrutura cognitiva, esses dados serão mais
facilmente assimilados por ela.
“Basicamente a identidade da marca define a
marca. Desenvolver uma apropriada identidade da marca é a chave para
desenvolver marcas bem sucedidas. É o que transforma uma coisa (o produto) numa
entidade perceptual com sua personalidade específica e seu inventario
perceptual imagético, sentimentos e associações. A identidade da marca cria uma
presença mais forte na mente do consumidor e ajuda a diferenciar das demais.
Uma identidade de marca sedutora e apropriada humaniza e personifica o produto,
o que por sua vez facilita a criação de um vinculo emocional do consumidor com
a marca em questão.” (Randazzo, 1996, p.45)
Também, pode-se dizer que:
“As pessoas necessitam de fantasias mas também
querem consumir um pouco de realidade. Estamos na era do adeus às ilusões. Cada
um com seus motivos e cada um na sua área, estão refletindo os anseios que todos
nós temos pela verdade, pela aceitação do antagonismo que caracteriza a vida
(...) Abrir o jogo (às vezes) é só uma estratégia de marketing, mas simpatizo
com ela. Quando um refrigerante anuncia imagem não é nada, sede é tudo”, está
tentando atrair consumidores com a verdade, e mesmo que não consiga competir de
igual para igual com o líder de mercado, está atraindo para si uma coisa cada
vez mais rara neste mundo: credibilidade. (...) A Bruxa de Blair tem atraído
multidões aos cinemas porque disseram que o terror dos atores era real. Sites
na internet que mostram pessoas comuns dentro de casa são cada vez mais
acessados. Por que o sofrimento dá Mais audiência que a felicidade? Porque é
autêntico: dificilmente alguém fabrica um sofrimento. A verdade dói, e agora
vende.” (Lima, 2001)
4.2
Mitologia
Uma marca deve estar além do produto físico, sendo somente o
que é palpável e visível. Deve ser construída um entidade perceptual na mente
do consumidor, com aspectos que existam no campo psicológico, na mente do
público que entra em contato com a comunicação do anunciante. Quando se
consegue atribuir essas características a um produto, ele pode passar a ser
superior e não terá de procurar fregueses, pois os clientes virão procurá-lo.
Cria-se uma mitologia sobre a marca, envolvendo e associando a ela crenças,
experiências e sentimentos. O produto torna-se dinâmico e maleável no espaço do
imaginário. (Randazzo, 1996)
E prossegue o autor supra citado afirmando que:
“Uma marca existe num espaço psicológico, na
mente do consumidor. É uma entidade perceptual, com conteúdo psíquico que é
maleável e dinâmico. A publicidade é o meio que nos permite ter acesso a mente
do consumidor, criar um inventário perceptual de imagens, símbolos e sensações
que passam a definir a entidade perceptual que chamamos de marca. Dentro desse
espaço perceptual da marca podemos criar sedutores mundos e personagens míticos
que, graças a publicidade, ficam associados ao nosso produto e que finalmente
passam a definir a nossa marca.” (Randazzo, 1996, p.27).
Trago (2001) afirma que:
“O site, que ainda hoje pode ser consultado em
www.blairwitch.com , alimentou durante meses a curiosidade de uma comunidade
cibernética sedenta de história e tramas bem condimentadas com uma dose de
perigo e sentido de exclusividade. É que
ao contrario dos restantes meios de comunicação social a internet da uma ilusão
de exclusividade a utilizador, que permite que o interesse seja quase
escondido, secreto, o que faz crescer e muito o mito.”
A publicidade determina a imagem do usuário do produto, a
personalidade de uma marca é formada pelas características do produto como se
ele fosse uma pessoa. Os consumidores não enxergam apenas os itens de consumo,
determinam a eles identidades, com personalidade própria. Este aspecto auxilia
na diferenciação entre uma marca e outra, através da percepção, provavelmente
subliminar, que somente existe abaixo do nível da consciência, no
subconsciente, e possível se distinguir uma marca através de sua identidade.
(Randazzo, 1996)
Ainda, sobre o assunto valemo-nos de Randazzo (1996, p.
40-41): “A criação entre do vinculo emocional entre o consumidor e marca
destingue a marca das demais, favorece uma presença mais marcante na mente do
consumidor, e ajuda a estabelecer a fidelidade à marca.”
Martins cita Ogilvy (1999 p. 21) que alega que as marcas são
percebidas com traços de personalidade e o consumidor associa identidade a
essas marcas. “O trunfo das marcas bem sucedidas é associar a essência do
produto a emoção que existe no imaginário coletivo.”
O posicionamento que se deseja é que a marca represente no
mercado e mente do consumidor, é um conceito mercadológico e básico no
desenvolvimento do marketing de um anunciante. A publicidade cria e comunica ao
público a mitologia da marca, seguindo o posicionamento adotado, determinado
pelo anunciante que deve ter objetivos específicos para essa opção.
A esse respeito, têm-se que:
“Marca é uma entidade perceptual que existe num
espaço psicológico na mente do consumidor.” Deve agregar como valor ao produto
um posicionamento perceptual que garanta benefícios emocionais e psicológicos,
transmitidos pela publicidade que cria uma mitologia associada ao produto. A
propaganda cria e comunica a mitologia estabelecendo um posicionamento, que é o
que direciona alinha da publicidade, na mente do consumidor. Forma-se uma
conexão entre mitologia, publicidade e marca.” (Randazzo, 1996, p.47)
E prossegue Randazzo (1996, p. 51), afirmando que:
“A maioria das marcas de sucesso tem em geral
um posicionamento e uma mitologia de marca que vão além do produto físico. Elas
procuram combinar os atributos/benefícios físicos do produto com benefícios
emocionais/psicológicos.” “a publicidade aproveita o poder do mito e dos
símbolos para construir e manter marcas de sucesso durador.”
O reino da mitologia é abordado por Randazzo (1996) que
explica que o inconsciente movimenta esse universo mitológico, formado pelo
poder da imaginação e do simbolismo de arquétipos universais. Ainda, este autor
fundamenta-se nas concepções de Carl Jung, um pesquisador do inconsciente, com
a sua força de fascinar e coagir.
“A mitologia abrange qualquer coisa que de alguma forma
mitifica ou enfeita a realidade.” (Randazzo citando Barthes, 1996, p. 57). Para
ele o mito é uma forma de discurso, uma maneira de maquiar a realidade e,
conforme este autor, tudo é mitologia. Citando Immanuel Kant, segue o texto com
o seguinte preceito:
"KANT não acreditava que a mente não
absorve o conhecimento de forma ativa. De onde se conclui que todo o conhecimento
é interpretativo.” A mitologia do artista e do profissional da publicidade e
propaganda por exemplo, visa mais do que alterar ou enfeitar a realidade, dá
uma visão da alma e ajuda a moldar a vida das pessoas.” (Randazzo, apud Kant, 1996, p. 57
Ainda sobre o assunto Randazzo cita Heisig (1996), que
defende que na mitologização são incluídas todas as formas de ficção narrativa
simbólica, as representações humanas vistas sobre a perspectiva da alma.
“A publicidade é um tipo de comunicação em
forma de história, uma ficção narrativa que, além de transmitir informações
acerca do produto, procura refletir os valores, o estilo de vida, e a
sensibilidade do consumidor-alvo e/ou da cultura. Assim sendo, a publicidade
trata amiúde de assuntos da alma.” (Randazzo, 1996, p.59)
As antigas mitologias são, na essência, explicações em
formas de histórias. No tempo contemporâneo as pessoas substituíram as
mitologias pela ciência e tecnologia, não compreendendo mais o seu valor e
importância. Randazzo (1996), citando novamente Jung, afirma que o mito trata
do indivíduo com maior precisão e lhe é mais fiel.
“Antes de mais nada e principalmente, os mitos
são fenômenos psíquicos que revelam a natureza da alma.” Jung desenvolveu o
conceito de inconsciente coletivo, de fundamental importância para a
publicidade que pode utilizar-se dos arquétipos universais por exemplo para
seduzir a determinado público.” (Randazzo
apud Jung, 1996, p.6)
A mente inconsciente é revelada na mitologia, que apesar de
aparentemente simples, oculta a profundidade da psique humana, para o
irracional e para o intuitivo. É aberto um canal de criatividade e descobertas,
numa inspiração que vem do inconsciente. Assim defende Randazzo (1996, p.63)
citando Campbell: “A história parece assumir vida própria, e pode nos levar a
lugares que nuca teríamos imaginado de antemão.”
O eu, a realidade são apresentados na consciência, a
inconsciência é apresentada nos sonhos, com o uso de drogas e em condições
míticas. Essa inconsciência pode controlar o comportamento humano, afirma
Randazzo citando Freud (1996).
O contato direto com o mundo inconsciente pode levar uma
pessoa a descobrir que existe todo um universo de arquétipos escondidos na
complexidade de sua mente humana e, que eles podem surgir em algum momento e
interferir na realidade, o que pode ser perturbador por colocar em cheque o
total controle que o eu exerce sobre o seu universo. Na inconsciência se
escondem os temores e os sonhos, além, dela ser uma força impulsionadora da
criatividade. (Randazzo, 1996)
“Não há só jóias escondidas nesta caverna, mas
também perigosas entidades do bem e do mal (...)E são também diabolicamente
fascinantes, pois tem as chaves de todo e qualquer desejo, ou temida, aventura
em busca de conhecimento sobre nós mesmos... Quer dizer, a fascinação, a
promessa e o terror desses perturbadores visitantes noturnos formam o reino
mitológico que está dentro de nós.” (Randazzo apud Campbell, 1996, p.77)
Dentro deste contexto, o criador deve buscar em seu
inconsciente a inspiração, traduzir os símbolos de sua mente interior para a
realidade, beneficiando-se de sua mitologia. A alma primitiva e instinta, assim
pode ser definida a psique inconsciente, que é a fonte da mitologia, que rompe
o elo intelectual e científico de uma pessoa, apresentando-a uma percepção de
mundo mais intima, pessoal, com imagens e padrões universais do comportamento
humano. “A publicidade das megamarcas não vende apenas produtos, ela cria um
vínculo emocional entre marca e consumidor.” (Randazzo, 1996, p. 78)
A publicidade, nesta época contemporânea, é um dos
principais fatores da criação da mitologia, para fascinar o trabalho
publicitário pode criar personagens que reflitam os sonhos, medos e fantasias
do público a que será destinada à comunicação, com o objetivo de exercer
influência, persuasão e levá-lo a determinada atitude, pré determinada pelo
planejamento de campanha.
A Bruxa de Blair traz à tona o mito da bruxa, um arquétipo
universal, sobre os mistérios que cercam as feiticeiras, com o medo, gera
interesse e desperta o imaginário. A campanha de divulgação do filme também
criou um mito em cima do desaparecimento dos estudantes de cinema, expondo ao
público um sentimento de aventura, de emoção que disfarça e enfeita a
realidade.
A Bruxa de Blair divide opiniões sobre a qualidade do filme
- uns gostaram, outros não- e sobre a forma de divulgação - que para uma parte
das público vale pela criatividade e outros não a aceitam pelo fato de ter
partido de uma mentira, além de ter de acessar o site para conhecer toda a
história e compreender o todo do enredo da trama.
Sobre o medo, também pronunciou-se Rodney (Anexo C) “No meu
entender o terror é relativo, ás vezes o que causa medo em mim não é o que
causa medo em você. Achei um terror diferente e original.”
Ainda sobre o assunto:
“Depois de ler trezentas reportagens sobre o
filme (todas elogiosas e deslumbrantes – não devem ter assistido ao filme),
visitar o site e ficar com uma enorme expectativa, fui ver o filme (...) o que
consegui, após ver o filme, foi ficar com uma raiva da mídia norte americana e
principalmente da brasileira. (Schneider, Anexo C)
Finalmente, pode-se dizer que o grau de realismo é o ponto
mais forte do filme sem dúvidas:
“(...) Também tenho de confessar que não morri
de sustos, mas fiquei bastante envolvido, principalmente mais para o final,
naquele clima sufocante do filme. E se você não morreu de sustos, talvez
devesse ser um pouco mais humilde e olhar para o lado, para os adolescentes da
sala, que afinal são o público alvo do filme e não você; e ver que eles estavam
apavorados com aquele universo muito bem criado pelo filme.” (Caleiro, Anexo C)
A Bruxa de Blair é um marco do cinema e o filme,
independente, melhor sucedido da história. O golpe publicitário, utilizado como
estratégia de divulgação, foi o fator determinante de seu êxito. A campanha
publicitária foi realizada de maneira adequada, para o produto certo,
explorando de maneira eficaz a mídia Internet, tornando essa produção
cinematográfica de baixo custo, um dos filmes mais rentáveis, na relação
investimento e lucro, de todos os tempos.
Conclusão
Neste estudo, cuja a proposta era partir da discussão
acerca do filme - A Bruxa de Blair -, apresentando-o como produto de uma
diferenciada campanha publicitária, para tratar do tema “golpe publicitário”,
foi possível seguir um percurso que manteve o nível de interesse sobre o
assunto, seguindo a uma linha de trabalho.
Além de tomar conhecimentos sobre o filme em si, sobre as
circunstâncias em que ele foi produzido e, sobre a estrutura de seu
planejamento de campanha publicitária, foi permitido refletir que apostar no
marketing com estratégia e criatividade, de uma maneira adequada às
potencialidades do anunciante, do momento e do público que se deseja atingir,
pode favorecer a empresa, pessoa ou instituição na ação de busca pelo seu lugar
no mercado.
Os enfoques estratégia e criatividade são abordados, neste
estudo, pela relação com o golpe publicitário do filme A Bruxa de Blair, tendo
em vista que ele é decorrente do processo criador e pode se converter em ponte
para o lucro do anunciante.
Embora uma das estratégias para chamar a atenção do público
seja a mentira, o golpe publicitário continua sendo um ousado veículo, que visa
conduzir interesses sobre o produto que se pretende anunciar, sendo a sua
repercussão decisiva para o alcance dos objetivos propostos.
O golpe publicitário é um assunto atual. Após o golpe
publicitário de A bruxa de Blair são constatadas pelo menos duas campanhas de
divulgação de produções cinematográficas que seguem a linha do filme, utilizam
a estratégia, que foi bem sucedida ao criar a falsa realidade via Internet,
para tentar passar a atmosfera do enredo da obra e estimular o interesse dos
internautas. O golpe publicitário está presente na época contemporânea e visa cumprir
a sua função que é a de causar impacto e anunciar um produto.
No caso do produção cinematográfica, tratada neste estudo,
percebeu-se que um trabalho simples, com temática que aborda crenças em
contraste com o tempo moderno e seus avanços tecnológicos, são constatados que
milhões de internautas buscaram, achando que era verdade ou ficção, acompanhar
informações no site de A Bruxa de Blair, de um filme de terror, sobre o que
aconteceu, o enredo da trama e a lenda da Bruxa de Burkittsville que é encontrada
nesta página da Internet.
A grande idéia dos distribuidores foi a associação do site
com o filme, um complementando o outro, a introdução, criando expectativas,
oferecendo informações, vendendo a ficção como realidade aos internautas e o
desfecho da trama, com o desaparecimento dos estudantes em 1994, que pode ser
conferido na página da Internet www.blairwitch.com
e no falso documentário que é A Bruxa de Blair, que já rendeu, segundo Sadovski
(1999) mais de cento e cinqüenta milhões de dólares até o momento de seu
artigo, uma grande soma de dinheiro para um filme do cinema independente que
não teria potencialidade para tamanho sucesso se não fosse a estratégia do
golpe publicitário. Isso comprova que o golpe publicitário pode ser uma boa
alternativa estratégica quando aplicado para o produto certo no momento
oportuno.
É relevante ressaltar a importância de se levar em conta a
coleta de dados referentes ao trabalho publicitário, os objetivos da campanha e
a análise da situação para verificar se é pertinente ou não a aplicação do
golpe publicitário. O marketing, que envolve o campo da publicidade e
propaganda, é munido de ferramentas que permitem através de estratégias e
técnicas específicas, que somadas à capacidade e criatividade de seus mentores,
podem levar, de acordo com a qualidade do trabalho executado, o anunciante a
atingir o sua meta pré estabelecida numa campanha mercadológica.
O golpe publicitário, quando se apresenta criativamente, com
objetivo específico e num momento oportuno, encontra espaço para cumprir a sua
finalidade: trazer benefícios determinados pelo planejamento de campanha ao seu
anunciante.
A utilização do filme A Bruxa de Blair para tratar de golpe
publicitário, em verdade, foi pretexto para tocar num tema intrigante, atual e
pouco documentado. Outros exemplos de golpes publicitários e suas
características também são citados no trabalho, objetivando fornecer mais
informações para uma melhor compreensão do enfoque desta monografia.
O estudo realizado sobre o impacto do golpe publicitário
possibilita a continuação do trabalho abordando outros temas com significativa
importância no campo da comunicação e relacionados ao assunto como marketing na
internet, divulgação de produções cinematográficas e a questão ética do golpe
publicitário.
Neste contexto, convém salientar que não se está defendendo
o golpe publicitário como forma de divulgação de um produto, e sim, apontando-o
como mais uma alternativa de se chegar aos resultados esperados numa campanha
publicitária. O publicitário deve ter opções ao seu dispor e aplicá-las de
acordo com a necessidade e as possibilidades constadas em determinado momento,
devendo sempre estar pensando o processo de escolha sobre qual forma adotará
para divulgar um produto. O profissional da propaganda não deve criar um
circulo vicioso, previsível, utilizando sempre as mesmas mídias, de uma maneira
quase que padronizada, mudando somente a apresentação de suas peças de
divulgação, sendo que poderia atribuir melhores resultados aos seus clientes.
Parte da força do golpe publicitário reside no fato de sua
pouca utilização, hoje ele pode ser uma boa alternativa, amanhã pode não ser
por estar sendo muito explorado e perder o seu impacto perante o público. O que
se quer defender é que não deve pensar permanentemente no golpe publicitário
como mais uma estratégia de mercado, e sim, em investir na busca de formas
diferenciadas de divulgar produtos, podendo criar novas possibilidades e
associando a agência de publicidade uma postura inovadora, original e criativa.
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